Era alguma hora daquelas, bem depois da meia-noite e ainda muito antes das seis da manhã, em que a grande maioria de nós vagueia confortável pelas ondas do sono. Mas nem todos. Em uns poucos locais com luzes acesas e portas abertas para o atendimento 24 horas, agentes de saúde cumprem, neste período, uma dedicada jornada de trabalho, levando ao pé da letra a missão de cuidar do desconforto dos que se veem obrigados a passar a noite em claro por um motivo nada auspicioso, contrário a suas vontades.
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Estes profissionais, que subvertem a ordem do dia mantendo-se em vigília durante o mandato da Lua e das estrelas, surpreendem os pacientes com sua cortesia, algo que o mundo demanda em abundância e que a maioria de nós encontra cada vez menos. Principalmente no que nos acostumamos a chamar de horário comercial (aquele em que todos correm para dar conta de um número cada vez maior de atribuições em menos tempo e tudo o que ameaça a rapidez da execução é encarado com má vontade).
Qual seria a razão de tanta delicadeza nos gestos, nas palavras, nas ações, intenções e abordagens para quem se acostumou a trocar, literalmente, os dias pelas noites sem perder a humanidade e o senso de humor? Há certas situações (a delicadeza desta é um exemplo) em que mais vale admirar o entorno do que procurar entender as suas causas.
Uma jovem desorientada pelas angústias da adolescência é recebida com carinho por uma profissional que ainda mantém na lembrança a forma como experimentou os questionamentos de sua mais tenra idade.
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– Eu fui você ontem – diz a enfermeira, com carinho, procurando identificar-se com a paciente – e abrindo espaço para um interrogatório que, desta forma, mais se assemelha a um diálogo.
– Faz parte, mas saiba que superei minhas dúvidas e hoje estou aqui para cuidar dos outros.
Um pouco depois, outra profissional, mais madura, pergunta à paciente como prefere receber as cobertas: o lençol sobre o cobertor ou vice-versa? Espanto-me com uma questão que parece óbvia, mas a destinatária da pergunta opta justamente pelo oposto do que seria minha escolha. Ela prefere o cobertor em contato com a pele e o lençol por cima.
Estes pequenos gestos de respeito alheio podem parecer pouco. Mas não para quem os recebe. Porque a delicadeza é feita de detalhes.