O menino correu da porta do ônibus para dar um último beijo na mãe antes da partida. Já havia repetido este movimento outras duas vezes e agora o motorista estava a postos, com o motor ligado, esperando com certa impaciência pelo seu embarque.

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Aproveita – ela disse, com um sorriso discreto e um rápido chamego no cabelo do filho.

Ele conhecia a mãe o suficiente para saber que os gestos e as palavras ditas numa hora como esta não correspondiam sinceramente ao que ela gostaria de fazer. O fruto não cai longe do pé, e com ele não era diferente.

Podia apostar que a mãe daria tudo para que aquele fosse o momento de chegada, quando os dois iriam envolver-se num longo abraço antes de pegar a bagagem e sair de mãos dadas em direção ao carro, passando o resto da noite a falar das peripécias dos poucos dias que passaram distantes um do outro.

Na verdade, também era isto o que ele queria. Havia dias estava ansioso com a viagem de férias, mas naquele exato momento, vacilou, e se pudesse, teria voltado no tempo e deixado o programa para o ano seguinte. Nada parecia maior do que a lembrança da saudade que o aguardava logo ali, quando o ônibus cruzava o viaduto para pegar a BR-101 no sentido Sul.

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Pensou em voltar, mas o peso da responsabilidade foi mais forte. Já era um pré-adolescente que de alguma forma curtia suas primeiras experiências de liberdade. Além disso, tinha a obrigação de seguir o exemplo da mãe. E isso significava ter coragem para manter o combinado, segurar as lágrimas teimosas que ameaçavam escorrer pelos olhos e ir em frente.

– Aproveita – a mãe se ouviu dizer com pouca convicção, quando retribuía de forma discreta o beijo do menino.

Enquanto ele se afastava, ela repetia mentalmente um pouco do que haviam lhe ensinado sobre o futuro dos filhos, como parte de uma estratégia duvidosa de autoconvencimento.

Sim, os filhos precisam ganhar asas, porque são feitos para o mundo. Apesar do coração apertado, os pais devem estimulá-los a desenvolver a autonomia desde cedo. Nós, humanos, ainda somos privilegiados como a espécie que permanece por mais tempo junto da sua prole.

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– Aproveita – repetiu baixinho para si mesma, com um misto de alívio e conforto.

– Por enquanto, o seu filho está partindo apenas para uma viagem.