Todos os anos, um dos mais prestigiados dicionários do mundo, o Oxford, elege a palavra do ano, pela relevância de sua expressividade no período. No final de 2016, o vocábulo escolhido foi pós-verdade. De acordo com os estudiosos do Oxford, o termo (que aumentou 2.000% sua utilização no ano que passou) reflete situações coletivas em que os fatos objetivos são menos influentes em moldar a opinião pública do que os apelos emocionais e as crenças pessoais. O prefixo pós, neste caso, não se refere a um acontecimento posterior ao outro, mas sim à rejeição ou negação do primeiro conceito. Ou seja, significa que a verdade fica em segundo plano. Foi o que aconteceu, segundo analistas, na aprovação do Brexit (que não proporcionaria as vantagens prometidas por seus defensores) e na eleição de Donald Trump (que espalhou falsas notícias sobre sua opositora).

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O cientista político Francis Fukuyama (que cunhou o termo “fim da história” depois da queda do fascismo e do socialismo) prefere falar de um mundo pós-fato, em que fontes respeitadas de informação são constantemente questionadas e desafiadas por notícias falsas. Nestas situações, a verossimilhança e a evidência vêm em primeiro, satisfazendo crenças e desejos, produzindo consensos que se materializam em milhares de likes e compartilhamentos e são, por isso, tomados por verdade. A pós-verdade (ou o pós-fato), tão significativa em 2016, mantém-se em 2017 como tendência. Na prática, no Brasil, e de forma preventiva, na Alemanha.

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Por aqui, qualquer relação entre a pós-verdade e as teorias da conspiração que vimos nas redes sociais em relação ao acidente que vitimou o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, relator da Lava-jato, provavelmente não foi mera coincidência.

Na Alemanha, que realiza eleições em setembro, os parlamentares pretendem votar uma lei que imponha multa de 500 mil euros ao Facebook por publicações mentirosas. A rede social, por sua vez, promete solicitar a um órgão externo de checagem que analise o conteúdo de publicações suspeitas, identificando informações não comprovadas com um alerta de potencialmente falsas e impedindo-as de ganharem destaque por meio de algoritmos.

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Informação demais, relevância e apuração de menos. Eis um retrato da nossa época superconectada.