Separados no nascimento por uma diferença de 24 anos, dois irmãos guardaram uma semelhança que quando postos lado a lado, os identifica de prima: o dom de contar causos. Filhos do Barão de Munchausen, Alexandre e Romualdo foram criados por pais diferentes, em ambientes distantes.
Continua depois da publicidade
O resultado foi que cada um acabou ganhando a identidade de sua terra. Alexandre nasceu pelas mãos de Graciliano Ramos e se criou no Nordeste.
Romualdo vingou pela inventividade de João Simões Lopes Neto nos pampas gaúchos.
As histórias dos dois personagens contadores de causos, inspirados no barão alemão, foram reunidos pela primeira vez numa edição uruguaia que foi apresentada na última sexta no Instituto João Simões Lopes Neto.
O livro em espanhol é a primeira tradução de Romualdo para a língua hispânica. O personagem do autor gaúcho ganhou, desde o ano passado, um dia a sua dedicação.
Continua depois da publicidade
A data não poderia ser outra senão 1 ª de abril, dia do mentiroso.
Embora as primeiras histórias de Romualdo tenham sido publicadas no Correio Mercantil em 1914, João Luis Ourique, pesquisador da Universidade Federal de Pelotas que estudou as semelhanças entre os personagens, afirma que não há indícios que comprovem que Graciliano possa ter lido os contos para se inspirar nos seus publicados pela primeira vez em 1938.
– Sabe- se que os tropeiros gaúchos iam até São Paulo, mesmo local até onde chegavam os viajantes nordestinos, acredita- se assim que foi dessa forma que as histórias se espalharam de um canto a outro do Brasil – formula o pesquisador.
Basta colocar as duas obras lado a lado para identificar os causos parecidos como aquele que envolve uma onça encilhada como cavalo por ambos os personagens. Ou ainda do papagaio que pregava missa na mata.
– Como os dois autores recolheram contos de seus rincões e reformularam em livro, existe essa duplicação de alguns causos, cada um adaptado a cor local – explica Ourique.
Continua depois da publicidade
Embora contem com paridades, as narrativas têm uma diferença estrutural. Enquanto Romualdo é o personagem que conta os causos diretamente ao leitor, Alexandre conta com um rol de personagens ao ser redor que fazem os questionamentos que o leitor faria sobre suas mentiras.
Para o estudioso, a versão uruguaia deve ser valorizada porque é a primeira que reuniu os personagens numa única obra, trabalho que ainda não foi feito no Brasil.
– Essa tradução é importante, assim como a realização do Dia do Romualdo, porque embora não seja considerada a grande obra de Simões, é a que tem funcionado como porta de entrada para o mundo do autor para diversos leitores – expõe o presidente do Instituto, Henrique Pires.