Na última semana, Sílvio Dreveck (PP) completou metade de seu período de um ano como presidente da Assembleia Legislativa conseguindo praticamente zerar a pauta de projetos governistas. Mostrou que o perfil discreto também pode ser eficiente. Na tarde de quinta-feira, o pepista concedeu entrevista para falar sobre a experiência como presidente do parlamento, a expectativa de poucas pautas polêmicas no segundo semestre e sobre política. Nesse caso, defendeu que o PP aprenda com os erros de 2014 para sair do isolamento e construir desde já uma aliança com o PSD de Raimundo Colombo e o PSB de Paulo Bornhausen. Manda uma especíe de recado ao deputado federal Esperidião Amin, presidente estadual da sigla e sempre cotado para concorrer ao governo.
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— O Esperidião vai conduzir o partido de uma forma que todos possamos ser vencedores.
Leia a íntegra da entrevista.
Uma coisa que chamou atenção nesses seus primeiros meses à frente do parlamento foi a disposição de votar projetos há muito parados, alguns desde 2015 com regime de urgência e que o senhor ameaçou trazer a plenário sem relatórios. Houve pressão contra?
Quando assumimos, houve diversas indagações sobre quais projetos pretendia tocar. Eu disse que não adiantava pensar em mega-projetos, mas que era preciso dar respostas à sociedade catarinense. A primeira coisa era fazer andar os projetos que já estavam aqui na casa, especialmente os do Executivo. Por os de origem parlamentar cada deputado cuida do seu. O Executivo muitas vezes tem projetos importantes para a população e que ficam estacionados. Convidei todos os líderes de todas as bancadas e propus uma pauta positiva. Tínhamos 88 vetos e mais de 30 projetos do Executivo. O acordo foi de que a cada terça-feira e quarta-feira seriam deliberados cinco vetos. Em menos de 90 dias, liquidamos. Segundo passo, outra reunião. Tínhamos projetos em regime de urgência que já tinham estourado o tempo e que precisamos deliberar. Pautamos e um deles não andou (os projetos que regulamentavam as parcerias público-privadas). Não havia a convergência, mas conseguimos pautar.
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Mas teve que ameaçar levar a plenário sem relatório das comissões…
Não foi bem uma ameaça, mas disse “se não chegar em tal data, vai vir para o plenário”. E foi importante votar, porque mais cedo ou mais tarde o Estado vai precisar fazer concessões (parcerias público-privadas). O Estado não vai ter dinheiro para recuperar todas essas nossas rodovias. Pode pegar R$ 5 milhões emprestado agora, outros R$ 5 milhões depois, até acabarem as condições de pagamento. Tem que diminuir o tamanho do Estado e focar em segurança, saúde, educação.
O senhor acha correta a política do governador Raimundo Colombo (PSD) de buscar seguidos financiamentos para obras?
É uma alternativa para fazer alguns investimentos importantes para o Estado, não resta dúvida. A capacidade de pagamento e endividamento, o próprio governo precisa ter a consciência de que lá na frente terá que ser pago. Quero crer que a capacidade está chegando no limite com esse valor emprestado (a autorização dada pela Alesc para que o governo capte mais R$ 1,5 bilhão junto ao Banco do Brasil e ao BNDES). Lá na frente, algum governo vai ter que pagar.
O que o senhor acha que terá destaque na Assembleia em termos de projetos?
Por enquanto não há encaminhamento por parte do governo de apresentar projetos mais polêmicos. Deveremos ter projetos de rotina, sem maior impacto. Esse é meu pensamento, mas não se sabe o dia de amanhã. Quero crer que os mais polêmicos já passaram.
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Quando o senhor vai pautar a PEC que acaba com a aposentadoria dos ex-governadores?
Agora no segundo semestre eu vou pautar. Não posso precisar o dia. Só não votamos agora porque tínhamos uma pauta bastante extensa.
No campo político, parte do PP defende uma composição com o PSD de Gelson Merisio em 2018, enquanto parte defende candidatura própria. Como o senhor se enquadra?
Não tenho personalizado. Qual a tese que a grande maioria do partido defende? A aliança com o PSD e o PSB. Esse é o primeiro ponto. Merisio é o candidato do PSD, o PP poderá ter candidato, como o PSB pode ter candidato e até o PSDB, se vier, poderá ter candidato. Cada um está trabalhando. O Merisio trabalha para ser (candidato a governador) e é legítimo. Nós estamos trabalhando com esse enfoque e queremos dar uma sinalização mais concreta o mais breve possível, porque com isso fortalecemos esse projeto. Eu não concordo em irmos com uma candidatura no isolamento.
Como 2006, 2010…
Já perdemos quatro (risos). Em 2006 ainda foi uma eleição que não teria muito o que fazer (naquele ano o então governador Luiz Henrique, do PMDB, conseguiu trazer PSDB e PFL para apoiar sua reeleição). As de 2010 e 2014 foram muito ruins para nós. Porque em 2006 não nos apareceu opção, mas nessas duas tivemos chance.
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Com quem seria em 2010? O PT?
Com o PSD (refere-se ao DEM, que na época abrigava Raimundo Colombo e as principais lideranças do atual PSD). Estava bem adiantada essa conversa. Em 2014 não foi diferente. Estava tudo certo.
Era justamente sobre 2014 que eu queria falar. Havia uma intenção do PSD de que o PP integrasse a chapa, num processo capitaneado por Merisio e pelo então deputado Joares Ponticelli (PP). Essa construção foi feita e na hora de fechar, não aconteceu. O que o PP tem a aprender com 2014?
É um grande aprendizado. Nós fomos pra uma eleição e do dia para a noite, mudamos de lado (o partido acabou apoiando Paulo Bauer, do PSDB, indicando Ponticelli como vice). Nós não tínhamos participação direta no governo Colombo, mas estávamos apoiando. Parecido com hoje, mas agora participamos com o Valmir Comin na Secretaria da Assistência Social. Nós avançamos dessa vez. Em 2014, se tivéssemos finalizados juntos, nossa situação seria diferente. Teríamos mais deputados, maior participação no governo.
O senhor seria senador?
Talvez sim, talvez não (risos). Mas o fato é que se não fosse eu, poderia ser o Hugo Biehl, por exemplo.
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O PP foi intransigente quando Luiz Henrique (PMDB) vetou o nome de Ponticelli como candidato ao Senado e o partido não aceitou oferecer outro nome?
Ali foi uma questão muito pessoal em relação ao Luiz Henrique e ao próprio Joares. O LHS vetou e ele não aceitou veto. Aí a coisa não aconteceu e nós ficamos assistindo.
Esse episódio acabou fazendo o deputado federal Esperidião Amin retomar a força dentro do partido, depois de um período em que seu grupo estava minoritário.
Ele fez uma votação expressiva (foi o deputado mais votado em 2014). A liderança dele é inegável. Sempre foi uma liderança expressiva, tem o legado de ser um bom gestor, prefeito, governador, senador. O Esperidião tem essa experiência desses anos todos e vai conduzir o partido de uma forma que todos possamos ser vencedores. Um sozinho não ganha.
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Esse é o sentimento da base do PP? Apoiar um projeto?
Apoiar um projeto onde se unam forças políticas que tenham afinidade. Nós e o PSD tem a mesma origem, o DNA é o mesmo. E com o PSB é o mesmo.
Se o PMDB não fizer parte da aliança facilita?
Certamente que sim.
A ausência de Luiz Henrique também é um descomplicador?
Ali foi uma questão muito pontual do Luiz Henrique com o Joares. Hoje o cenário é outro, acho que mesmo com o Luiz Henrique não teria aquela dificuldade.
E o seu futuro político. Concorre à reeleição em 2018 ou almeja outro cargo?
É difícil dizer o que vai acontecer, mas eu estou trabalhando para um projeto à Câmara Federal. Estou no terceiro mandato. A própria região começa a pedir também, porque é importante ocupar esse espaço. Tenho experiência de vereador, prefeito, três vezes deputado estadual, acho que estou apto.