Nos anos 1940 e 50, Florianópolis foi “sacudida” por um pequeno grupo de jovens escritores e artistas que queriam renovação na cultura catarinense e espaço para suas produções. Eles formaram o Círculo de Arte Moderna, chamado de Grupo Sul. Alguns desses jovens seguiram carreira nessa área, como o escritor, jornalista, tradutor e professor João Paulo Silveira de Souza, membro da Academia Catarinense de Letras.

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Quando o Grupo Sul se formou, em 1947, Silveira de Souza tinha 14 anos e escrevia para o jornal do colégio. Desde pequeno, foi incentivado a ler clássicos da literatura. Uma vez por mês, o pai gastava parte do salário de funcionário público na compra de diversos livros e revistas para a família. Obras de Monteiro Lobato e Hans Christian Andersen marcaram a infância do escritor. Por volta dos 12 anos, foi apresentado às publicações de Machado de Assis, Eça de Queiroz, entre outros grandes escritores. Diariamente, ouvia o pai e as irmãs mais velhas, que se revezavam na leitura de contos, poemas e novelas.

Nos anos 1950, ele se juntou aos jovens do Grupo Sul, que publicava a revista cultural “Sul” (conhecida no país e no exterior), editava livros e promovia apresentações de teatro, cinema e artes plásticas. Em 1960, Silveira de Souza lançou o primeiro livro, “O Vigia e a Cidade”, com relatos sobre a solidão de indivíduos em meio à cidade, uma “fortaleza do concreto”. Esse tema é recorrente em obras do autor, como “Ecos do Porão”, recomendado para o vestibular da UFSC e Udesc. Nessa coletânea, personagens com perfis diversos compartilham sentimentos comuns em relação ao “mundinho” que vivem e também momentos do cotidiano reveladores de uma dimensão maior da existência.

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O escritor tem 13 livros publicados, além de resenhas, antologias, coletâneas dos trabalhos e traduções. Escreveu poesias e romances, mas predominam as crônicas e os contos, marcados por referências ao cenário de Florianópolis, onde nasceu e teve uma infância “de descobertas maravilhosas”, com quintais abertos, festas de rua e passeios ao ar livre, conforme destacava nas lembranças.

Silveira de Souza foi professor de matemática no Instituto Estadual de Educação e Escola Técnica Federal, coordenador na Fundação Catarinense de Cultura e diretor no Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Em entrevista à jornalista Raquel Wandelli para o site da UFSC, ao recordar das várias fases da sua vida, declarou:

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– Quando às vezes tento fazer uma retrospectiva da minha vida até o momento (2011), me dou conta que foi pontilhada de fases diversas e até mesmo contraditórias… Mas, banal ou não, houve algo em todas essas fases que me salvou de um mergulho na mediocridade absoluta: um interesse pela criação literária, que me acompanha desde a infância. Quanto aos meus relatos literários, os personagens em geral vivem nesse mundinho, sem heroísmos, sendo muitas vezes surpreendidos por (para eles) estranhas ocorrências que podem despertá-los para uma dimensão de suas vidas antes desconhecida.

Silveira de Souza faleceu em março deste ano, aos 87 anos.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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