A indignação é geral. Em um acidente automobilístico, morre o ator Paul Walker. Em pleno feriado do dia de Ação de Graças, ele era conduzido pelo seu amigo a uma feira beneficente, em prol das vítimas das Filipinas. Ironicamente o ator faleceu em daqueles carrões tão bem incorporados à cultura americana, que apregoa a velocidade como sinônimo de prosperidade. Isso depois de fazer sucesso com a penca de filmes da franquia Velozes e Furiosos.
Continua depois da publicidade
Coincidência ou não, em terras brasucas, o pai do eterno rebelde também se foi, mas em um dia anterior. João Araújo, pai de Cazuza, foi agradecer pessoalmente ao superior pela estadia por essas bandas. O patriarca de toda a geração transgressora deixa o exemplo de manter-se teso ao lado do filho a cada novo escândalo – e os respingos venenosos em relação à luta de Cazuza contra o preconceito e a Aids.
Soma-se mais uma fatalidade: em São Paulo, o auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina, teve 90% da estrutura destruída e várias obras de valor ainda inestimável perdidas. O bombeiro, ao se indagado pelos repórteres, os silenciou – sobrou somente um vazio lá dentro. E também se calou.
O fato é que morrem duas pessoas que nunca se conheceram (eu acho), que sequer sabiam da minha existência (disso eu tenho certeza) e em nada se correlacionam com o incêndio do Memorial. Três gerações distintas, três verdades igualmente diferentes. Quatro percepções, contando com a minha.
Tais fatalidades secam a garganta. É difícil encontrar alguma razão diante de tantos acasos amargos. Para remediar, logo outra bomba vai explodir e os holofotes já vão ser outros. Vão-se acumulando as dores e as perguntas de modo que outra ideia de vida e morte se acumula vagarosamente em cima dos móveis. Não há como prever, mas quando a tragédia chega perto de nós, parece que Deus não responde e novamente a gente emudece. Não tem o quê dizer: parece que sobra somente um vazio lá dentro.
Continua depois da publicidade