Maria foi até o posto de saúde perto de casa iniciar o pré-natal. A médica, ao fazer o exame, suspeitou de algumas pequenas feridas nos órgãos genitais da paciente e pediu para que fosse feito o teste de sorologias. O diagnóstico foi preciso: sífilis. Uma doença sexualmente transmissível muito antiga e da qual pouco se fala, mas que tem voltado a preocupar os profissionais da saúde, já que os casos vêm crescendo muito em praticamente todo o mundo. Aqui em Santa Catarina e no Brasil não tem sido diferente.

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A história da sífilis e famosos que ela já matou

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De acordo com os dados da Secretaria de Saúde, os casos cresceram 30% em 2014, com relação a 2013. Este ano os números seguem em alta (veja box). Maria foi tratada – esta é a boa notícia, a sífilis tem cura – e seu bebê nasceu saudável. O mais difícil foi convencer José, seu companheiro, a ir até o posto de saúde e fazer o teste, que também deu positivo. Ele fez o tratamento, que consiste basicamente na administração de injeções de penicilina (antibiótico), e agora garante que só faz sexo seguro, com o uso de preservativo.

Histórias como a de Maria e José se repetem todos os dias, mas nem sempre com finais felizes, por falta de prevenção e/ou realização de exames para detectar a sífilis ainda na sua fase primária. Por isso, o Novembro Azul – mês de conscientização para a saúde do homem – também vem sendo utilizado pelos médicos para alertar a população com relação às DSTs, especialmente a sífilis, devido ao alarmante aumento no número de pessoas infectadas nos últimos anos. A doença voltou a crescer porque a recomendação do uso de preservativos em todas as relações sexuais não vem sendo levada a sério por boa parcela da população.

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A gerente da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde de Florianópolis, Ana Cristina Vidor, explica que a sífilis é uma doença na maioria das vezes silenciosa. Por isto, muitas pessoas e em especial os homens podem portar a doença durante muitos anos sem saber. Entretanto, nas suas fases mais avançadas, a doença afeta vários órgãos, como o coração e o cérebro, por exemplo, podendo provocar doenças graves e até fatais.

– O número de casos em homens é maior que em mulheres. Entretanto, um fato chama a atenção: apenas 30% das pessoas que fazem exames para sífilis são homens, mesmo eles respondendo por 70% dos exames com resultado positivo para a doença – comenta a médica.

Este é um problema cultural. Os homens, de uma maneira geral, só entram em um consultório médico após muita insistência de suas mulheres e filhos. E é isso o que precisa mudar.

Mulheres grávidas exigem atenção especial

A sífilis é uma DST causada pela bactéria Treponema pallidum. A infecção da mulher grávida pode provocar má formação do feto e aborto. Quando nasce, o bebê com sífilis (doença congênita) apresenta graves sequelas que podem variar entre pneumonia, feridas no corpo, cegueira, problemas ósseos, surdez ou deficiência mental. Se as gestantes fizerem o diagnóstico em tempo apropriado e o tratamento correto, realizado com a administração de três doses de penicilina, as chances de infecção do bebê caem consideravelmente.

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Segundo Ana Cristina Vidor, que também é Médica de Família, pode-se dizer que a possibilidade de infecção é maior nos homens: de cada 100 homens que fizeram o exame no Laboratório Municipal de Florianópolis, 17 estavam com sífilis, enquanto que, para as mulheres, esta proporção estava em 4 para cada 100.

Todas as pessoas sexualmente ativas devem realizar o teste para diagnosticar a sífilis, independente de apresentarem sintomas. O teste rápido é um exame realizado a partir de uma gota de sangue, disponibilizado nas Unidades Básicas de Saúde, gratuito e sigiloso.

– Em menos de 30 minutos, o paciente tem o resultado e, se for o caso, pode iniciar o tratamento de forma imediata – informa o médico infectologista Filipe de Barros Perini, da Gerência de DSTs/Aids e Hepatites Virais da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive/SC).

O especialista ressalta que é importante solicitar o teste também ao parceiro da gestante, e incluí-lo no tratamento. Somente assim será possível reduzir a quantidade da bactéria circulando na cidade, no Estado e no país.

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A sífilis é transmitida principalmente nas relações sexuais sem proteção. A doença também pode ser transmitida de forma vertical ou congênita, ou seja, a partir da mãe contaminada para o bebê. Pode ser, ainda, transmitida na transfusão de sangue contaminado e pelo contato com lesões ativas de pele ou mucosas. Numa relação sexual, a chance de infecção da Treponema pallidum é de 60%”, explica Perini.