A transformação que o mundo dos vinhos sofreu nos últimos 20 anos é incrível e o consumidor de hoje tem acesso a uma profusão de rótulos maravilhosos de regiões em que poucos apostavam na virada do século, como a Sicília.
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A ilha sempre foi uma prodigiosa fonte vinícola, o que, em parte, era o problema, já que o resultado, em quantidades absurdas, era barato, ruim e fácil de ignorar: tintos pesados, brancos sem graça e vinhos doces que apesar dos nomes famosos (Marsala, Moscato di Pantelleria e Malvasia Delle Lipari) quase sempre decepcionavam.
E agora ela é uma das regiões mais empolgantes em termos de produção da bebida, principalmente em relação aos tintos, que deixaram de ser pesados para se tornarem frescos e cheios de vida. Os brancos também estão se destacando, principalmente aqueles feitos com a uva carricante do Monte Etna.
Como aconteceu essa explosão? Ela é resultado, em parte, de uma nova geração de vinicultores que adotou as uvas típicas da região em uma época em que muitas outras preferiram ignorar seu patrimônio e investir no apelo mundial de variações como chardonnay, merlot e cabernet sauvignon. O resultado é que os novos vinhos sicilianos imediatamente se destacaram como emblemas culturais distintos.
Talvez tão importante quanto esse detalhe tenha sido a mudança sutil que acontece nos Estados Unidos – ou a famosa oscilação do pêndulo – de vinhos pesados, robustos, para outros, mais leves e mais finos. Sob vários aspectos esse fenômeno ajudou os produtores sicilianos que se especializaram em tintos ágeis com acidez revigorante, principalmente aqueles feitos na região leste e no sudoeste, próximo à cidade de Vittoria.
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Os Etna Rossos, exemplares da primeira, são os mais badalados, feitos a partir da uva nerello mascalese, com uma “mãozinha” ocasional da nerello cappuccio – embora os da segunda tenham espírito semelhante, produzidos do blend da frappato e da nero d’Avola, em menor ou maior proporção.
Os três vinhos considerados melhores em recente degustação eram todos blends, combinando a força terrosa da nero d’Avola com o frescor floral da frappato: o número um da lista, o Sicilia Rosso 2009 da Lamoresca, é picante, terroso e estruturado, com um balanço agradável e muita vivacidade; o segundo, o SP68 2012 da Arianna Occhipinti é fresco, vivo e surpreendentemente complexo para um vinho que deve ser bebido jovem e o terceiro, o Pithos Rosso 2011, da COS, foi fermentado e envelhecido em ânforas de terracota e não em barris de aço inoxidável ou de carvalho, o que lhe deu uma fragrância maravilhosa, com um sabor inconfundível de umami.
Os três rótulos seguintes foram todos frappatos, com uma proporção mínima de outras uvas regionais na mistura, em certos casos. Todos deliciosos, embora mais simples que os blends. Em quarto lugar ficou o Vittoria Frappato 2012 da Valle Dell’Acate, floral, harmonioso e, a US$19, o melhor custo- benefício; em quinto, o Nerocapitano 2011 da Lamoresca, cheio de vida, delicado e equilibrado, seguido pelo frappato 2011 da Arianna Occhipinti, deliciosamente energético. Eu diria que esses quatro produtores são as estrelas da região e faria um sacrifício para procurar os vinhos que produzem.