O Dia Internacional da Mulher era para ser de festa em uma das principais cidades de Santa Catarina. É para esta sexta-feira que estava marcada em Lages, na Serra, a inauguração de um dos maiores shoppings do Estado. O evento ocorreria só alguns dias antes da abertura de outro empreendimento, menor, mas também imponente.

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Os dois eram bastante aguardados, uma vez que não apenas os 155 mil moradores de Lages, mas de toda a Serra Catarinense, nunca contaram com espaços tão grandes e modernos voltados ao comércio, ao lazer e ao entretenimento. Mas o que era expectativa, por enquanto é frustração.

Com investimentos de R$ 130 milhões, o Boulevard Lages Shopping começou a ser construído em janeiro de 2011 com uma Área Bruta Locável (ABL), que é o espaço efetivamente destinado às compras, ocupando 31 mil dos 80 mil metros quadrados de área construída.

O Boulevard abrigará 179 lojas, sendo 13 âncoras, e 20 quiosques, além de quatro salas de cinema, praça de alimentação com 900 lugares e estacionamento para mais de 1,6 mil veículos. O empreendimento está localizado na BR-282, na saída de Lages para o Litoral, próximo ao aeroporto, entre os bairros Bates e Guarujá.

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Desde o início, a inauguração foi agendada para o dia 8 de março de 2013. Ou seja, hoje. Mas isso está longe de acontecer, e o tão esperado corte da fita vai atrasar pelo menos um ano. Um dos sócios do Boulevard, o empresário Antonio Wiggers, admite que faltou dinheiro. Não existe, segundo ele, outro motivo para o atraso. O terreno é particular, os projetos e licenças ambientais têm aprovação e o empreendimento não depende do poder público.

Wiggers garante, porém, que as obras nunca estiveram paradas e estão em 30%. Até agora, já foram concluídas a terraplanagem e a fundação. A drenagem e os pilares estão quase prontos e, nos próximos dias, devem ser iniciadas a laje e a cobertura do prédio.

– A parte mais complicada da obra já passou. Já investimos R$ 25 milhões, e ninguém gasta tanto dinheiro em algo que não vai sair. As pessoas cobram o shopping como se fosse uma obra pública, mas é um investimento privado, e só sai quando o empreendedor tem a garantia do lucro. Queremos inaugurar o Boulevard daqui a um ano, entre março e maio de 2014.

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Ação judicial pode inviabilizar empreendimento

A poucos quilômetros do Boulevard, junto ao Centro Serra Convention Center e ao lado do Ginásio Jones Minosso, no Bairro Universitário, o Shopping Pátio Lages deveria ser inaugurado em abril.

Com investimentos de R$ 70 milhões, o projeto tem 38,2 mil metros quadrados de área construída, dos quais, 16,6 mil metros quadrados de Área Bruta Locável (ABL). O espaço prevê 130 lojas satélites, quatro âncoras, três mega lojas, 14 de fast food e dois restaurantes, além de quatro salas de cinema, uma praça de diversões, uma praça de eventos, uma praça de alimentação com 950 lugares e estacionamento para 1,1 mil veículos.

Mas assim como o concorrente, o Pátio vai atrasar, só que por prazo indeterminado e devido a um imbróglio judicial, e não por falta de dinheiro. Em junho de 2011, a Câmara de Vereadores de Lages aprovou e o então prefeito, Renato Nunes de Oliveira, sancionou uma lei que doava ao empreendimento um terreno de 15 mil metros quadrados do município, além dos 34,6 mil já doados em novembro de 2004 para o Centro Serra, um dos investidores do Pátio.

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Pela nova lei, as obras do shopping deveriam iniciar até 11 de setembro daquele ano, sob multa de R$ 100 mil por dia de atraso e a possibilidade de reversão do imóvel ao município em caso de desvio de finalidade.

Ocorre que, no fim de 2012, segundo o procurador-geral do município, Fabrício Reichert, a prefeitura instaurou um procedimento administrativo para conferir o cumprimento da lei e teria constatado que, mais de um ano depois, as obras sequer haviam começado. Assim, a administração municipal moveu uma ação para reversão do imóvel, e o processo tramita atualmente na Vara da Fazenda de Lages.

Sócios do Pátio, os empresários João Cesar Pellin e Valdir Luiz Della Giustina contestam os argumentos da prefeitura e garantem que as obras foram iniciadas no prazo previsto em lei. Os sócios dizem que já investiram cerca de R$ 2 milhões em terraplanagem, tapumes, canteiro de obras e impostos, e se forem impedidos de construir o shopping, querem ser indenizados.

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– É um projeto de seis anos no qual já colocamos muito dinheiro, e queremos executá-lo. Temos os investidores e dinheiro, temos tudo para o negócio sair. Depende só da prefeitura. Mas agora as obras estão paradas porque não podemos investir mais nada sem segurança jurídica, e nem podemos prever um novo prazo para a inauguração do nosso shopping.

Em Criciúma, expectativa fica por conta de vizinhos

Outra importante cidade de Santa Catarina que vive a expectativa de dois shoppings é Criciúma, no Sul. Ambos já foram anunciados e serão vizinhos na região da Próspera. Porém, nenhum ainda saiu do papel, ainda que estejam dentro dos prazos previstos.

Com investimentos de R$ 150 milhões, o Shopping das Nações terá capacidade para 170 lojas, seis salas de cinema, praça de alimentação com 1,2 mil lugares e estacionamento para 1,6 mil veículos. Com 72 mil metros quadrados de área construída, sendo 28 mil de Área Bruta Locável (ABL), o empreendimento foi lançado em abril do ano passado e as obras começaram pouco tempo depois.

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Porém, estão paradas há alguns meses e, atualmente, o shopping resume-se ao terreno. A inauguração está prevista para março de 2014. Mesmo após várias tentativas, o DC não conseguiu falar por telefone com os responsáveis, em São Paulo, para saber o motivo da paralisação das obras e se isso vai atrasar a abertura do shopping.

Outro empreendimento já anunciado para a cidade é o Parque Shopping Criciúma, também com investimentos de R$ 150 milhões. Serão 60 mil metros quadrados de área construída, dos quais, 42 mil de Área Bruta Locável (ABL). As obras devem começar ainda no primeiro semestre deste ano e a inauguração está prevista para o fim de 2014. Paralelamente, será construído também um grande condomínio vertical com torres comerciais e residenciais. As obras serão feitas por etapas, com prazo de cinco a dez anos, já a partir de 2013.

Shoppings que nunca saíram do papel em Santa Catarina

Joinville

Na década de 1990, uma onda de shoppings tomou conta de Joinville. Na época, apenas um pequeno centro comercial – onde hoje está o Shopping Americanas, na zona Sul – funcionava na cidade.

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Até que o anúncio de um investimento no setor fez brotar obras de três shoppings. Entre eles estavam o Cidade das Flores e o Mueller, abertos até hoje. O terceiro era o Marktville, que começou a ser erguido na Rua Ministro Calógeras, região central. O shopping era investimento de um grupo do Paraná e até começou a ser construído.

Ainda hoje, grandes colunas despertam curiosidade por quem passa pelo local. O estabelecimento ficaria em um terreno de 8.413 metros quadrados onde atualmente funciona também a Farmácia Escola da Univille. Faltaram recursos e licenças para que o empreendimento pudesse seguir adiante. E o imóvel, pertencente à falida empresa Tricotagem Alfredo Marquardt, está em processo de leilão.

Jaraguá do Sul

No começo da década de 1990, começava a ser construído o primeiro shopping da região do Vale do Itapocu. Nos anos seguintes, a construtora do então Shopping Jaraguá, a falida Pajost, com sede no Rio Grande do Sul, começou a edificar o empreendimento na Rua Marina Frutuoso, em Jaraguá do Sul.

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Uma crise financeira fez com que a empresa parasse a construção em 1994. Porém, cerca de 35 pessoas já haviam adquirido salas comercias, e algumas delas até pagaram o valor integral do imóvel. Estima-se que cada sala tenha custado, em média, R$ 50 mil. Vendo que ficariam na mão, os compradores dos imóveis entraram com uma ação na Justiça em 1996, e o processo se arrasta por mais de 17 anos.

O terreno pertence à Viação Canarinho, que também entrou com um processo paralelo tentando reaver o imóvel. A expectativa dos compradores e da concessionária de ônibus é que a sentença judicial saia ainda este ano.

Laguna

No ano 2000, foi inaugurado em Laguna, no Sul do Estado, o Shopping Tordesilhas, localizado na Avenida Engenheiro Colombo Machado Salles, no Centro da cidade. O estabelecimento funcionou durante apenas um ano e foi fechado pela baixa adesão do comércio e, consequentemente, pela falta de público. Depois, foi alugado para a prefeitura, que ocupa o prédio até hoje.

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Também em Laguna, há aproximadamente duas décadas, um prédio começou a ser construído nas proximidades da BR-101 para abrigar um shopping, mas a obra foi paralisada definitivamente e o empreendimento não vingou.

* Colaboraram com a reportagem as jornalistas Marina Andrade, de Joinville; e Genielli Rodrigues, de Jaraguá do Sul.