Mandingas, superstições e rituais pertencem ao mundo do futebol como a camisa 9 pertence aos centroavantes. E até quem não acredita já cruzou os dedos em uma disputa de pênaltis. Da mística do número 10 à data das partidas, tudo pode fazer a diferença para os mais fanáticos, ainda mais se a data for sexta-feira 13.

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O escritor Nelson Rodrigues, que foi cronista esportivo, chegou a criar o personagem Sobrenatural de Almeida para culpar (ou agradecer) pelos lances inexplicáveis do esporte. Mas o comentarista gaúcho Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, não acredita que tenha lance que não possa ser explicado pela tática dos técnicos ou pela técnica dos jogadores. Para ele, não existe amuleto ou reza que faça a seleção do Irã, por exemplo, passar da primeira fase.

– Ganha o time mais preparado, não tenho superstição e não acredito em nada dessas coisas. E coitada da esposa que tiver que aguentar o marido usando a mesma cueca durante a Copa inteira – brinca Guerrinha.

Entre os boleiros, o ex-goleiro argentino Sergio Goycochea é até hoje conhecido por uma das manias mais estranhas. Antes das disputas de pênaltis, o camisa 1 urinava no círculo central do campo. Perguntado sobre o ritual, disse que a primeira vez foi por acaso. Mas, como venceu a partida, resolveu continuar. Estranho ou não, Goycochea foi um dos responsáveis por levar a seleção albiceleste até a final da Copa de 1990.

E os hermanos estão mesmo entre os mais supersticiosos. Segundo pesquisa do Instituto Ipsos realizada em cinco países latino-americanos em março deste ano, um em cada quatro argentinos tem algum ritual antes das partidas da sua seleção. Os mais comuns são vestir a mesma roupa e assistir às partidas no mesmo lugar e com o mesmo grupo de amigos. Comum também entre os brasileiros, como o estudante João Pedro Fritsch, de 19 anos.

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Ele garante que, faça frio ou calor, só vai ao estádio com a mesma camiseta, e sempre de mangas compridas, como fez no amistoso da Seleção contra a França, em junho do ano passado. Detalhe: a camisa não é do Brasil, nem da França. Sempre do Grêmio.

– Nas primeiras vezes que usei, meu time ganhou. Quando usei uma diferente, perdeu. Então, agora só uso esta. E, mesmo em jogo do Brasil, vou com a camisa do tricolor porque eu torço mais pro Grêmio do que pro Brasil – afirma João Pedro.

O padre Leandro Chiarello, professor de teologia da PUC-RS, explica que esse tipo de hábito faz parte da busca do ser humano por espiritualidade. Segundo ele, o que se espera é ajuda ou força em tarefas que, às vezes, não se sabe como lidar.

– Vou usar sempre a mesma camisa, entro sempre no mesmo portão. Mas quando meu time perde e estou com aquela camisa, não lembro disso. Nós criamos esse imaginário de que não podemos passar embaixo da escada, por exemplo. Colocamos em um objeto um poder que ele não tem porque nós buscamos algo – diz o padre Leandro.

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Mas ele admite que também tem suas manias. Além do sinal da cruz e das orações, como muitos jogadores, às vezes entra nos lugares com o pé direito. Mas garante: dia 13 não é dia de azar.

– Sou uma pessoa como qualquer outra, também tenho questões que me ajudam. E nada de dia do azar: hoje é o dia de Santo Antônio.

As bruxas Fernanda e Luciana Machado, irmãs gêmeas, concordam com ele em uma coisa: é um dia para ser celebrado. Vestidas de preto e caminhando entre caldeirões em chamas, prepararam uma festa para a data que, afirmam, ser um dia para resolver problemas de todos os tipos. Segundo a numerologia, o 1 simbolizaria o início, e o 3, o resultado. Um símbolo de rebeldia e mudança.

– Está na hora de tirar a ideia negativa da sexta 13 que, por muito tempo, foi considerado um dia especial. É um dia de rebeldia, transformação e revolta, no melhor dos sentidos. Devemos aproveitar para algo positivo – afirma Fernanda.

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Elas garantem que todos os rituais voltados à felicidade e às boas recordações são positivos, e acreditam que têm, sim, poder. Sentar no mesmo lugar, usar amuletos como figas e trevos de quatro folhas, vestir a mesma camisa, entrar com o pé direito e fazer orações. Tudo vale se a energia for positiva.

– Para a Copa, tem que abusar do verde e amarelo e de tudo que tenha feito muito feliz, a camiseta do grande dia, o penteado do primeiro encontro com a namorada, sentar no mesmo lugar de outra partida. Não é superstição, são atos mágicos, uma soma de energias positivas – diz Luciana, reafirmando que acredita fortemente na força do número 13.

“Zagallo também” tem 13 letras. O ex-jogador e ex-técnico da Seleção Brasileira atribui parte do seu sucesso ao número, que passou a vestir pela devoção da mulher a Santo Antônio. E quem vai dizer que não? Depois de quatro títulos mundiais, até quem não acreditava teve que “engolir” a veneração do velho lobo. “Brasil Campeão tem treze letras”, já disse Zagallo. Coincidência ou não, “Argentina vice” também tem.

Veja as manias e superstições que a galera e os jogadores de futebol não deixam de fazer nessa época.

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