Belas praias, festas badaladas, bares, restaurantes e diversas opções de lazer para todos os públicos. Ao longo dos anos Balneário Camboriú se consolidou como um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina. A cidade de 120 mil moradores chega a ultrapassar a marca de 1 milhão de habitantes durante a temporada. Reconhecida por sua infraestrutura, foram exatamente os problemas estruturais que ganharam destaque nos últimos 15 dias. Falta de água, apagões, trânsito e problemas de segurança pública acabaram ofuscando toda a beleza e os atrativos da cidade durante o período de Réveillon. Nas redes sociais, sobram críticas dos moradores e turistas sobre as condições da cidade.

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A reportagem de O Sol Diário entrevistou a presidente do Convention & Visitors Bureau, Margot Rosenbrock Libório, e o secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Balneário Camboriú, Ademar Martins Schneider, para saber o deve ser feito no município para evitar que os problemas se repitam na próxima temporada. Para Schneider, as ocorrências registradas são problemas pontuais e já foram solucionadas. Para Margot, a estrutura do município precisa ser repensada para atender melhor os moradores e turistas.

O que foi investido em infraestrutura para a temporada?

Ademar Martins Schneider – Balneário Camboriú hoje é uma das cidades que mais investe em infraestrutura no Brasil. Praticamente 99% da cidade possui saneamento básico. Fizemos obras na estação de tratamento da Emasa, uma das maiores obras do Estado de Santa Catarina. A cidade ganhou infraestrutura na praia e asfalto novo nas principais avenidas. A terceira e a quarta avenida foram alargadas e construímos a nova ciclovia. Implantamos iluminação nas praias que deu condições de qualidade e segurança para o turista. Investimos em questão de segurança com a guarda municipal que ganhou reforço de 40 agentes nos últimos meses e o nosso hospital foi ampliado na parte de emergência. Balneário Camboriú é hoje uma das cidades mais preparadas em infraestrutura para atender o morador, e claro, o turista.

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Margot Rosenbrock Libório – Eu penso que tivemos um alargamento bem interessante nas avenidas da cidade. Foi um transtorno para o morador durante o inverno, mas o trânsito, apesar de não ser fácil, foi melhor do que nos outros anos. Somos uma entidade privada, sem fins lucrativos que investe na divulgação e na questão de turismo de eventos. Não é o foco da entidade o investimento na infraestrutura do destino, é responsabilidade do poder publico mesmo. Não temos nenhum poder econômico capaz de atuar nessa direção.

O investimento feito correspondeu à captação de turistas?

Ademar – Conseguimos perceber o retorno. Investimos também na divulgação e promoção do destino, fizemos em torno de 40 ações de marketing em feiras, eventos e exposições. No Mercosul viajamos por nove países e fizemos mais de 20 ações divulgando o destino como referência e qualidade no Brasil. São investimentos que trazem retorno, a virada do ano foi uma prova disso. Tivemos um número expressivo de pessoas que acabou acarretando em alguns problemas que extrapolaram a nossa infraestrutura. O prefeito determinou que sejam feitos estudos para identificar o erro, se foi técnico ou de sabotagem. Foi um problema pontual e já foi solucionado. A cidade continua com um grande número de turistas, mas não temos mais problemas de água.

Margot – O investimento feito não foi 100% eficiente até por causa dessa questão primordial que foi a falta de água. O município tem responsabilidade sobre isso e também sobre o serviço de esgoto. Vimos vários comentários sobre a ineficiência do serviço. Antes da temporada, em um certo momento todos os pontos da praia pareciam como impróprios e conseguimos regredir. Quando chegou a semana do dia 26 adiante a cidade viveu um colapso no abastecimento de água e também uma grande deficiência limpeza urbana e no recolhimento de lixo.

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A imagem da cidade pode ficar prejudicada por causa dos fatos ocorridos?

Ademar – Não acredito que fique. Diretamente, o turista sofreu muito pouco, os moradores foram os mais afetados. Os hotéis e outros lugares já estão preparados para isso. A cidade também está preparada, mas houve demanda exagerada. Desde sábado a situação já se normalizou e acredito que a temporada será bem tranquila, mesmo com o número expressivo de turistas. Eu acredito que o nome da cidade não seja afetado porque as pessoas aproveitaram o show de fogos e a infraestrutura como um todo absorveu essa demanda. A estrutura de entretenimento e qualidade das praias suportou e foi bem de acordo ao que esperávamos.

Margot – Hoje em dia a informação é muito dinâmica e muito democrática, ela esta disponível para qualquer pessoa que for em busca dela. É muito difícil esconder situações que afetaram um porcentual tão grande da população. Pelas conversas nas ruas, os comentários e o que se vê nas redes sociais, sabemos que vários bairros ficaram sem água por muitos dias. A questão da limpeza urbana é visualizada pelo turista e pelo morador. É bem complicado. Foi uma deficiência também muito democrática, sofreu a classe média e classe alta e quem mora no bairro mais retirado.

De que forma o turismo deve ser discutido no novo plano diretor do município?

Ademar – O turismo deve ser discutido com prioridade. Se o turista está bem atendido, a cidade ficara bem atendida, o próprio morador também. É importante que toda a comunidade participe das discussões sobre o assunto. A gente chama para que todos participem e ajudem no processo de construção de uma cidade que continue moderna e de referência como ela é.

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Margot – Acredito que o plano diretor deva ser uma grande debate, não só para os turistas. A cidade para ser boa para o turista tem que ser boa para o cidadão que vive nela. Que cidade nós vivemos nos últimos dez dias e que cidade nós queremos para o futuro? São vários fatores que vão se somando até que você chegue em uma situação de caos. Nunca é só uma coisa que acontece. A cidade tem um limite e muitas vezes por causa do poder econômico e interesse financeiro não se fala sobre limites. Sustentabilidade na verdade é uma questão de preservação. Se ela não buscar ser mais sustentável, no futuro ninguém mais vai querer morar por aqui e também não será boa para o turista. Precisamos repensar a cidade.

Como o senhor avalia esta temporada?

Ademar – Eu avalio como muito positivo. Acho que o trabalho de divulgação e promoção para os entretenimentos que temos e tudo o que a cidade oferece foi de acordo com o que planejávamos. As pessoas saíram daqui contentes, felizes e isso que é o importante. Claro que quando a demanda é muito maior, para ter o bônus vem o ônus. Com essa demanda exagerada tivemos esses pequenos problemas pontuais que não afetam a cidade. Acreditamos muito que o trabalho de divulgação e promoção foi bem feito e vamos trabalhar nesse sentido melhorando os problemas pontuais para que a cidade continue crescendo no quesito do turismo.

Margot – Como hoteleira foi um período muito bom, o mercado respondeu ao chamado. As pessoas foram convidadas para vir e esse aumento na ocupação foi um impacto positivo. Se a gente for ver na visão do comércio em geral, imagino que tenham pontos positivos e negativos. Sabemos que teve shopping center que fechou por causa da falta de água e restaurantes não puderam atender. E além disso também temos a visão também do cidadão que teve que conviver com um verdadeiro caos. Foi um momento bem complicado.

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O que deve mudar na cidade para a próxima temporada?

Ademar – Eu acho que tem que mudar a consciência das pessoas, tivemos muitos casos relatados de apartamentos que cabiam três, quatro pessoas com 15, 16. Então muita gente errou. A cidade vai buscar se reajustar dentro dessas necessidades e acredito que não vamos ter mais esses problemas na próxima temporada.

Margot – Penso que ficou claro que precisa de investimento na questão da distribuição de água e no saneamento urbano. Espero que a limpeza urbana seja normalizada, que as comunidades se envolvam e o poder público abra o debate. Temos que eleger as prioridades do município e também a necessidade de fazer um estudo de capacidade da carga da cidade. Precisamos de estimativas sérias, porque se fala em 1 milhão e meio de pessoas, mas a gente sabe que esse número não é real. Se tivesse essa quantidade o caos seria muito maior do que foi.