O que era expectativa de recuperação e crescimento para o setor têxtil e de confecção no ano passado se transformou em queda de produção. Fatores como a greve dos caminhoneiros, inverno curto e processo eleitoral turbulento contribuíram com uma redução de 2% no indicador de fabricação têxtil no país. Em 2019, baseado principalmente na confiança e no otimismo do mercado com o novo governo, o setor renovou os votos e projetou crescimento de 3% no país. Porém, passado o primeiro trimestre, o mercado já revisa as projeções e aponta que essa alta deve ficar entre 1,5% e 1,7%.

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O que indica esse novo prognóstico são os números dos primeiros meses de 2019, divulgados nesta terça-feira (23) pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Em janeiro e fevereiro deste ano, o setor têxtil teve queda de 1,8% na produção, enquanto o vestuário experimentou leve aumento, de 0,3%.

O fato de a produção têxtil ter diminuído não desperta tanta preocupação porque os números do começo do ano passado, base de comparação, eram considerados positivos – a situação piorou a partir de maio, após a greve dos caminhoneiros. O saldo do Carnaval, que neste ano foi em março, também ainda está para entrar na conta.

Mesmo assim, o presidente da Abit, Fernando Pimentel, justifica essa revisão para baixo na expectativa. Os motivos, segundo ele, são a demora na aprovação das reformas, a diminuição no grau de otimismo dos empresários que isso causa e o fato de a economia ainda estar "andando de lado", segundo ele.

— A verdade é que consumo está atrelado a empego, renda, crédito e expectativa. O crédito anda um pouco mais, mas nosso setor não é tão dependente dele. Emprego e renda crescem, mas lentamente. A expectativa é o fator mais positivo. No entanto, não está mais no mesmo patamar. O que poderia ajudar? A Reforma da Previdência realmente tiraria o foco de uma discussão que acaba travando a atenção a outras medidas, como avanços na área tributária e na desoneração do custo do trabalho — aponta.

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Vestuário lidera exportações de SC, que totalizam US$ 41,3 milhões

Os números de produção em Santa Catarina neste trimestre ainda não foram divulgados pela Abit. No entanto, Pimentel afirma que o estado ainda ocupa "posição invejável" no setor. O mercado catarinense foi o segundo que mais exportou no primeiro trimestre, com US$ 41,3 milhões.

O Paraguai foi o maior mercado comprador e itens de vestuário (US$ 13,7 milhões) e cama, mesa e banho (US$ 4,6 milhões) lideraram as vendas ao exterior. Apesar disso, na comparação com o começo do ano passado, os dois primeiros meses haviam sido de queda de 4,5% no volume de exportação.

Os números positivos na exportação, o crescimento do ano passado – 6,3% na área têxtil e de 5,9% no vestuário – e o fato de ser o segundo maior produtor do país, com quase 10 mil empresas têxteis e de confecção e mais de 160 mil empregos diretos, podem aliviar a situação de Santa Catarina, mas não tiram o mercado catarinense do contexto nacional de esperar para ver.

O presidente do Sindicato das Empresas Têxteis de Blumenau e Região (Sintex), principal polo do setor no país, José Altino Comper, confirma que a realidade nacional, de incerteza e expectativa pelas reformas, também freiam o interesse de investimento. Somado a isso, questões locais como as possíveis mudanças com o decreto do governo do Estado sobre incentivos fiscais aumentam o ar de incerteza e retenção de investimento.

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– Com essa indefinição, muitos estão em compasso de espera. Todos ainda estão otimistas de que o Brasil vai mudar para melhor, mas muitos já estiveram mais otimistas. Está se perdendo tempo em que já se poderia ter subido alguns degraus – avalia.

Esperança no frio

Se a recuperação ainda não veio, quando o setor poderá experimentar uma retomada mais célere? Além das questões políticas e econômicas do país, uma resposta mais simples pode estar no clima. Nos últimos dois anos, a falta de um inverno bem definido e duradouro prejudicou as vendas do varejo.

— Em 2017 e 2018, o frio foi alternando, sem continuidade de temperaturas baixas, o que é fundamental para consumidor se animar para ir às compras. Não há indicativo de que tenhamos inverno rigoroso, mas oxalá haja engano nas previsões porque no curto prazo é onde vejo espaço melhor para que o setor se fortaleça — frisa o presidente da Abit, Fernando Pimentel.

Mais empregos

Um dos pontos apontados como importante para a retomada do consumo é o crescimento de emprego e renda. Nesse sentido, o próprio setor mostra estar fazendo sua parte, ao menos nos primeiros dois meses do ano. Nacionalmente, o setor gerou 15 mil postos de trabalho. Um número que, segundo Pimentel, refletiu uma expectativa positiva do empresário no início do ano.

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Queda em equipamentos industriais

Já a importação de máquinas e equipamentos teve queda expressiva, de 14,8% nacionalmente. O motivo, segundo dirigentes do setor, é que poucos ousam fazer altos investimentos em maquinário e produção em um setor de indefinição da economia.

Números

Brasil (janeiro e fevereiro)

Produção têxtil ( -1,8% )

Produção vestuário ( +0,3% )

Varejo vestuário ( +4,1% )

Santa Catarina (janeiro a março)

Exportações – US$ 41,3 milhões (segundo maior do país)

Fonte: IBGE, ME e Abit