As declarações do governador Carlos Moisés da Silva (PSL) sobre agrotóxicos, em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", provocaram indignação de líderes do setor agropecuário. Eles classificaram as ideias como "fora da realidade" e questionaram o conhecimento do governador sobre o agronegócio. Além disso, afirmam que o Estado será prejudicado se for mantida a posição do governo sobre revogar o incentivo fiscal concedidos aos defensivos agrícolas.

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O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo, disse que não sabia que o governador tinha conhecimento de agricultura.

— Ele está propondo algo que é diferente do que é feito no restante do mundo. Nós aplaudimos a intenção de estimular a produção orgânica. Mas os produtores utilizam a tecnologia que existe e está à disposição. E não é veneno, é remédio para as plantas. Nunca ouvimos falar de alguém que morreu por causa de agrotóxico. O que ocorre, às vezes, é uma intoxicação quando há o mau uso, quando não seguem o receituário agronômico — disse Pedrozo.

O presidente da Faesc afirmou ainda que o governador toma decisões sem ouvir as pessoas ligadas ao setor. Explicou que, se continuar assim, serão quatro anos de uma relação problemática.

Pedrozo adianta que as entidades vão buscar o apoio dos deputados estaduais, que aprovaram a suspensão dos decretos de Carlos Moisés que determinaram o aumento do ICMS de insumos agrícolas para até 17%.

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A Faesc divulgou nota na manhã desta quarta-feira (14) lamentando as decisões do governador de Santa Catarina.

Ele que plante sem agroquímico para ver o que colherá. Nem alface dádiretor-executivo da Fecoagro Ivan Ramos

O diretor-executivo da Federação das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Fecoagro), Ivan Ramos, foi incisivo nas críticas ao governador.

– Totalmente fora da curva. Não está ouvindo nem os técnicos do governo por questões ideológicas. Está usurpando o poder da caneta. Ele que plante sem agroquímico para ver o que colherá. Nem alface dá. Ele não está considerando o quanto vai aumentar o custo dos alimentos com a tributação. Quer ser diferente dos demais Estados? Mais cedo ou mais tarde vai cair do cavalo – disse o líder cooperativista.

Está faltando experiência de governo. Não recebe as entidades e está querendo ser simpático, não sei com quem presidente da Fetaesc, José Walter Dresch

Já o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (Fetaesc), José Walter Dresch, disse que a entidade nunca fez propaganda de agrotóxico e realiza um trabalho de incentivo à produção orgânica.

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Afirmou ainda que a postura do governador está equivocada.

– Temos um trabalho de produção orgânica que não é fruto de incentivos de governo, mas do trabalho de produtores e entidades. Na Fetaesc temos um espaço de venda de orgânicos, mas são 50 a 60 cestas por mês. É um produto que custa o dobro, porque produz a metade e demora o dobro para ficar pronto. O governo precisaria investir em pesquisa para produzir sem agrotóxico, pois atualmente isso é impossível em grande escala – disse Dresch.

O presidente da Fetaesc esclareceu também o aumento na produção.

– Vamos discutir tecnologia, fazer pesquisas. O agricultor não usa agrotóxico porque é apaixonado por isso. Usa porque no Oeste, há 20 anos, uma lavoura de milho dava 39 sacas por hectare e hoje dá 200. Imagine se Santa Catarina colhesse 500 mil toneladas de milho em vez de 2,5 milhões a 3 milhões. O que seria do agronegócio, das nossas exportações? Acho que está faltando experiência de governo. Não recebe as entidades e está querendo ser simpático, não sei com quem – acrescentou Dresch.

Só vai prejudicar o setor que tem sustentado a balança comercial e colocado comida no prato da populaçãopresidente da ACCB Félix Muraro Júnior

O presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Bovinos (ACCB), Félix Muraro Júnior, questionou se Carlos Moisés sabe o que está comendo e do que está falando.

– Convido o governador a ficar uma semana numa propriedade para conhecer a realidade. Também disponibilizo minhas planilhas de produção de 10 anos para ele avaliar os custos. Isso é um tiro no pé, pois não é uma política nacional. Só vai prejudicar o setor que tem sustentado a balança comercial e colocado comida no prato da população – disse.

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Fetraf-Sul concorda com posição do governador

Uma das poucas entidades do setor rural a aprovar a entrevista do governador Carlos Moisés da Silva foi a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf). O coordenador estadual da entidade, Alexandre Bergamin, disse que apoia a produção com menos agrotóxicos, mas reforçou que ela não pode vir sozinha.

— Nós concordamos com essa avaliação sobre os agrotóxicos. Temos defendido um modelo de agricultura sustentável. Porém, o governador anunciou o fim desse subsídio aos agrotóxicos sem nenhum anúncio de criação de políticas de incentivo a uma agricultura sustentável. Mas, para nós, é uma grande iniciativa desde que sejam as políticas para a transição — afirmou Bergamin.

O coordenador afirmou que a entidade já apresentou uma pauta de sugestões para o fomento à agroecologia. E ressaltou que a Fetraf permanece contrária ao aumento de valor de ICMS de produtos da cesta básica e também à retirada de itens da cesta básica.

A nota da Faesc

Abaixo, a íntegra de uma nota divulgada hoje de manhã pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc):

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"É uma lástima que a maior autoridade pública de Santa Catarina desconheça essa magnífica estrutura de produção de alimentos que é a agricultura catarinense, notabilizada no mundo, eis que exporta para 160 países.

A posição do governador Carlos Moisés da Silva em aumentar a tributação dos insumos agrícolas de zero a 17% (única exceção: medicamentos veterinários e vacinas) representa um golpe mortal para atividades essenciais como o cultivo de lavouras, a criação intensiva de animais e a produção de leite. Avaliação recente revela que, mantida a taxação, as lavouras de milho, soja, feijão e arroz se tornarão deficitárias. Ou seja: melhor não plantar.

Os efeitos dessa medida são o aumento dos custos de produção no campo, a redução da produtividade média e a perda da competitividade dos produtos agrícolas catarinenses nos mercados nacional e internacional. A maioria dos Estados brasileiros mantém a isenção de impostos – especialmente o Paraná e Rio Grande do Sul – o que deixará o produto catarinense em desvantagem no mercado.

Dessa forma, será inevitável a elevação de custo de produtos agrícolas, especialmente aqueles que demandam maior uso de insumos, como frutas, milho, trigo, arroz, batata, cebola, alho, legumes etc. No caso do milho e farelo de soja, matérias-primas essenciais na produção de rações, o impacto atingirá as cadeias produtivas de suínos, frango, leite etc.

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É realmente muito triste constatar que o Governo catarinense ignora profundamente a importância social e econômica da agricultura barriga-verde."

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