A palavra crise voltou à rotina dos catarinenses. Na contramão da economia, um setor comemora o crescimento nos serviços prestados. Trata-se dos estabelecimentos que trabalham com a manutenção ou conserto de eletroeletrônicos, refrigeradores, fogões, roupas, sapatos, bolsas, malas, relógios, entre outros.
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A proprietária de uma sapataria na Rua Lauro Linhares, bairro Trindade, em Florianópolis, comemora o aumento do serviço. Em abril, a empresa tinha somente um sapateiro e, hoje, são quatro trabalhando diariamente.
– Crise é a melhor coisa para um sapateiro. É a possibilidade de alguém reformar um calçado, uma bolsa ou uma mala de qualidade gastando muito pouco. Somente hoje recebi cinco malas – contou a proprietária Fabíola Warmling, 25 anos, que foi obrigada a alugar um outro imóvel para atender a demanda.
A sapataria recebeu no inverno de 2014 uma média de 45 pares de calçados por dia. Agora, são mais de 80. Quem não perdeu tempo e mandou reformar uma bota de couro para o Inverno foi a estudante e bolsista Maiara Rech, 24 anos. Ela deve gastar 1/5 do valor de um calçado novo.
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– O conserto vai me custar R$ 37, mas uma bota nova não sai por menos de R$ 200. Percebo a perda do poder aquisitivo no mercado. O que você comprava no supermercado por R$ 100 há cinco meses, hoje custa bem mais – argumentou a estudante.
Com a economia aquecida, esse setor sofria com os poucos clientes.
Maria Fernandes vendeu mais nos últimos dois meses (Foto: Michael Gonçalves)
Brechó quadruplicou o movimento em três meses
Há cinco anos, Maria Fernandes resolveu deixar a profissão de diarista para abrir o próprio negócio. Ela montou um brechó no bairro Ipiranga, em São José. Nos últimos três meses, com a alta da inflação, ela mais que quadruplicou o movimento.
– Comecei o ano vendendo uma média de 40 peças de roupas por mês e, hoje, não vendo menos de 200. Em época de crise, o pessoal perdeu a vergonha de comprar em brechó, porque também comprovaram que existem produtos de qualidade à disposição – comentou.
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No brechó da Maria existem peças de R$ 2, como uma camiseta por exemplo. A roupa mais cara é um terno de R$ 45. Além disso, ela não perde compra por falta de uma máquina de cartão de débito ou crédito.
– Tenho uma parceria com o mercado ao lado. Quando o cliente não tem dinheiro, a gente passa o cartão no mercado e eu fico com o crédito para as minhas compras do mês – afirmou.
Filipe Henrique Cascaes está tendo mais trabalho (Foto: Michael Gonçalves)
Clientes em lista de espera
Quem também não tem tempo disponível é o eletrotécnico Filipe Henrique Cascaes, 23 anos. Em sua loja no bairro Coqueiros, em Florianópolis, ele conserta micro-ondas, máquinas de lavar roupa, cafeteiras, ventiladores, entre outros produtos. Ele reaproveita quase todos os aparelhos.
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– Uma máquina de lavar roupa boa custa em média R$ 1,2 mil e o conserto não sai por 30% deste valor na maioria dos casos. Na semana passada tínhamos tantas máquinas para reparo que ficou difícil até para andar dentro da eletrotécnica – comentou.
Filipe também ganha alguns equipamentos quebrados dos clientes e faz o conserto para vendê-los. Em virtude disso, ele tem uma lista de espera.
– Tenho dois clientes que estão esperando por fornos micro-ondas, porque um novo custa três vezes mais e tem a mesma garantia – revelou.
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Dinheiro no bolso
Os eletrodomésticos da linha branca – itens como geladeira, fogão e máquina de lavar roupas _ estão tendo queda nas vendas pela primeira vez, após um longo período sob o efeito da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Para o técnico Edison Gonçalves, isso é sinônimo de mais dinheiro no bolso. Ele garante que 2015 está sendo melhor do que o ano passado. Recebe por dia, em média, dez chamados para consertos de itens como lavadora de roupas, geladeira, secadora e
ar-condicionado. No verão, ele já começou a perceber que houve aumento nos pedidos de manutenção de ar-condicionado. De lá para cá, só melhorou.
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– Antes, o pessoal preferia comprar novo. Agora, sempre tenho cliente e ouço todo mundo reclamar da crise. Mas o setor de manutenção dificilmente entra em crise total – considera Edison.
O QUE LEVAR EM CONTA
:: Observe a lei da relação custo-benefício. Vale a pena se desfazer do item ou mandar consertar? Vale a pena investir nele? Avalie que benefícios terá e quanto tempo ainda poderá usá-lo.
:: Não use os mesmos critérios para tudo. Cada item merece uma avaliação própria.
:: Você é apegado a ele? Há um valor afetivo? Neste caso, é provável que valha a pena, sim, consertar.
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:: Se não é acostumado a mandar consertar, o momento de crise é ideal para testar seu domínio e controle frente ao consumo e à novidade.
:: Que estilo de vida você quer ter e pode sustentar? Há quem dê valor para a última moda apenas por aparências e porque isso massageia seu ego.
:: Em todos os momentos e, principalmente neste, de crise, fazer reserva de dinheiro é necessário.
:: Evitar o consumo pode ajudar você a planejar-se melhor financeiramente para enfrentar o período de incertezas.
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:: Aproveite esta fase para se tornar mais crítico em relação ao seu modo de agir com o consumo. Questione comportamentos antigos e teste mudanças.
QUANDO VALE A PENA CONSERTAR
:: Se a geladeira é modelo frost free, tem até três anos e problema no motor, vale a pena consertar. A troca varia entre R$ 600 e R$ 700.
:: No celular, se for tela quebrada, vale consertar, principalmente nos modelos mais caros. Se é novo e o modelo é mais sofisticado, pode ser uma boa investir no conserto, que sai por pelo menos R$ 200. Caso seja um aparelho mais velho, talvez seja a hora de trocar.
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:: Televisores de led, plasma e LCD que estão com problemas nas placas de fonte, sinal ou vídeo podem ser consertados com facilidade em uma eletrônica. Porém, se for problema na tela, já não vale mais a pena, pois a recuperação sai quase pelo preço de um televisor novo.
:: Para calçados, é preciso avaliar a qualidade do material. Se for de couro, há várias técnicas para recuperá-lo.
:: O mesmo vale para os tênis. Se a base estiver boa, mas o tecido rasgou, é possível colocar forro e costurá-lo.
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:: Pequenos consertos em roupas podem salvar uma peça esquecida. Cortes, zíper, reparo e bainha são procedimentos feitos de forma rápida e a custo baixo.
:: Também vale a pena buscar inspiração em vitrines e revistas para “atualizar” uma peça.
Qualificação para driblar a crise
A coordenadora de educação inicial e técnica do Senac, Daiane Cristina de Borba, confirma a mudança drástica no comportamento de consumo nos últimos meses. Ela afirmou que cresceu a procura pelos cursos onde o profissional busca uma nova ocupação no mercado de trabalho ou está atrás somente de um bico.
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– Existem setores da economia com carência de profissionais como costureira, auxiliar de cozinha, sapateiro e modeliza, por exemplo. Como o aumento das taxas de juros, a população está reaproveitando tudo o que tem em casa. Além disso, os cursos como o de salgadeiro e auto maquiagem, onde a pessoa pode economizar e ter uma renda extra também, estão entre os mais procurados – completou.
Unidades
Senac Saúde e Beleza – Florianópolis
Rua Conselheiro Mafra, 784 – Centro – Edifício Galaxy
Telefone: (48) 3330-9600
Senac Palhoça
Rua João Pereira dos Santos, 303 – Ponte do Imaruim
Telefone: (48) 3341-9100
Senac São José (EaD)
Rua Tiradentes, 03 – Kobrasol
Telefone: (48) 3357-4197