Sabe a expressão “juntou a fome com a vontade de comer”? Ela define bem o dia em que Eduardo Evers, 41 anos, decidiu tirar um sonho antigo da cabeça e transformá-lo em realidade. Empresário e dono de um estabelecimento ligado à venda de produtos coloniais, ele nutria na mente o desejo de ser dono de um boteco, onde pudesse também preparar comida para os outros. A oportunidade veio de onde menos se esperava:

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– Vim buscar plantas aqui do lado e esse espaço, às margens da Rua Humberto de Campos, estava fechado. Falei com o dono para alugar e ele concordou. Fui para casa, conversei com a minha esposa e vimos que o local ficaria bem como um bar – recorda.

De lá para cá, o lugar com decoração especial em devoção a São Jorge se consolidou e faz parte de um leque com 851 opções de bares e restaurantes existentes atualmente em Blumenau. O setor se desenvolve a cada ano, fruto de consumidores mais dispostos a se alimentar fora de casa, mas que também estão mais exigentes e com paladar diversificado. Segundo dados da Secretaria Municipal de Gestão Financeira, o número de estabelecimentos voltados à gastronomia cresceu 38,37%. Em 2008, o total era 615.

O avanço desse tipo de negócio é fruto de um trabalho iniciado há alguns anos, com a promoção de eventos com foco na comida, aponta o presidente da Associação Blumenau Gastronômico, Develon da Rocha. Para ele, o que motiva a pessoa a sair de casa é ter experiências novas e os empresários se deram conta disso.

– Nosso maior concorrente é o sofá. A gente precisa dar boas opções para que as pessoas queiram sair de casa – concorda Evers.

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Ambientes mais acolhedores

Para tentar vencer o conforto de ficar em casa, muitos investem no conceito dos ambientes, que são cada vez mais acolhedores e alinhados com o perfil dos clientes. No bar de Evers, inaugurado em abril de 2014, a inspiração vem das constantes visitas a bares por onde passa, mas, sobretudo, de São Paulo e do Rio do Janeiro. O cardápio, baseado na cozinha nordestina, é recheado de delícias preparadas pela esposa.

– Sentia falta de algo do gênero em Blumenau – argumenta o empresário.

Jerusa Steinhauser, 36 anos, vive em Criciúma e sempre que viaja para Blumenau conhece um lugar novo. O guia e amigo é o gasparense Jaisson Althoff, 37, que acompanha a evolução dos estabelecimentos em Blumenau. Para ele, o cenário mudou muito e para melhor. A prova disso é o encantamento da amiga.

– Estou encantada. Tudo aqui é lindo, bem decorado, comida boa. Sair com ele é garantia de que vou a um espaço gostoso e diferente – fala entusiasmada.

De olho no público jovem, os irmãos Antonio Reis Martins Júnior, 38 anos, e Carlos Henrique Foléis Martins, 36, investiram em um espaço diferente. Em março do ano passado eles inauguraram o primeiro restaurante de comida havaiana em Blumenau, em parceria com o sócio e chef de cozinha Antonio Gomes. O desejo era ter um estabelecimento de rua e tudo começou com estudo.

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– Através de uma pesquisa de internet, achamos o prato principal, que tem uma pegada jovem e inovadora – conta Júnior.

Pelo restaurante passam por mês aproximadamente 2,5 mil pessoas. Mallu Montibeller de Souza, 30 anos, é uma delas. A produtora conta que um dia passou na frente e o espaço chamou a atenção. Uma pesquisa na internet a fez entender melhor do que se tratava e dali em diante o local ganhou uma nova frequentadora.

– Sempre observamos o ambiente, o atendimento, do que a gente gosta e o valor – explica.

Mallu e a família gastam quase R$ 2 mil em alimentação fora de casa mensalmente em decorrência da rotina agitada de trabalho.

– O poder aquisitivo da região atrai para esse tipo de estabelecimento, que por sua vez também melhoraram e tudo ajudou e fez com que o consumidor consumisse mais – reforça o presidente da Associação Blumenau Gastronômico, Develon da Rocha.

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Crescimento do setor gastronômico impacta na economia de Blumenau

Um levantamento da prefeitura de Blumenau aponta que somente no ano passado os 851 estabelecimentos enquadrados nas categorias de bar e restaurante renderam aos cofres municipais R$ 4 milhões apenas em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O valor representa 1,65% da arrecadação do tributo na cidade. O percentual é reflexo da economia diversificada da cidade. Para ter uma ideia da importância do segmento, o setor que mais arrecada é de vestuário/confecção, que chega a 9%.

Se os números por si só demonstram a relevância desse tipo de investimento, é preciso considerar ainda o impacto na geração de empregos. De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Empreendedorismo, a partir de informações colhidas na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em 2008 o segmento de bares e restaurantes era responsável por 2.384 empregos formais em Blumenau. Em 2016, dado mais recente da Rais, o total chega a 3.279 pessoas.

A presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Blumenau (Sihorbs), Tatiana Honczaryk, se mostra confiante:

– Blumenau é uma cidade muito, muito propícia para negócios e investimentos e digo com segurança que quem apostar aqui vai colher seus frutos no futuro.

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Cenário demonstra que o crescimento não para

Um levantamento na Praça do Empreendedor de Blumenau aponta que de cada 22 novos negócios abertos nos primeiros cinco meses deste ano ao menos um é do segmento alimentício. O restaurante de Felipe Bragantino, 49 anos, e Germano Beduschi Neto, 39 anos, está entre eles. Os primos investiram R$ 300 mil em um empreendimento que demonstra a paixão que têm pelo churrasco. O espaço foi inaugurado em fevereiro e traz, além do desejo pessoal deles de terem um negócio próprio, um tipo de serviço que sentiam falta na cidade: uma casa especializada em carnes assadas no estilo dos argentinos e uruguaios.

– Sempre tive vontade de ter algo fora da advocacia, e hoje essa é a realização – conta Bragantino, que é também professor universitário no curso de Direito.

Quem também está otimista é a empresária Deise Camargo Machado, 32 anos. Junto com a irmã e um amigo, vai abrir uma forneria no segundo semestre. O estabelecimento vai fazer parte de um food park que está em construção na região Norte da cidade. Atualmente, o município conta com quatro parques nesses moldes.

Um projeto de lei na Câmara Municipal propõe a criação de uma Via Gastronômica. A iniciativa é dos vereadores Marcelo Lanzarin (MDB) e Bruno Cunha (PSB) e prevê o início da via na Rua Antônio da Veiga, seguindo pela Rua Almirante Tamandaré e terminando no final da Rua Alberto Stein. A ideia, segundo Lanzarin, é estimular a criação de políticas públicas que fomentem o desenvolvimento e aumentem o interesse da iniciativa privada.

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A proposta é inspirada no que já ocorre em outras cidades. A expectativa é que a proposta vá à votação nesta semana.