A ótima safra recente de documentários brasileiros está bem representada nas telas da Capital por dois títulos que falam sobre os anos de chumbo da ditadura: Os Dias com Ele, de Maria Clara Escobar, e Setenta, de Emília Silveira.

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A princípio, o filme de Emília sobre os 70 presos políticos libertados em troca do embaixador suíço sequestrado no Brasil em 1970, em cartaz no Espaço Itaú 8, lembra outro bom doc nacional: Hércules 56 (2006), de Sílvio Da-Rin, a respeito dos militantes esquerdistas soltos por conta do rapto do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick em 1969. Porém, ainda que nunca perca de vista o contexto histórico, Setenta aos poucos define seu verdadeiro foco: mostrar como a luta armada, a prisão, a tortura e o exílio marcaram profundamente as vidas dos 18 entrevistados e de seus familiares.

– Fomos decupando as 80 horas de gravação, e os personagens foram tomando conta da gente. Tivemos que fazer uma opção: ou fazíamos um filme mergulhando nessas vidas ou contávamos a história do sequestro. Eu não queria fazer um filme ilustrativo, de resgate de imagens, mas um filme no tempo presente, em que o passado vem pelas impressões causadas nesses personagens – explica Emília em entrevista por telefone a Zero Hora.

Diretora e roteirista de documentários e de programas para TV, Emília trabalhou como repórter e editora-chefe em veículos como Jornal do Brasil, O Globo e TV Globo, tendo inclusive conquistado um Prêmio Esso de Jornalismo. Antes, no final dos anos 1960, integrou o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) e ficou presa no Rio entre 1970 e 1972.

– Fazer um filme assim 40 anos depois é como mexer com um gigante adormecido. Eu não queria me botar no filme. Deixei um pouco para as pessoas intuírem a minha presença. Sou ex-presa política, fui casada com o Marcão (Marco Maranhão, um dos militantes entrevistados). Comecei esse filme falando com ele sobre esses personagens. Como eu estava nessa vivência, chamei a Sandra Moreyra porque queria um olhar de fora – diz a realizadora, referindo-se à roteirista de sua estreia no cinema.

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Para além do registro documental de uma época de enfrentamentos e radicalismos, Setenta é uma emocionante compilação de depoimentos carregados de dor e paixão, em que convicção ideológica, autocrítica e até humor matizam a visita dos personagens a suas memórias de episódios e companheiros do passado.

Serviço: SETENTA

De Emília Silveira

Documentário, Brasil, 2013.

Duração: 96min.

Classificação: 12 anos.

Em cartaz no Espaço Itaú 8. Confira os horários no site do Espaço Itaú.

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