O período que começou com a vitória de alguém até então desconhecido do eleitorado foi sucedido por turbulências. Foram dois processos de impeachment e um governo que precisou rearranjar uma base de apoio ao longo da gestão. Agora já conhecido pela população, Carlos Moisés (Republicanos) buscará a reeleição em um pleito que deve ter o maior número de concorrentes desde a ditadura. Tudo isso em paralelo ao contexto inflamado das eleições presidenciais, protagonizadas por Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), em cizânia à qual o Estado não deverá passar indiferente até outubro.
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Quem são os candidatos a presidente nas Eleições 2022
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É possível elencar ao menos sete fatores que devem fazer das Eleições 2022 um capítulo marcante na política de SC. Confira:
- Primeira eleição após dois processos de impeachment
- Eleição com mais candidatos a governador
- Figuras tradicionais na disputa pelo governo
- Eleição dos rachas internos
- Polarização Lula x Bolsonaro
- Mudanças de grupos políticos
- Sinais para o futuro político de SC
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Impeachment
Uma delas é justamente o fato de ser a primeira disputa após o Estado passar por dois processos de impeachment de governador, algo inédito até para a política do país. A situação reordenou a posição de deputados estaduais em relação ao governo e fez a atual gestão precisar “trocar os pneus com o carro andando”, abrindo espaços no governo para obter apoio político e viabilizar a sequência do mandato. Toda a mobilização despertou um olhar mais detalhado dos eleitores sobre a política do Estado.
Eleição com mais candidatos
Reflexo ou não deste período, as Eleições 2022 devem ter o maior número de candidatos ao governo desde a volta das eleições diretas a governador, em 1982. Desde lá, o máximo que o Estado teve de concorrentes foi oito — número que se repetiu nas últimas quatro disputas. Em 2022, já há 10 candidatos com nomes anunciados, podendo chegar a 11.
Figuras tradicionais
Uma característica desse número maior de candidatos deve ser a repetição da presença de figuras tradicionais da política de SC nas urnas. Quatro anos após a febre dos outsiders, o governador, que já não é mais do lado de fora da política, buscará a reeleição contra outros nomes também conhecidos. Em 2018, nenhum dos oito candidatos ao governo já havia concorrido ao posto, embora os nomes dos ex-governadores Esperidião Amin (PP) e Raimundo Colombo (PSD) estivessem na disputa pelo Senado. Em 2022, três candidatos já disputaram o governo ao menos uma vez (Amin, Décio Lima e Moisés). Tem ainda Colombo e Dário Berger, que estarão novamente na urna em busca de uma vaga de senador.
Rachas internos
Esta também pode ser definida até o momento como a eleição das disputas internas em SC. Foi assim com o MDB, que por 12 anos orquestrou a chamada tríplice aliança. O partido com o maior número de prefeitos e filiados do Estado se arrastou por meses em uma disputa interna que só terminou na convenção. Antídio Lunelli chegou a renunciar à prefeitura de Jaraguá do Sul para concorrer e queria uma candidatura própria emedebista, mas foi derrotado pela ala que defendia o apoio à reeleição de Moisés. O ex-aliado Udo Döhler será o vice do atual governador.
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Mas a divisão não se limitou à chapa do governador com o maior partido. Em uma eleição dominada pela disputa Lula e Bolsonaro, as candidaturas ditas bolsonaristas também devem estar repartidas em SC. Jorginho Mello (PL), do partido do presidente, e Esperidião Amin (PP), amigo de Bolsonaro e de partido que integra a base do governo federal, até tentaram chegar a um acordo para concorrerem juntos, mas é quase certo que estarão em palanques diferentes.
Além deles, Gean Loureiro (União Brasil), que como prefeito de Florianópolis costumava evitar divididas ideológicas, também ganha cor bolsonarista na campanha ao receber o apoio do prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), aliado sempre contundente de Bolsonaro e que deverá coordenar a campanha de Gean.
Por fim, na última hora houve racha até mesmo na frente de esquerda, que apregoava há mais de um ano a famigerada unidade em SC. O PDT, que ficou sem a vaga para o Senado após Dário Berger (PSB) aceitar concorrer ao cargo, bateu em retirada e lançou chapa pura, com Jorge Boeira como candidato ao governo. O gesto foi bem recebido pelos filiados e garante palanque a Ciro Gomes no Estado.
Além do PDT, PSOL e Rede também saíram da chapa. Neste caso, porém, anunciaram Afrânio Boppré em candidatura avulsa ao Senado, mas não lançaram postulante ao governo. Não houve pedido público de voto em Décio, mas na prática a decisão abre caminho para filiados manterem essa opção.
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Veja como ficou o quebra-cabeça eleitoral de SC
Posições sobre Lula e Bolsonaro
Outro diferencial que deve tornar essa eleição um capítulo relevante no Estado é o cenário de polarização entre Lula e Bolsonaro. A campanha nacional motiva preocupações sobre o respeito à democracia e ao resultado das urnas, em função de ataques a instituições e até ameaças de intervenção. A preocupação motivou a criação de uma carta em defesa da democracia, assinada inclusive por catarinenses.
Em SC, a eleição pode ter contornos menos tensos, mas está sujeita a repercussões das polêmicas nacionais e, sobretudo, da divisão entre os eleitores. Nas campanhas mais atreladas aos personagens da disputa presidencial, como a de Jorginho Mello ou Décio Lima, a vinculação a esse tema é uma das estratégias para tentar conquistar o voto consolidado de lulistas ou bolsonaristas.
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Mudanças de grupos políticos
Esse mesmo contexto inspirou também guinadas ideológicas em alguns personagens nas eleições de SC. Ou quatro anos atrás alguém imaginaria Gelson Merisio e Dário Berger na linha de frente da campanha do PT, fazendo “L” de Lula com a mão? Do mesmo modo, o lado bolsonarista terá novos representantes, como Gean Loureiro.
O professor de Administração Pública e coordenador do programa de extensão Educação e Cultura Política da Udesc Esag, Daniel Pinheiro, acredita que a eleição neste ano será diferente e dependerá especialmente do tripé propostas, discurso e alianças.
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— Essa eleição vai depender muito de como os candidatos vão se comportar. Como muitos deles estão no mesmo grupo, de centro-direita, provavelmente venham com propostas muito próximas, então os detalhes farão a diferença. Como gerenciar um ataque adversário, como lidar com o público, se portar no debate, o apoio de algum oponente. Vejo em SC uma eleição em detalhes.
Futuro
Por fim, as eleições de 2022 são importantes porque podem apontar sinais para o futuro da política no Estado. Um dos indicativos será se o eleitorado catarinense vai repetir o apoio em massa a Bolsonaro ou se optará por outro caminho. No Estado, o novo desenho político também deve dar respostas para os partidos após os quatro anos de constante alternância entre base e oposição. Possibilidades para o futuro que passam pelas discussões a serem feitas na campanha eleitoral dos próximos 45 dias.
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