Reinaldo Neumann, 57 anos, observava a força do rio do Braço deslocar, pouco a pouco, a ponte no final da rua Democracia, no Jardim Sofia, zona Norte de Joinville. A maré alta em conjunto com a chuva desta quarta, fez o rio transbordar. As pequenas ondas acertavam a estrutura, empurrando-a. A cena se repetiu durante toda a quarta-feira. Até que ela partiu ao meio. As sete famílias viram a água atingir cerca de um metro nas casas, mas não podiam sair do local. Era necessário um barco.

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— Nós não tínhamos o que fazer. Na minha casa não encheu muito, mas em outras sim. As casas que tinham menos água abrigaram os vizinhos — conta o aposentado.

O aposentado conta que, como a ponte é a única ligação dos moradores com o resto do bairro, muitos não conseguem sair para comprar mantimentos ou ir ao trabalho, por exemplo. Alguns partiram antes mesmo do rio transbordar, para se alojar na casa de parentes.

Toda a situação precisou ser relatada por Reinaldo aos gritos – já que sem a ponte ele não pode atravessar para contar a história à reportagem. Agora, galhos de árvores, lama e pedaços de madeira são o que estou da ponte. Conforme o governo municipal, a estrutura será retirada na manhã desta sexta-feira e uma nova deve ser recolocada na próxima semana pela Subprefeitura.

Além do escombro da ponte, as pilhas de lixo da enchente também estampam várias casas do bairro. A rua Manoel Calixto Rodrigues, que circunda o rio do Braço, foi uma das mais afetadas durante a enxurrada. Em alguns pontos, a água atingiu a marca de 1,5 metros e demorou cerca de nove horas para baixar. Os restos de sofás, móveis e eletrodomésticos foram descartados, enquanto os moradores limpavam as casas e contabilizavam os estragos.

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Na esquina com a rua João Albino Moreira, o piso da varanda do imóvel sumiu por conta da camada de lama. Os seis cômodos da casa estão completamente vazios. Não fosse o forte cheiro de água sanitária misturado com barro e a pilha de móveis em frente ao portão, era possível acreditar ninguém morava ali.

— Quando a água desceu que eu vi todo o estrago. Não conseguimos salvar nada, nem a geladeira. Agora é tentar recomeçar — conta o proprietário Luiz Antonio Padilha, 62 anos, que diferente dos vizinhos não teve nada para contabilizar.

Luiz permaneceu durante toda a enchente dentro da casa, em uma espécie de tablado, nos fundos do imóvel. Ele mora no lugar há 30 anos e, apesar de já ter passado por outras inundações, nunca tinha perdido tudo. Para Evandro Silveira, vizinho de Luiz, o pico da maré contribuiu para o alagamento, mas a falta de drenagem no rio foi determinante para que a água atingisse um nível tão alto.

— Não é a primeira vez que enche aqui na rua, nunca vi fazerem drenagem nesse rio e na verdade não tem nada aqui para conter a água quando o rio transbordar — afirma Evandro.

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A Subprefeitura Nordeste começou nesta quinta a remoção do lixo, limpeza de vias e bocas de lobo afetadas pela chuva no Jardim Sofia. Segundo levantamento a Prefeitura, entre esta terça e quarta, ocorreram 31 deslizamentos, 18 quedas de muro, sete ocorrências diversas (queda de árvore, risco de desabamento de telhado, erosão. Os números ainda podem aumentar, porque a Defesa Civil da cidade ainda contabiliza as ocorrências.