De cada dez prefeitos que tentaram a reeleição em Santa Catarina este ano, sete venceram as eleições e continuarão no cargo. O índice está acima de toda a média histórica do Brasil e supera com uma ampla margem o resultado de 2016, quando os prefeitos tiveram o pior desempenho já registrado no Estado e no país.

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Nas eleições 2020, 161 prefeitos estavam concorrendo à reeleição em SC, e 117 venceram os pleitos e vão permanecer na cadeira, o que representa um índice de 72,6%. Como nas duas cidades com segundo turno (Blumenau e Joinville) não há reeleição em jogo, o número não deve mudar. Mário Hildebrandt (Podemos) é o atual prefeito de Blumenau, mas assumiu a cadeira em 2018 com a renúncia de Napoleão Bernardes, portanto não é classificado como um candidato à reeleição.

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A mudança drástica em relação às eleições anteriores foi acompanhada pelo país inteiro, que viu a maior taxa de reeleição dos últimos 12 anos. Uma campanha mais curta e marcada pela pandemia do coronavírus são razões que favoreceram os atuais prefeitos na corrida, mas especialistas apontam outros fatores que pesaram na continuidade.

— Por uma necessidade partidária diante da cláusula de barreira, que limita o acesso ao fundo partidário, tivemos muitas candidaturas, que acabaram fragmentando os votos e favoreceram os candidatos à reeleição — aponta o cientista político e professor da Univali, Eduardo Guerini.

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Com um grande leque de candidatos, muitos representando partidos pequenos ou desconhecidos do grande público, nomes já conhecidos do eleitorado acabaram ganhando força em Santa Catarina. Siglas tradicionais como MDB, PP, PSD e PSDB elegeram 75% dos prefeitos catarinenses, fazendo valer as estruturas partidárias mais robustas, com mais vereadores, tempo de TV e verba para as campanhas.

Para Guerini, foi uma eleição marcada pela continuidade, e não pela renovação. Um desencanto pela promessa de “nova política” feita em 2018 também pesou, levando o eleitor a votos mais tradicionais e com menos espaço aos desconhecidos politicamente que ganharam espaço dois anos atrás, puxados pela onda bolsonarista.

— Em 2018 os eleitores optaram por voto em “outsider”, em governantes que não estavam na estrutura tradicional partidária, e acabaram se desencantando, da presidência da República ao governo do Estado. O Moisés fazia questão de ressaltar que não era político, que iria fazer um governo técnico, e acabou sendo tragado pela política. A nova política foi soterrada, dizimada nessa eleição. E posições extremadas não são bem vistas pelo eleitorado, que agora fez uma correção de rumo nessa eleição municipal — avalia.

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O efeito da pandemia

O coronavírus também teve um peso determinante no índice de reeleição dos prefeitos. Além do destaque que muitos ganharam durante o ano nas ações de combate à pandemia, o vírus mudou também as regras da campanha eleitoral, que durou menos tempo e quase não teve “corpo a corpo”. Com menos debates e sola de sapato gasta nas ruas, quem já era conhecido e estava no cargo saiu na frente.

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— Só não foi reeleito aquele que era muito ruim, muito mal avaliado pela população. Uma avaliação muito ruim do eleitorado fez com que alguns prefeitos não conseguissem nem a indicação do seu sucessor, como foi o caso de Joinville — aponta Guerini.

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Em nível nacional, esse efeito mostrou resultados claros na reeleição de 63% dos prefeitos. Em cinco capitais a reeleição já foi garantida em primeiro turno, entre elas Florianópolis com a vitória de Gean Loureiro (DEM). Das 13 capitais brasileiras onde o atual prefeito tentou a recolocação, somente em Porto Alegre com o tucano Nelson Marchesan o chefe do executivo nem chegou ao segundo turno.

— Na eleição municipal o que se quer é um político de ação. Avaliou-se a gestão, os políticos que estavam trabalhando, fazendo obras — conclui o cientista político Eduardo Guerini.

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