No momento em que o desemprego supera os dois dígitos percentuais e ultrapassa a casa de 11 milhões de brasileiros, segundo dados de maio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o concurso público surge como uma alternativa para quem perdeu a fonte de renda. Levantamento feito pelo Santa mostra que processos seletivos no funcionalismo com inscrições abertas oferecem mais de 8,6 mil vagas no Vale do Itajaí, pelo Estado ou outras regiões do país (clique aqui e veja detalhes dos concursos). Número que pode ajudar a equilibrar a balança do mercado de trabalho em Blumenau, que acumula um déficit superior a 6,5 mil postos nos últimos 12 meses, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de maio, dado mais recente disponível pelo governo federal.

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:: As histórias de quatro blumenauenses que tem relações distintas com os concursos públicos

O especialista em gestão de carreiras Júlio Cesar Lopes de Souza confirma que em momentos de instabilidade social e política como o qual o Brasil atravessa é normal a procura pelos concursos aumentarem. Segundo ele, isto constitui um paradoxo, considerando que muitos órgãos públicos freiam contratações e podem chegar a demitir ou cancelar processos, como fez o Ministério do Planejamento, ao suspender a realização de novos concursos na esfera federal até 2017.

– A função pública é essencial para a sociedade, mas tem uma série de condicionantes. Porém, esse serviço, além da estabilidade, e isso é importante, ele oficializa a sua posição social, você se sente investido de valor por isso. Não que quem não seja funcionário público não tenha importância, mas é diferente – analisa Souza.

Claramente, toda sociedade foi de alguma forma prejudicada pelas dificuldades financeiras, mas nesse enredo há quem tenha cortado gastos para manter as portas abertas e outros que perderam o emprego. Pelas agências de recursos humanos de Blumenau há quem esteja há dois, cinco, sete meses em busca de uma nova colocação no mercado. São períodos em que o capital diminui, as contas continuam a chegar, a dificuldade aumenta e a esperança de um futuro melhor precisa ser alimentada dia a dia.

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Neste momento, a concorrência pública aparece não só como opção de melhoria no trabalho, mas como alternativa de estabilidade. A procura por segurança é, de fato, o principal atrativo ao concurso público. A doutora em Psicologia Social Catarina Gewehr explica que esta é a busca que todo ser humano faz, seja no serviço público ou na iniciativa privada. Ela compara o comportamento a um barco que navega por águas turbulentas: quanto mais o barco se mexe, os ocupantes procuram o lugar com menos movimento para ficar.

– Como o mundo hoje está muito incerto, psicologicamente as pessoas vão para onde têm menos mobilidade, preferem um campo mais seguro. Isso é interessante porque há gente muito jovem, que tecnicamente estaria mais disposta a correr riscos, e que tem uma opção conservadora, de querer a segurança – avalia.

Os dois lados do funcionalismo público

Assim como tem benefícios, construir uma carreira no serviço público também há desvantagens, e o especialista em gestão de carreiras Júlio Cesar Lopes de Souza explica que é preciso considerar todas as questões antes de embarcar na jornada de estudos em busca do êxito na seleção.

Em relação às vantagens, o gestor destaca que a principal delas deve ser a previsibilidade, aliada à estabilidade. Dessa forma, a pessoa pode se programar a longo prazo com a certeza de que, no final do período, continuará empregado, garantindo mais segurança e, até, melhora na qualidade de vida. Quanto ao salário, na maioria dos cargos não chega a ser mais alto que na iniciativa privada mas, em linhas gerais, o trabalhador pode contar com ele.

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Como desvantagens, o especialista destaca a demora que pode ocorrer para uma mudança ou crescimento na função. No serviço público tudo o que você pode ou não fazer está escrito em algum lugar:

– Você não consegue subir rapidamente ou trabalhar com os desafios que gostaria, porque o regramento público determina todas as ações. Então, exige muita resiliência e a pessoa precisa estar bem resolvida com essa questão.