Em meio a desafios de infraestrutura, a Serra catarinense se prepara para receber neste ano 250 mil pessoas, quase 40% a mais do número de turistas registrado na temporada passada (180 mil), segundo estimativa da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte.

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Se por um lado as belezas naturais, aliadas ao frio intenso, são os atrativos da região, a falta de leitos – hoje são 6,8 mil – faz com que visitantes optem por uma estadia mais curta ou busquem outros destinos. Essenciais para qualificar o setor, os investimentos parados também pesam nessa balança.

São Joaquim teve a tarde mais fria de abril nos últimos 24 anos

Nas cidades de São Joaquim e Urubici, responsáveis por abrigar a maior parte dos turistas que procuram o inverno de Santa Catarina, empreendimentos de alto padrão previstos para serem concluídos em 2016 esbarraram em entraves burocráticos como licenciamentos e autorizações.

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Morador de São Joaquim registra primeiros flocos de neve de 2016

Morador de Florianópolis, o empresário Ubirajara Câmara comprou em junho de 2013 uma área com água termal em São Joaquim. Com investimentos que ultrapassam R$ 3,5 milhões, a proposta era abrir o hotel ao público neste ano, mas não foi possível. Durante dois anos o investidor conseguiu concluir as análises da água e agora depende das licenças ambientais. A proposta ficou para 2018.

– Quando tivemos a ideia de fazer o investimento, queríamos sair do comum de só fazer uma pousada. Por isso optamos em buscar algo diferente que foi a água termal. Iniciamos todo o processo para fazer o hotel boutique, com 40 a 60 apartamentos no máximo, no estilo de estruturas na parte montanhosa de Áustria e Suíça. Junto vamos fazer um condomínio entre 1,8 mil e 2,5 mil metros quadrados com casas no estilo americano, onde os proprietários se beneficiarão da água termal. Será o primeiro da região – explica o investidor.

Setor defende que faltam incentivos

Presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens em Santa Catarina (Abav-SC), Eduardo Loch observa que a falta de hospedagens é reflexo da ausência de incentivos como, por exemplo, linhas de crédito para os investidores. Em contrapartida, as agências trabalham no aluguel de casas e apartamentos, assim como cresce a oferta de pousadas.

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– Precisamos trabalhar na construção de produtos turísticos agregados aos leitos existentes – avalia Loch.

A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-SC) reconhece o problema da falta de grandes hotéis na Serra. Para o presidente do conselho deliberativo, João Eduardo Moritz, a ausência de investimentos privados é um reflexo da falta de infraestrutura básica, como saneamento, que demorou a acontecer.

– O Estado fez a sua parte e os empresários estão começando a investir. Sabemos que a Serra é o destino que mais está crescendo nos últimos anos, e temos grandes investidores, inclusive catarinenses interessados em investir principalmente no nicho de hotéis dentro de vinícolas – revela Moritz.

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Segundo o empresário, investidores preferem manter sigilo sobre os investimentos para não atrair uma super-valorização de algumas regiões, mas a expectativa é que em até três anos grandes hotéis sejam inaugurados. O conselheiro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em SC, Fábio Queiroz, como muitos que visitam a Serra, enfrentou dificuldades em encontrar vagas nas pousadas em um fim de semana de frio.

Para ele, a tendência é ir aumentando o número de pousadas na medida em que o setor for se desenvolvendo.

– Diferente de Gramado (RS), que você tem muito mais coisas para fazer, acredito que a nossa serra ainda está se estruturando, são cidades que têm neve, são próximas de Florianópolis, então têm muito a crescer. É questão de tempo e incentivo, mas o futuro com certeza é turístico – defende.

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Parceria público-privada é alternativa

O gerente de planejamento da Fecomércio SC, Renato Barcellos, avalia que a rede hoteleira e as demais pousadas da serra têm investido, mas falta infraestrutura e integração turística entre a região e outros destinos próximos. Outro ponto negativo, segundo ele, é a falta de planejamento do setor, mesmo Santa Catarina aparecendo na mídia nacional e local devido ao frio e à neve.

Barcellos observa ainda que na região de São Joaquim há pouca oferta de hotéis para cobrir a demanda, necessitando de mais incentivos no setor privado.

– Acabamos perdendo esse potencial de receber mais turistas. Precisamos que o poder público reconheça a importância do turismo enquanto fomentador da economia no Estado, principalmente do turismo de inverno, temos algumas ações do sistema privado como o Senac, que trabalha com qualificação na área. Acho que falta uma parceria público-privada para fomentarmos o turismo de maneira mais integrada – avalia Barcellos.

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