Conhecida por suas tragédias e acidentes, a Serra Dona Francisca é responsável por movimentar a economia do Planalto Norte de Santa Catarina. Na região existem 9.913 empresas e os 14 municípios situados ali geram 88.418 empregos diretos. O Produto Interno Bruto (PIB) da região é de R$ 10,3 bilhões.
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A Serra Dona Francisca liga Joinville às principais cidades da região que são: Campo Alegre, São Bento do Sul, Rio Negrinho e Mafra. Por dia passam pela Serra cerca de 10 mil veículos. Em períodos de alta temporada esse número chega a 13 mil. Entre eles, muitos caminhões responsáveis por transportar as mercadorias do Planalto Norte de Santa Catarina para outros estados e para portos, onde são enviadas para outros países.
O setor moveleiro é a principal atividade econômica da região, que tem concentração de grandes empresas do Brasil. No primeiro semestre de 2019, o faturamento das indústrias de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre avançaram 7,3% em relação ao mesmo período do ano passado e alcançaram US$ 74.160 milhões de faturamento. A região é responsável por 22% das exportações moveleiras do Brasil, que somaram US$ 332,56 milhões, de janeiro a junho desse ano. Esse valor representa 56 % do total exportado em móveis por Santa Catarina e 19,2% das vendas brasileiras ao exterior.
São Bento do Sul é o maior exportador de móveis do país e teve um faturamento no primeiro semestre de 2019 de US$ 43.626 milhões. Esse volume representa 14% das exportações brasileiras de móveis. Os maiores mercados compradores são os Estados Unidos com 21%, Reino Unido com 5% e França com 3%. Para o presidente da Associação Empresarial de São Bento do Sul, Ismar Becker, a falta de manutenção da rodovia compromete o transporte de mercadorias de empresas que precisam usar a região.
– O estado que a Serra está hoje, compromete o uso de pneus, toda estrutura e manutenção dos caminhões, com isso o custo é repassado para o consumidor. Isso sem falar no custo absolutamente impagável de vidas humanas. A solução a longo prazo é fazer uma PPP (parceria público privada), inclusive tive a oportunidade de falar com o governador sobre isso. A curto prazo tem que se tomar medidas emergenciais, uma solução seria colocar sinalizações sonoras. O fato é que nos últimos quatro governos ninguém fez nada. Hoje, a Serra está em petição de miséria – reforça.
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Traçado original foi aberto há 161 anos
A SC-418 passa no meio da Mata Atlântica. Ao todo são oito curvas num trecho de 4 quilômetros. O trecho total de serra é de aproximadamente 20 km. O traçado original da estrada foi aberto em 1858 e foi construída pelos imigrantes para ligar as cidades da região. Campo Alegre é uma delas e é a porta de entrada para o Planalto Norte e considerada a 2ª maior exportadora de móveis do Brasil. A cidade tem uma forte economia ligada também à agricultura. A Serra Dona Francisca é usada pelos empresários para escoar a produção de móveis e especialmente de milho e soja. Rio Negrinho também é considerada um pólo moveleiro importante da região.
– Nós temos as duas logísticas, desde escoar nossa produção para o porto, porque trabalhamos fortemente na exportação dos móveis, assim como receber matéria-prima, porque muitas delas realmente vêm através do porto, que usa a Serra para chegar até em Rio Negrinho – explica a vice-presidente da Associação Empresarial de Rio Negrinho (Acirne), Eliete da Cruz.
O valor total estimado de tributos arrecadados no trecho da Serra Dona Francisca chega a R$ 20 milhões por ano, somando os valores em IPVA de R$ 4.512.727,00 com o total de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) arrecadados, de R$ 15.474.231,00. Para o coordenador do Movimento pela Revitalização da Serra Dona Francisca, Jonathan Linzmeyer, as melhorias devem ocorrer o quanto antes para conter os prejuízos econômicos na região.
– Esse valor deveria ser aplicado na própria Serra, sem contar que o governo gasta quase R$ 60 milhões com acidentes no seguro obrigatório, com todos os danos que o estado tem que pagar com saúde, com limpeza, com tudo que é gerado na Serra. Então se hoje tivesse uma revitalização, teria menos custos para o governo na questão de acidentes – explica.
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Outra preocupação sobre a Serra Dona Francisca gira em torno do tráfego de caminhões na região carregados com produtos perigosos. Isso porque se ocorrer um acidente com um caminhão de gasolina ou algum produto tóxico, por exemplo, e esses materiais vazarem, eles podem atingir as nascentes dos rios da região do Quiriri, que ficam na Serra e parte da população de Joinville pode ficar sem abastecimento de água
– Todos sabemos dos riscos que existem quando se transportam cargas perigosas na Serra Dona Francisca, mas eu tenho convicção que não tem como se proibir. E tudo que é proibido nunca acaba sendo bem aceito. Mas acreditamos sim que a solução seria intensificar a fiscalização. O problema é sério, se uma carga perigosa for até a logística e distribuição de águas pluviais, vai ao rio Cubatão e podemos ficar mesmo sem captação de água, isso é um problema muito sério – reforça o presidente da Associação Empresarial de Joinville, João Martinelli.
Por Raphael Augustus | NSC TV
raphael.sousa@somosnsc.com.br