Estas são histórias de quem teve a vida dividida em antes e depois. Vidas esfaceladas, alteradas por uma grande tragédia.

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Mas aí veio o depois. O depois que salva.

Lênio, William, Rafael e Daniele não são sobreviventes, apenas. São pessoas que renasceram. Que, acima de tudo, superaram a derrota. Neste novo ano que começa, eles são os melhores exemplos de que é possível recomeçar.

Lênio José Laurindo

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Quem é: tem 45 anos e mora na Vila Aparecida, Florianópolis

O problema: teve câncer no intestino, que logo se espalhou para outros órgãos. O médico lhe deu seis meses de vida. Isso faz dois anos.

“Eu tenho uma vida inteira pela frente”

O diagnóstico o derrubou: era o pior dos cânceres, o que ele mais temia. Mas foi um aviso do médico que arrancou o último fio de esperança que ainda restava em Lênio:

– São só seis meses de vida.

Ele não precisava ouvir mais nada. Estava com os dias contados, tinha prazo de validade. Não chegaria a ver o filho passar de ano, nem as apresentações de dança da filha. Também não conheceria os netos. Nem comprar um carro melhor, ele conseguiria. Como pode, uma previsão acabar com tantos sonhos?

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Três meses antes, tudo começara com uma dormência nas costas. Uma dormência que foi virando uma dor insuportável. Ele já não conseguia se abaixar e passou a ter dificuldade de trabalhar. Acabou demitido. Procurou um, dois, três médicos. Fez ultrassom e outros exames que não sabe o nome. Até que na noite de Réveillon, Lênio, 28 quilos mais magro, não levantou do sofá. Doíam-lhe as costas. Faltou-lhe o ar. Os batimentos do coração caíram.

– Alguém chama o Samu que o Lênio tá morrendo – gritou a sogra.

E assim Lênio foi levado ao hospital. Tomou soro na veia. Um mês depois, descobriram que o que ele tinha era câncer no intestino. Que já estava espalhado pelo pâncreas, pelo estômago, baço e diafragma. E, de tão espalhado, o médico achou que já não tinha muito o que fazer.

– Você vai viver. Eu sei disso, eu tenho fé! – implorou a mulher dele.

E a fé foi tão grande que Lênio foi operado, sobreviveu e voltou para casa. Mas voltou fraco. Sentava-se no pátio e ficava olhando o movimento, sem força – nem vontade – de levantar a cabeça. Estava desistindo de viver.

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– Eu era um montinho de osso ali sentado. Estava virado em cabeça, cabelo e barba. A depressão estava me matando.

Até que uma vizinha o viu. E ao vê-lo, solidarizou-se com ele. Ela era enfermeira e indicou um centro de apoio a doentes de câncer que poderia ajudá-lo, o Instituto Bem Viver. Contrariado, mas não querendo desapontar a amiga, Lênio foi. Perdeu-se várias vezes no caminho e, mais de uma vez, pensou em voltar para casa. Mas quando chegou, foi recebido com festa. Já era da família.

Lênio gostou tanto daquilo que decidiu voltar no dia seguinte. E voltou também no outro. E no outro. E volta lá até hoje, porque é lá que se sente vivo. Em mais de uma vez, entrou pela porta de cabeça baixa e saiu de lá sorrindo, querendo viver.

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– Comecei a ver um outro lado da doença. Um lado que não se resumia à cama, casa e hospital, como achei que seria. Quando fica doente, a gente se isola. Sozinha, a pessoa não vence. A cabeça se fecha, só se pensa no problema. Eu continuo tratando o câncer, mas aprendi a lidar com ele.

E sabe mesmo. A reviravolta na vida de Lênio deu a ele um prazo maior. Os seis meses previstos pelo médico já venceram há dois anos. Ele viu o filho passar de ano, viu o mais velho arrumar o primeiro emprego e viu a primeira neta nascer. Sem prazos, ele aprendeu a ver a vida de outra forma. Já espera pelo próximo neto e seu novo sonho é, agora, virar bisavô. E quando isso acontecer, quer recebê-lo em uma casa de pátio grande, em Alto Biguaçu, onde se cria galinhas e patos e se planta muitas árvores. É onde se vê vivendo daqui a uns anos.

– Eu não tinha seis meses de vida. Eu tenho uma vida inteira pela frente.

O QUE DIZEM OS PSICÓLOGOS

“É comum o doente focar a atenção apenas nisso, lamentando o destino e tentando achar a causa ou o culpado. Mas estes pensamentos não levam a nada. A doença precisa ser vista apenas como uma parte da vida e não como o todo.”

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Patrícia Medeiros, psicóloga do Instituto Bem Viver

ONDE BUSCAR AJUDA

Instituto Bem Viver

Instituição privada e sem fins lucrativos que oferece oficinas, atividades e apoio psicológico e de assistência social a pacientes de câncer carentes. Todo o atendimento é gratuito.

Informações: pelo telefone (48) 3035-5124 ou pelo site do instituto.

Centro de Apoio ao Paciente com Câncer (Capc)

Administrado pelo Núcleo Espírita Nosso Lar, o hospital do Ribeirão da Ilha oferece atendimento gratuito de apoio aos pacientes de câncer e os ajuda a resgatar a força necessária para enfrentar a doença. O atendimento é gratuito.

Informações: (48) 3337-6363 ou pelo site do centro.