Estas são histórias de quem teve a vida dividida em antes e depois. Vidas esfaceladas, alteradas por uma grande tragédia.

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Mas aí veio o depois. O depois que salva.

Lênio, William, Rafael e Daniele não são sobreviventes, apenas. São pessoas que renasceram. Que, acima de tudo, superaram a derrota. Neste novo ano que começa, eles são os melhores exemplos de que é possível recomeçar.

William Soares Lima e Cinthya de Moura

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Quem é: ele, 28 anos; ela 24. Moram em Forquilhinha, São José

O problema: há um ano, sofreram um acidente de trânsito que quase os levou à morte

“Como pude, um dia, pensar em morrer?”

As lembranças do que aconteceu às 7h25min daquele 21 de dezembro de 2011 ainda assombram. Estão vivas no braço paralisado de William e no joelho que não dobra de Cinthya. E também no olhar de saudade dele todas as vezes que fala do antigo trabalho de revestidor em uma empresa de peças. Uma função que ele nunca mais poderá exercer.

Era uma quarta-feira, aquele 21 de dezembro. Faltavam poucos dias para as festas de fim de ano. O Natal seria com a família dela, uma festa no sítio do avô. O Réveillon, com a família dele: iriam todos até a Beira Mar ver os fogos. Mas nada disso aconteceu.

Foi um acidente de moto que mudou tudo. Às 7h25min, a 500 metros das empresas vizinhas onde trabalhavam, em plena SC-407, um carro, de repente, surgiu na contramão. Cinthya fechou os olhos. Sentiu a batida e também quando foi arremessada. Voou até o acostamento e, antes de cair nas pedras e sentir a perna quebrar, pediu perdão a Deus e proteção à filha, Camille.

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– Vou morrer – pensou.

Mas ela não morreu. Nem William. Passaram o Natal no hospital, o Ano-Novo também. William em coma, Cinthya sem poder caminhar. Nos 35 dias em que ficou internada, ela percorria os corredores do Regional em cadeira de rodas para visitar o marido. Ele nem se lembra. Quando acordou, não sabia o que fazia ali. Não sentia o braço, não sentia a perna, não lembrava do acidente e de nada que aconteceu depois dele. Teve traumatismo craniano e estava com a memória a curto prazo afetada. Também estava com os nervos do braço rompidos, o crânio afundado e a visão, a audição, o paladar e olfato atingidos e correndo o risco de amputar a perna. E emagreceu 20 quilos.

Foram três meses internado. Quando voltou para casa, William voltou nervoso. Estava revoltado com a situação. Tentava andar e não conseguia. Queria tomar banho e precisava chamar alguém. Queria fazer a barba, mas o braço não mexia. Não conseguia nem consertar a porta do guarda-roupa. E o homem que sempre foi tão independente, se sentia um menino assustado. Depender da ajuda dos outros para tudo virou humilhação.

Dentro dele, um pequeno conflito interno começava. Não queria saber de visitas, mandava todo mundo embora. Trancava a porta do quarto e ficava lá, deitado com a esposa, no escuro. Não tinha vontade de levantar, não tinha vontade de viver. “Por que não morri em vez de ficar assim?”, questionava. Então, passou a ensaiar alguns passos. Treinava escondido no quarto para ter força suficiente de caminhar até a rua. Só pensava em se jogar na frente de um carro.

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– Eu pensava na minha vida e tentava entender o que tinha feito de tão errado para Deus fazer isso comigo. Procurava um motivo. Tentava, a todo custo, me lembrar do acidente só para saber se realmente não tinha como ter escapado.

Foi então que começou uma nova batalha: a de regenerar as feridas internas. E, aos poucos, o menino que dependia de todo mundo foi voltando a ser um homem livre. Primeiro foram os olhos que voltaram ao normal. Depois, enquanto comia um pão com ovo, de repente, sentiu o gosto. Então, comeu outros quatro naquele dia. Em seguida, sentiu o cheiro de sabonete. Estava a caminho da cura. A perna já voltou a mexer, ainda que com dificuldade, e ele já consegue caminhar. E mesmo sem mexer o braço, consegue fazer café. As sequelas do acidente já não o assustam mais.

– Como pude, um dia, pensar em morrer? Sei que minha situação é temporária e estou muito melhor. Minha missão aqui ainda não acabou.

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E William aprendeu a lição. Virou um novo homem. Com uma nova vida.

O QUE DIZEM OS PSICÓLOGOS

“Acidentes de trânsito podem causar muito mais do que fraturas físicas e explícitas. A vida da pessoa muda completamente de um momento para o outro e isso, às vezes, é difícil de aceitar. Ela precisa passar pelo chamado processo de luto, aquele que vai de um corpo saudável a um com sequelas.”

Elaine Coelho Campos, psicóloga e professora da Estácio de Sá

ONDE BUSCAR AJUDA

Clínica de Fisioterapia da Estácio de Sá, em Barreiros, São José

Avaliação e acompanhamento nas áreas de ortopedia, de neurologia e de uroginecologia e obstetrícia. Gratuito.

Informações: (48) 3381-8074.

Clínica da Udesc, em Coqueiros, Florianópolis

Fisioterapia nas áreas cardiorrespiratória, desportiva, de ginecologia e obstetrícia, neurologia, ortopedia, traumatologia, pediatria, pneumologia e reumatologia. Gratuito.

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Informações: (48) 3321-8610.