A série norte-americana Maid aborda as diferentes formas como a violência contra a mulher pode se manifestar. Alex (interpretada por Margaret Qualley), como tantas outras mulheres, não se reconhece como uma vítima de violência. Afinal, ela não tem hematomas pelo corpo. Entretanto, mesmo sem saber explicar os motivos, toma a decisão de sair de casa no meio da noite com a filha Maddy (Rylea Nevaeh Whitte), de três anos, após uma briga com o marido.
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Assim começamos a acompanhar a difícil trajetória de uma mãe solo, sem emprego, sem dinheiro e sem rede de apoio, em busca de uma vida segura para ela e a filha. A primeira atitude de Alex é procurar ajuda assistencial do governo, onde consegue, após alguns percalços, uma vaga em uma casa abrigo para mulheres. Na nova moradia, a protagonista conhece e troca relatos com outras mulheres com histórias parecidas, o que a fortalece.
Se Alex estivesse em Santa Catarina, teria à disposição apenas 12 locais de acolhimento. As casas abrigo do Estado têm capacidade para receber pouco mais de duzentas mulheres vítimas de violência. Só em SC, na pandemia, foram mais de 24 mil boletins de ocorrência de ameaças registrados por mulheres nas Delegacias de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e ao Idoso (DPCAMIS). Para muitas, a ajuda não chegou a tempo. Neste ano, 36 mulheres foram vítimas de feminicídio no Estado.
Mesmo depois que a agressão é identificada e reconhecida pela vítima, nem todas as mulheres conseguem sair do contexto da violência. Dependência emocional, financeira, psicológica ou o medo de que o agressor cumpra ameaças de morte mantém mulheres em situações de perigo. A reconciliação para não perder a parceira também faz parte do ciclo da violência. E na maioria dos casos, permanecer na relação causa mais feridas do que prazeres.
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– Os danos são para a saúde integral da mulher, física, mental e reprodutiva, porque a violência traz consequências gravíssimas. Pesquisas apontaram que a cada cinco anos que a mulher sofre violência, ela perde um ano produtivo de vida. Então, são muitas consequências em diversos sentidos. Em relação à saúde da mulher, muitas apresentam sintomas depressivos, enxaqueca de repetição, ideias suicidas, transtorno de estresse pós-traumático – explica a psicóloga Scheila Krenzel.
De vítima a protagonista da mudança
O ciclo de agressão dentro de casa aconteceu com a entrevistada que chamaremos de Ana*, de 30 anos, para preservar a imagem e a segurança dela. Depois de 10 anos de casamento e de um histórico de pressão psicológica, perseguição e violências, ela decidiu romper o silêncio e se separar. O marido não aceitou. E a recusa veio acompanhada de 23 golpes de faca, em fevereiro de 2020. A vítima estava em um restaurante com a filha quando foi atacada.
Foram semanas de internação hospitalar, em estado grave na UTI. Após o episódio, ela saiu da cidade natal com os dois filhos para recomeçar a vida, longe do agressor e com oportunidades de recomeçar com os filhos de 8 e 11 anos. O agressor está preso desde o crime e foi condenado, em primeira instância, a 11 anos em regime fechado. Hoje, Ana tem uma ONG e ajuda outras vítimas de violência que estão tentando recomeçar.
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– Os meus filhos são meus combustíveis, acho que não teria força se não fosse por eles. O que falo hoje para as mulheres que me procuram e relatam que foram ameaçadas pelos companheiros, é: não testa, porque neste caso, você testar é pagar com a própria vida. Você vai querer pagar pra ver? Quando há ameaça, já liga o alerta e procura ajuda – avisa ela.
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*Reportagem de Eveline Poncio, Mariana de Ávila e Milena Lopes
Na segunda temporada do podcast Rasga o Véu, nos episódios sobre Violência Doméstica e Equidade de Gênero, as comunicadoras Eveline Poncio, Mariana de Ávila e Milena Lopes debateram sobre trechos da ficção com especialistas. Confira o debate na íntegra nas plataformas de streaming e no YouTube do NSC Total.
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