Após a polêmica que envolveu desconvidar a jornalista Miriam Leitão e o sociológico Sérgio Abranches da Feira do Livro de Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina, o coordenador artístico do evento, Carlos Schroeder, disse que se cogitou o cancelamento da edição deste ano. Ele relatou que várias mensagens — inclusive, em seu próprio telefone celular — chegavam em tom de ameaça se a comentarista política do grupo Globo comparecesse na feira literária.

Continua depois da publicidade

— Foi uma ameaça à democracia — lamentou o coordenador sobre o episódio.

Também escritor, Schroeder acabou citando a mesma frase usada por Miriam, no comentário que ela fez durante o Jornal da CBN, na manhã desta quarta-feira (17).

— A intolerância, desta vez, venceu. Tão logo anunciamos a presença dela e de Sérgio Abranches, começaram a surgir no site centenas e centenas de comentários vexaminosos. Depois, circularam também nos grupos de WhatsApp. Era uma mensagem por minuto — declarou Schroeder.

A Feira do Livro está marcada de 8 a 18 de agosto. Miriam e Abranches participariam de uma mesa de debates no dia 15, chamada “Biblioteca Afetiva”. Schroeder se disse envergonhado e impotente diante da situação — ele foi contra o cancelamento do convite aos dois escritores, mas isso acabou sendo confirmado pela comissão organizadora nesta terça-feira (16).

Continua depois da publicidade

O coordenador artístico acredita que a feira é um espaço para a diversidade de ideias — já estiveram presentes nomes como Lobão, em 2012, e Gregório Duvivier, em 2015. Schroeder relacionou o caso ao que ocorreu com o jornalista Glenn Greenwald, do portal The Intercept, quando manifestantes tentaram impedir sua permanência em Paraty (RJ) na edição da Feira Literária, semana passada.

Corte a Miriam Leitão: UFSC também sofreu tentativas de censurar palestrantes em 2019

— Em Paraty, havia cerca de 500 pessoas se manifestando contra, mas umas 3 mil ouvindo o Glenn. Aqui seria o contrário, uma batalha campal. O evento é pequeno, não tem tanto orçamento. E precisaria ter quantos seguranças, 200, 300? A gente não conseguiria nem sair para jantar — alertou Schroeder, sobre a impossibilidade de garantir a segurança física dos convidados e do público.

Ainda segundo o integrante da organização da feira catarinense, o evento literário só não foi cancelado devido às pessoas que vão marcar presença, boa parte delas crianças.

"Tenho vergonha de dizer a Miriam Leitão que não tenho como garantir sua segurança", diz coordenador da Feira do Livro

Continua depois da publicidade