As noites de verão são muito quentes. Mas isso não impede que uma sala de uma academia em Joinville fique lotada. São 22 horas e pouca gente desistiu de bater nos sacos de areia pendurados. Quem coordena a aula de boxe é Sergio Oliveira, o Serginho. Há 20 anos em Joinville – nasceu em Engenheiro Beltrão (PR) -, o pugilista de 36 anos dá aulas para 120 alunos.

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Hoje tem família constituída, emprego garantido, vida estável. Mas nem sempre foi assim: até aportar em terras catarinenses, ele travou algumas lutas, nos mais diferentes ringues.

O sorriso é fácil, mesmo ao falar da temporada que passou em Igaratá (SP). A família de seis irmãos era humilde e aos 13 anos Sergio saiu do Paraná para tentar a vida no interior paulista. De dia, trabalhava pesado em uma verdureira. À noite, a casa era o abrigo improvisado embaixo de um viaduto, onde morou até os 17 anos.

– Comia as frutas e verduras que sobravam -, lembra.

Mas o menino nem precisou andar muito para encontrar o destino certo. Aos 14 anos, passou em frente a uma academia perto de onde trabalhava e resolveu entrar. Levou pouco tempo para que quem passasse pela rodovia, visse jovens praticando boxe embaixo do viaduto.

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Adauto Ferreira, 42 anos, já é aluno veterano. Tem aulas com o pugilista há sete anos.

– O Serginho é cativante, além de ser atencioso nos treinos.

Já os planos de Fernando Martins são outros. No lugar das chuteiras e camisa do JEC, ele preferiu o protetor bucal e as luvas. Escolheu o boxe há um ano e meio e desde então tem aulas com Serginho.

Aos 19 anos já participou de alguns campeonatos. Hoje é dia de competição em Balneário Camboriú na primeira etapa do Campeonato Catarinense e o estudante já garantiu lugar.

– Além da minha família, ele é quem mais me incentiva -, conta.

Por falar em família, a de Sérgio conta com Claudia há quatro anos. Casada com o lutador, o encontro não poderia ter sido em outro lugar:

– Nos conhecemos numa luta, quando ele tinha cortado o supercílio.

No campo profissional, Sergio lamenta a falta de incentivo da Federação Catarinense de Boxe. Segundo ele, há poucas lutas em Joinville. Ainda assim, algumas premiações foram decisivas para a carreira do boxeador. No rol de troféus, o de campeão dos campeões, em 2002, o de campeão interclubes no Canadá, em 2003, e o do Desafio Internacional de Boxe, em 2008.

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O espírito competitivo acompanha qualquer atleta, mas, além das lutas, Serginho gostaria de se dedicar a outro projeto.

– Meu sonho é abrir um centro de treinamento que acolhesse jovens carentes -, conta.

A ideia é complementada por outra que só não saiu do papel por estar nele há algum tempo.

– Faz uns dois anos que escrevo um livro contando a minha história -, revela.

Ele conta com a ajuda dos irmãos para o material ser publicado. O lucro das vendas, diz Sergio, será revertido em ações sociais.