O bíblico dia de ontem raiou na paisagem do Éden, sob os auspícios do Todo Poderoso.

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E refletiu a Lagoa da Conceição picotada em ondas e ondinhas, plissada em camadas, ao sabor de um nordeste moderado, mas obsessivo, acostumado a levantar a barra da saia das dunas e das donas.

Ah, meu Deus, quero Te agradecer.

Pela ventura de morar aqui, neste recanto que modelaste “pessoalmente”, juntando montanha , mar, dunas, rios, lagoas, enseadas e praias de areia fina – tudo ao alcance de um único relance.

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Obrigado. Uma beleza dentro da outra, como se nossa paisagem fosse uma daquelas bonecas russas, as matriozkas. Você abre uma e surge outra, e outra, num ponto menor, como se fosse possível repetir e “encarcerar” a beleza – egoisticamente, na palma da própria mão.

É tanta a formosura desta terra que já posso parodiar o poeta e, à maneira de Shakespeare, suspirar: – Ver a Lagoa da Conceição e depois morrer…

Mas não! Toda essa luz, esse facho prateado que se derrama, por pura magia, sobre a lâmina enrugada da Lagoa, é um convite à vida e aos seus prazeres. O sol desce de asa delta sobre a encosta de dunas e dos baixios, numa saudação às tatuíras, aos siris e às rendeiras da Avenida.

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É muita beleza para o humano farolzinho de minha emocionada retina. E é impossível descrever esse “milagre” só com palavras, um prodígio que só os olhos podem testemunhar.

Parece que tive a ventura de testemunhar na cristalina manhã de ontem a própria cópula do sol com a Lagoa, nos primeiros momentos da distribuição da luz sobre a Terra.

É como se o Senhor permitisse a repetição, em DVD, de toda a história da Criação.

É muito provável que a Ilha de Santa Catarina tenha sido a última tarefa do Criador, momentos antes de descansar o Seu pincel, sintetizando todo o seu capricho e todo o seu zelo na composição da obra-prima matinal.

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Partilho com o leitor essa minha emoção de ilhéu-coruja, mas, ao mesmo tempo, quero ser prudente, para recomendar:

– Por favor, não espalhem! Por favor, não propaguem essa beleza! O alarde terá como custo a sua extinção…

Não queremos perder essa relíquia pela super-exposição ao olho cúpido do homem. A melhor homenagem que se presta a essa sinfonia de beleza é deixar que sobre ela se perpetue a virtude do silêncio e a contemplação do olhar.

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