Vendo São Joaquim nevada como se fosse a estação de esquis de Megéve ou de Las Leñas, fico imaginando se Floripa também se vestisse de branco, com direito a bonecos de neve para a criançada e atestado de “falta justificada ao trabalho” para os adultos.

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Um trator limpa-trilhos começaria, de manhãzinha, a remover o “glacê” branco sobre as pontes Colombo Salles e Pedro Ivo. Um exército de caçambas, enfileiradas nas cabeceiras continental e insular, tentaria remover todo aquele “creme de barbear” acumulado. A Hercílio Luz, coitada, correria o risco de desabar ao peso desses cristais empilhados, essa cobertura de neve esticada sobre a sua frágil estrutura octogenária.

E já imaginou o leitor, tendo que equipar-se de pá, carrinho de mão e muita disposição matutina para desbloquear a saída da garagem, entupida por metro e meio de neve?

Pensando bem, que bom que não neva nas grandes e médias cidades brasileiras. Já imaginaram o feriadão?

Seria o “enforcamento” geral, se tivéssemos esse merengue nevado obstruindo nossas portas e atravancando nossas já caóticas estradas.

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– Patrão, hoje não dá pra chegar…

– E por quê seu “mandrião”!?

– Vou ter que chamar a Defesa Civil. Minha mulher nem pôde sair de casa pra comprar pão e leite. Talvez os Bombeiros…

A primeira resposta do Estado não seria uma “ajuda”. Seria mais um imposto. O INII – Imposto sobre Neves e Intempéries de Inverno, que logo se consolidaria como o nosso milésimo imposto. Nevou, pagou! Imposto no Brasil, como se sabe, é o avesso de neve. Não derrete nunca.

Estou pra subir a serra, a fim de “caçar” algum frio. Imagino-me personagem de Jack London ou Boris Pasternak – o criador da Lara do doutor Jivago, “soap- romance” dos tempos da Guerra Fria.

– Ah, queridas Laras do meu Inverno tão almejado, quero ser vosso Jivago!

Vou pedir ao “olheiro” das tainhas que fique também “de olho” nas nuvens carregadas de neve. E que um capricho do Arquiteto Supremo sopre essas nuvens em direção à Ilha, só para que possamos viver nosso dia de São Petersburgo, Estocolmo ou Anchorage.

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Nesse dia raro, os ilhéus já sabem:

É “forca” no trabalho, “romance” em casa com a patroa e uma taça do tinto chileno “Don Melchior” nos lábios – néctar que vem a ser o “Romanée Conti” dos remediados.