O grave da greve é que ela distorceu o seu mérito reivindicatório para atacar um povo indefeso. É a greve da quádrupla aliança: a Prefeitura reticente há 12 anos, a Câmara inerte, os empresários insensíveis e um sindicato raivoso – todos contra um povo a pé.

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É a greve dos que abandonaram o povo e fizeram a opção preferencial pela BMW. Ou alguém acha que os donos das Mercedes e das Pajeros sofrerarão com a greve?

Greve não funciona bem com raiva e exasperação. Nem se discute que é um direito do trabalhador. Mas até a greve deve ter suas regras: manter parte da frota de coletivos em circulação, por exemplo. Apunhalar o povão ao raiar da manhã é uma atitude de estúpida “traição”.

Sem nenhum rancor desse movimento paredista, desde que não dirigido pela cegueira, já fui vítima de algumas greves francamente incômodas. Já carreguei bagagens de “safári” num aeroporto em que até os “carrinhos” foram confiscados pelos grevistas. Chamados trolleys no Aeroporto de Portela do Sacavém, Lisboa, os “carregadores” seqüestraram aquele auxílio sobre rodinhas – e todo mundo teve que arcar com o peso das próprias malas.

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Foi também no “Jardim da Europa à beira mar plantado” que me vi obrigado a refluir medonho desarranjo no exato momento em que um zelador do banheiro de Sacavém anunciou o “movimento paredista”, que incluía, também, os “vasos de loiça”…

Já vi greves de todos os tipos e matizes – menos uma que se “matriculasse” no objetivo de deixar o povão a pé.

Pelo andar da carruagem, não está distante o dia em que o Brasil amanhecerá afogado numa incontrolável onda grevista, em que se negará oxigênio aos viventes e água aos sedentos.

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