De repente, não mais que de repente, Santa Catarina veste a sua face invernal, ocupa os vídeos de todo o Brasil com a sua “porção” européia, sua paisagem alpina, suas árvores maquiadas pelo branco das geadas, a expectativa da neve atraindo os turistas. Nosso homem do tempo, Leandro Puchalski, alerta para o lado menos romântico desse inverno europeu: geadas tornando as estradas perigosas e um frio persistente congelando até a alma das pessoas.

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Os Catarinas esperam que as boas notícias prevaleçam sobre as más e até manifestam a esperança de uma nevasca que produza menos temor e mais cartões postais. Telhados tingidos de branco, imitando a cautela das coberturas européias, concebidas em ângulo agudo para fazer a neve escorregar, evitando a sobrecarga das cumeeiras.

Tudo mudou no rosto de Santa Catarina. E desfilamos pela telinha da tevê os nossos pulôveres coloridos, os nossos cachecóis, as nossas peles, a maioria delas “postiças”, para que se cumpram os evangelhos da bíblia politicamente correta e ecologicamente sustentável.

No último altar antes das coxilhas de São Joaquim e Lages, as ravinas geladas da Serra do Rio do Rastro convidam os turistas a “posarem” de doutor Jivago e Lara, criaturas de Bóris Pasternak. O ideal desse romance meteorológico é a combinação de céu azul com frio civilizado, no lugar de só frio e chuva.

Sol em dia de frio é sempre bem-vindo. Atrai os homens como o mel atrai as moscas. Homens e bichos sabem dedicar a ele, ao “aquecedor” astral, uma intimidade de amantes, num jogo em que os afagos acontecem através desse “calorzinho” localizado.

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Meu reino pelas manhãs frias e claras, a vista enxergando ao longe o púbis das montanhas.

Meu reino por um ocaso raro, daqueles que só acontecem no Inverno, debruando em tons rosados o nariz do Cambirela – o sol “aconchegando-se” lentamente por trás da Serra do Mar.

Meu reino pelas noites de plenilúnios, as estrelas “acesas” pela atmosfera depurada, permitindo contar os astros – “distraidamente”, como na canção – sem medo de ficar com verruga no dedo.

Meu reino por saudar a chegada do frio com uma taça de vinho da cor do rubi – enquanto lãs delicadas aquecem o meu peito e pacificam o meu coração.

Meu reino, enfim, por testemunhar o último lance de tainhas ovadas do ano – digno de causar inveja até mesmo aos apóstolos amigos do Nazareno, aqueles santos que presenciaram o milagre da multiplicação.

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