Ser pai é a coisa mais comum do mundo. As sete bilhões de pessoas no mundo vieram de um. Não do mesmo cara, imagina o cansaço do sujeito, mas todo nascimento, desses sete bilhões, teve um dedinho de um homem (na verdade outra coisa). Mesmo assim, cada pai é um deslumbrado. Cada descoberta de gravidez é chocante. Cada parto é pateticamente acompanhado por um pai nervoso, atrapalhado, nauseado pelo sangue, dificultando a passagem de médicos e profissionais pela sala de parto. Todo pai é um atrapalhado. O atrapalhado mais comum do mundo.
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Mesmo com toda a normalidade do evento, o pai ainda não está preparado. O vô não preparou o pai. Não deixou o pai brincar de boneca quando era criança com medo dele afeminar. Agora o pai tem que aprender a segurar o bebê, a trocar fralda, a dar de mamar. O pai, pateticamente atrapalhado, aprende tudo isso. O pai aprende tudo. A acalmar a criança, a alimentá-la, a fazê-la dormir. O pai aprende a ver a criança crescer. O pai se orgulha com cada conquista infantil.
O pai se emociona com qualquer presente. Qualquer desenho em que a sua cabeça está grande demais, qualquer cartolina escrita “eu te amo”. São os presentes mais comuns do mundo, mas para o pai são únicos. O pai se emociona ao ver o filho falar pela primeira vez. Todas as crianças falam, um dia. Mas o pai acha que aquele é um momento histórico. Alguns pais filmam o filho falando palavras embaralhadas. Alguns pais choram com isso.
O filho irá para a escola e o pai achará que cada nota alta é a prova de que é um filho fora do comum. Na formatura, serão cinquenta formandos mas o pai achará que seu filho é especial. Serão cinquenta pais achando que seus cinquenta filhos são extraordinários, inteligentes demais, brilhantes demais. Todo final de semestre milhões de alunos se formam no mundo. E milhões de pais acreditam que aquele é um momento único.
Ser pai é a coisa mais comum do mundo. Todos os dias nascem crianças, crescem jovens, se formam adultos. Todos os dias a paternidade se torna cada vez mais trivial, mais corriqueira. Ainda assim, cada pai se sente especial. Cada pai se emociona com cada momento comum. Todo pai é um apaixonado por banalidades. Como quando seu filho aprende a dirigir. Como quando seu filho se casa. Como quando seu filho terá um filho.
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Ser pai é a coisa mais comum do mundo. E, ainda assim, cada pai acha que é extraordinário. Porque, na verdade, é mesmo.
Marcos Piangers, jornalista, apresentador do Pretinho Básico, da Rádio Atlântida, e autor do livro O papai é pop.
Pai da Anita e da Aurora.