Daniele Brito, 32 anos, é mãe da Bia, nove anos, e do Otto, quatro
Autora do blog balzacamaterna.blogspot.com.br
Como ser mãe quando impera a lei do menor esforço? Quem me acompanha, mas quem me acompanha mesmo a ponto de me conhecer minimamente, sabe que não gosto de estar envolvida em assuntos polêmicos, que geralmente entram em combustão com argumentos muito rasos para sustentar uma ideia, uma opinião. Não tenho tempo nem estômago para administrar isso. Muita gente deve ter uma ideia equivocada sobre mim pelo fato de eu escrever sobre maternidade e postar muitas coisas relacionadas a isso na fan page do blog (www.facebook.com/balzacamaterna). Devem me achar uma supermãe, aquela que está acima do bem e do mal, que certamente não reclama de nada e que vive eternamente feliz. Não gosto desse rótulo e muito menos o reivindiquei pra mim.
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Quem me acompanha sabe que sou uma mãe em transformação, uma pessoa em transformação. Escrevo mais sobre meus erros do que sobre meus acertos. Escrevo ainda sobre as coisas que descubro, que me fazem entrar numa catarse sofrida e me modificam. Como mãe e como ser humano. Fui mãe pela primeira vez em 2003. Não tínhamos redes sociais e as informações estavam todas compiladinhas em portais www. Ainda assim, procurei me cercar de uma quantidade gigantesca de informação. Fiz minhas escolhas baseadas não só nessas, mas em vivências familiares.
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Como mãe, fui eu quem decidiu o parto. Desconhecia o termo violência obstétrica, achei injustas as intervenções no primeiro parto (natural), o descaso dos profissionais de saúde que me cercavam, mas nunca me ocorreu que nós _ a sociedade _ teríamos argumentos e força para lutar contra um modelo obstétrico em vigor há pelo menos um século. Chorei ao saber da episiotomia, mas ingenuamente, achei que fizesse parte do pacote. E contra aquilo não me voltei. Como mãe, fui eu quem decidiu não perseverar na amamentação dos dois filhos! Quem me vê defendendo a amamentação prolongada acha que amamento meus filhos até hoje! A mais velha mamou até os quatro meses, quando acabou minha licença-maternidade. Ouvindo conselhos do pediatra e de posse de informações equivocadas em revistas, julguei ter feito a minha parte. “Mamou o suficiente”, dizia. O segundo, querendo amamentar até os dois anos ou mais, com leite suficiente pra isso, fui mal orientada por um profissional da saúde. Meu filho tinha refluxo e eu, hiperlactação. Ele não conseguia mamar e eu chorava. O pediatra deu o diagnóstico: manha. E eu sucumbi ao fracasso. Tendo refluxo, nenhum outro leite seria bom pra ele como o meu.
Até bem pouco tempo _ pouquíssimo tempo, aliás _ tinha o maior preconceito contra a amamentação prolongada. Não sabia que era possível amamentar durante a gestação, muito menos que mulheres eram capazes de nutrir dois filhos em idades diversas. Meu desconhecimento me levou a falar muita besteira. Como mãe, fui eu quem optou pelo combo chupeta+mamadeira, reproduzindo um padrão de vivência familiar. Eu usei. Todos os meus irmãos usaram. Ninguém morreu, veja que beleza! Essas são as minhas escolhas. Não é porque as fiz que elas estão certas.
É muito cômodo escolher o caminho fácil quando não temos informação ou quando elas nos chegam de forma parcial. E, naquela época, eu queria me cercar de facilidades. O que estava por trás de todas essas minhas escolhas? Aprendi a me fazer essa pergunta. Existe mesmo livre escolha? Confirmar os vínculos com meus filhos exige de mim compromisso. Mudar, quebrar paradigmas pode significar sofrimento, mas também pode ser um antídoto, um alento. Finalmente, sair da caverna é penoso, mas é libertador.
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