Ao revelar nesta segunda-feira em Florianópolis os detalhes dos 15 dias do sequestro do empresário aposentado João José Gonçalves, 75 anos, a Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) relatou que apenas no 11º dia a família recebeu a primeira prova de que ele estava vivo. Foi por aúdios gravados com a vítima no cativeiro e enviados por telefone celular aos familiares.

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João foi levado por sequestradores no dia 10 de dezembro, em frente de casa, em São João Batista, mas o primeiro contato dos bandidos com a família aconteceu somente três dias depois.

A Divisão Antissequestro da Deic, especializada em investigar esse tipo de crime, acompanhou o caso durante os 15 dias, tendo sucesso na operação na sexta-feira de Natal, com a libertação de João do cativeiro, em Pontal do Paraná, litoral daquele Estado.

Estão presos dois sequestradores: Paulo Roberto Silva, 34 anos, que foi vizinho do aposentado e tinha informações privilegiadas, e Honorato de Jesus, 33 anos, de Guarapuava (PR). Os dois foram apresentados pela Deic nesta segunda, mas não quiseram dar declarações aos jornalistas.

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Ligações de quatro Estados

Para dificultar a investigação policial, os dois integrantes da quadrilha interestadual responsável pelo sequestro se deslocaram para outros quatro Estados ao longo dos 15 dias: Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. De lá, ligavam com DDD local na tentativa de desbaratinar os policiais sobre a origem do bando e a localização. A suspeita é que o grupo planejou o sequestro por três meses.

— Fizemos um trabalho cujos números extrapolam investigações rotineiras, analisando mais de 200 horas de imagens de câmeras de videomonitoramento, com a nossa equipe rodando mais de 20 mil quilômetros para localizar a vítima. Eles (sequestradores) estavam preparados e organizados para que o sequestro se desenrolasse por muito tempo, pelo menos um mês — contou o delegado da Deic, Anselmo Cruz, responsável pelas investigações.

O delegado afirma que o período natalino, onde as famílias costumam se reunir, foi devidamente escolhido pelos sequestradores para aumentar a tensão dos parentes de João José Gonçalves e aterrorizá-los — os criminosos exigiam R$ 8 milhões de resgate, que não foi pago.

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Foi depois da prisão de Silva e Honorato, em São Luiz do Purunã (PR), que a polícia estourou o cativeiro, em Pontal do Paraná, região de litoral daquele Estado. Durante os 15 dias, a vítima foi levada para três cativeiros.

— O seu João ficava todo o tempo num quarto trancado sem ver a luz do sol. Teve dia que comeu apenas uma refeição, sofreu maus tratos. Os sequestradores usavam bala clava (capuz) e o seu João também tinha que colocar quando precisava ir ao banheiro — descreveu o delegado

Quebra-cabeças de 10 mil peças

Na complexa investigação, que mobilizou toda a equipe da Divisão de Antissequestro durante 24 horas dos 15 dias, o delegado comparou o trabalho dos policiais como se fosse montar um quebra-cabeças e de 10 mil peças, a partir de cada pista que surgia e a continuação de inúmeras evidências.

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— A tamanha dedicação dos policiais foi determinante. Conseguimos uma investigação impecável, com números complexos, às vezes que ultrapassam até outras investigações complexas de facções criminosas — apontou Anselmo.

A polícia ainda procura mais envolvidos, que são de Santa Catarina e Paraná.

— A gente só tem a agradecer a polícia. É importante ressaltar que todo o momento tivemos o conforto e a confiança nos policiais — destacou o filho da vítima, Jurandir Gonçalves.

O prefeito de São João Batista, Daniel Netto Cândido, genro da vítima, também esteve na entrevista coletiva na Deic. A presença do secretário da Segurança Pública, César Grubba, que chegou a ser anunciada no domingo pelo governo não se confirmou e ele não compareceu.

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