Carros rebaixados, baladas automotivas, festas, praias, batidas pesadas, música eletrônica unida ao funk. Sensação musical em Santa Catarina há anos, o “mega funk” vive seu auge, ganha repercussão nacional e passa a projetar a cultura de festas de Santa Catarina ao Brasil. Um dos hits, inclusive, chegou a tocar em uma festa do Big Brother Brasil (BBB) 23, chamando a atenção nas redes sociais.
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O ritmo musical tem o funk como elemento principal, mas se soma a elementos da música eletrônica, com letras que falam, principalmente, sobre festas e relacionamentos. Além de samplear (inserir trechos de outras canções) e repetir o refrão de músicas que fazem sucesso.
Sem ano e região oficial de origem, artistas e produtores do mega funk catarinenses cravam que o ritmo nasceu em Santa Catarina, sendo um “hino” do Litoral, principalmente na temporada de verão.
Uma das defensoras dessa ideia é Carol Fedrizzi. Nascida em Lages, ela é uma das DJs que mais se destacam na cena musical do ritmo mega funk. Ela afirma que não há dúvidas de que o ritmo é catarinense.
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— Tem quem diga que não, mas não adianta. O mega funk é nosso, a gente conhece há muito tempo, ele se popularizou aqui com as festas automotivas — argumenta.
A história de Fedrizzi com o ritmo é inusitada, como ela mesma diz. Em 2018, ainda morando em Lages, conta que nunca tinha visto uma festa de mega funk na cidade, quando conheceu indo ao Litoral, ficou curiosa pelo som. A garota explica que já tinha noção de produção musical porque cuidava da rádio da escola em festas juninas. Com a experiência, usou a criatividade para produzir.
Após alguns experimentos, ela decidiu remixar o áudio de uma professora. A ideia, porém, não foi bem aceita pela comunidade escolar.
— Acabei me dando um pouco mal, quase fui expulsa da escola, minha mãe teve que ir no Ministério Público e no conselho tutelar. Foi um começo bem ‘engraçado’ — relembra.
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A ideia de que o estilo musical pertence a Santa Catarina é defendida por Jonatas Felipe, também DJ e produtor.
— Não dá para saber onde surgiu, mas onde ele se popularizou mesmo foi em Itajaí — diz.
A sua aproximação com o mega funk começou em 2015 e foi influenciada pelo irmão, que ouvia repetidamente o ritmo no carro. Ele então produziu uma música para o familiar, porém, conquistou diversos moradores do bairro.
— Pediram para eu lançar. Quando publiquei, vi que deu resultado. Continuei com o meu sonho de ser DJ e ver no que iria dar — relembra.
Sucesso em Santa Catarina
Ainda em Lages, Fedrizzi cita que já fez alguns dos seus sons virarem “febre”. O primeiro show aconteceu um mês após a primeira música viralizar. Apesar de apresentações no Paraná e Rio Grande do Sul, o sucesso dela e de Jonatas Felipe está consolidado, principalmente, no estado catarinense.
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— É o meu trabalho. Larguei faculdade e me mudei para o Litoral para me dedicar a minha carreira. Hoje eu sou muito contente — destaca.
Para ela, o mega funk vai levar a música e a cultura de Santa Catarina para todo território brasileiro.
— Eu acredito que isso já está acontecendo. Está chegando e sendo bem reconhecido. Não tenho a menor dúvida que a gente vai chegar muito longe ainda — fala.
Para Jonatas, assim como os outros estados do Sul do Brasil “abraçaram” o estilo musical, outras regiões do país também devem aderir.
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— O mega funk pode se tornar nacionalmente. Acho que vai chegar em muitos lugares, vai ter muita evolução. O legal da música é isso — pensa.
Em janeiro, a música “Mega do Akon”, uma “versão mega funk” do hit Sexy Chick, de David Guetta e Akon, tocou na primeira festa do líder no BBB23. A escolha foi feita pela participante catarinense do reality, Larissa Santos, que dividiu a temática da festa com Bruna Griphao. O som é assinado por Jonatas Felipe.
larissa fez o mega funk do sul tocar no bbb, te amo lari te amo pic.twitter.com/my97mYJ5Aw
— let. cia (@apegadaf) January 21, 2023
Para o DJ, o sentimento foi de loucura ao saber que a faixa de sua autoria tocou no reality show. Ele conta que centenas de pessoas começaram a enviar mensagens nas redes sociais, contando o acontecido. Sem entender, Jonatas diz que, no primeiro momento, se assustou. Depois, compartilhou o momento diversas vezes.
— Comecei a postar nos stories, reels e feed do Instagram. Postava tudo que eu via. O impacto quando tocou no BBB foi muito bom. Agora a galera está começando a ter uma ideia de que o mega funk não é um negócio só de Santa Catarina — destaca.
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e a catarinense larissa do bbb que quer disseminar o MEGA FUNK, uma das poucas coisas boas aqui de SC, para TODO O BRASIL!!!!
— pet cafer 🐶☕ (@petcafer) January 20, 2023
e vamos de TUM-TUDUM-TUDUM-TUDUTUDUTU-TUM-TUDUM-TUDUM-TUDUTUDUTU-TUM-TUDUM-TUDUM-TUDUTUDUTU-TUM-TUDUM-TUDUM-TUDUTUDUTU-TUM-TUDUM-TUDUM-TUDUTUDUTU-TUM-TUD pic.twitter.com/SFOFjnMAQA
“Nosso segmento é muito machista”, afirma Fedrizzi
Apesar das conquistas e sucesso, Carol Fedrizzi explica que precisa enfrentar desafios além da técnica de DJ e produtora: o machismo. Para ela, o preconceito se dá, inicialmente, pela quantidade maior de homens trabalhando neste ambiente.
— Não dá para comparar com a quantidade de homens. Acredito que isso aconteça porque o nosso segmento é muito machista — lamenta.
A catarinense acredita que o fato de trabalhar no período noturno, com pessoas ingerindo bebida alcoólica, pode tornar o ambiente hostil para mulheres. Além disso, o preconceito também é praticado por parte dos contratantes, que oferecem um pagamento menor do que aos homens.
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— São ambientes mais propícios, com mais capacidade da gente receber assédio, de não recebermos um tratamento legal, de sermos menosprezadas. Inferiorizadas não pelo público, mas pelo contratante que, às vezes, quer pagar um cachê inferior — conta.
Fedrizzi critica que as mulheres, mesmo no cenário musical, precisam passar por situações que homens não precisam vivenciar.
— Apenas para conseguir o básico. Isso acaba sendo bem desgastante — expõe.
Festivais e parcerias
Apesar do sucesso consolidado em Santa Catarina, a dupla catarinense tem o desejo de avançar em conquistas maiores, rompendo fronteiras estaduais.
Para Jonatas Felipe, o foco principal é tocar em grandes festivais nacionais, aumentando o alcance do mega funk pelo Brasil.
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— Para muitas pessoas conseguirem ouvir e conhecer o mega funk — analisa.
Ele e Fedrizzi caminham juntos na ideia de formar parcerias com artistas nacionais, incluindo os de outros gêneros musicais.
A produtora ainda ressalta a importância de lançar novas músicas autorais para alcançar o topo da lista de plataformas de streamings.
— Pretendo lançar vários [sons] autorais. Um dia a gente chega lá e faz o ritmo se espalhar cada vez mais — finaliza.
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