A calmaria no bairro São Pedro, em Navegantes, e os olhares receosos dos poucos moradores que saíam de suas casas demonstram o clima de medo e comoção com a morte do jovem Gabriel Felício Rodrigues, de 15 anos.

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O rapaz foi atingido por um tiro na perna durante confronto entre a Polícia Militar e pessoas que participavam de uma farra do boi no molhe da barra do rio Itajaí-Açu na madrugada deste sábado.

Um homem, que não quis se identificar, diz que a farra começou por volta das 22h30min e foi até as 5h. Para ele, a polícia poderia ter agido de forma mais branda.

– Podiam ter usado balas de borracha para “correr” quem estava brincando na farra. Mas os policiais jogaram duas bombas na casa de uma mulher que não tinha nada a ver com a história, nem sabia o que estava acontecendo – explica.

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Segundo ele, a PM já chegou atirando nos farristas e pegou até quem não estava participando.

– Eles chegaram e já deram quatro tiros. Onde tinha luz nas casas eles iam entrando, todo mundo ficou apavorado. E quem tinha que trabalhar de manhã cedo nem saiu de casa – relata.

Já uma mulher, que participava da farra e não quis se identificar, conta que os moradores também atiraram pedras e galhos nos policiais.

– Os farristas fecharam a entrada do molhe para que não levassem o boi, mas não foi uma guerra como estão falando. Os policiais atiravam com bala de borracha e spray de pimenta, jogavam bombas até em quem estava assistindo e alguns moradores revidaram com pedra e galhos. Acho que mesmo assim não justifica, não dá pra por a culpa só nos farristas – argumenta.

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A mulher explica, ainda, que quase toda comunidade estava acompanhando a ação, crianças, jovens, adultos e idosos. Ela afirma que várias pessoas se jogaram na água para escapar da PM e que viu o momento em que o garoto levou o tiro.

– Os policiais estavam voltando do farol com o boi amarrado em uma corda e o guri estava na entrada do molhe junto com os outros. Dai de lá veio um tiro e acertou ele – lembra.

Dormir cedo

Um homem, que também reside no São Pedro e não se identificou, salienta que sempre foi contra a farra do boi.

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– Eu nunca gostei, mas o pessoal ai gosta de fazer e a gente não pode fazer nada – comenta.

Outra moradora afirma que todos do bairro gostam de dormir tarde e fazer rodas de conversa à noite, mas neste sábado não vão poder.

– Ninguém anda na rua nessa noite porque os policiais já vão chegar humilhando e batendo, é sempre assim depois que acontece isso.

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