Dona de um talento e uma disposição que não se vê todo dia, Sulamita Mattos Leite, a Sula para os mais íntimos, tem uma missão desafiadora este ano. Aos 81 anos, ela quer reunir todos os amigos da adolescência que escreveram em seu álbum de poesias, um caderno que ela guarda como um tesouro. Parece difícil, mas este será o terceiro encontro do grupo.

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Tudo começou há 65 anos , em 13 de junho de 1947, quando ela tinha 15 anos. Sem televisão, internet, CD´s ou rádio, Sula e seus amigos de colégio iam à igreja e à praça para se encontrarem. Ela amava dança e teatro e sempre gostou de escrever. Nesta data, um mês antes de completar 16 anos, pegou uma caderno com capa dura e entregou aos amigos para que cada um deixasse uma poesia nas páginas. O tema era livre, poderia ser um texto de qualquer assunto, de todos os tamanhos. O ideal era que tivesse uma foto pequena do autor e no final o nome de quem escreveu.

E foi assim, passando uma temporada em cada casa, que o livro de dona Sula foi crescendo. As páginas ficaram recheadas de poesias. As letras dos 40 autores demonstram que todos tiveram muito cuidado para escrever, são sílabas perfeitas, quase desenhadas na página. Os textos remetem aos sonhos e aos sentimentos dos jovens daquela época. Amor e amizade foram os assuntos preferidos.

Sulamita estudou até o extinto primário, hoje fundamental, e casou-se aos 22 anos com Paulo Leite, o único do grupo de amigos que se recusou a escrever no álbum. Uma das hipóteses da escritora é que ele tinha ciúmes do caderno ou de algumas das poesias. Uma delas, era a poesia escrita por Pedro, um namorico de Sula antes do casamento. O jovem fez questão de escrever mais de um texto, todos dedicados à ela.

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Com Paulo, Sula teve quatro filhos, duas meninas e dois meninos. Morou 13 anos em Joaçaba, foi professora por 16 anos e funcionária do Ministério do Trabalho até os 48 anos, quando se aposentou. Hoje, mora em São José onde passou a juventude e criou o álbum. Tem oito netos e três bisnetos e ficou viúva há cinco anos.

Entre tantos altos e baixos da vida, Sulamita jamais esqueceu dos amigos e uma vez ou outra lia novamente as poesias. Em 1997, quando o álbum completou 50 anos, ela teve a ideia de reunir todos para uma comemoração, começando mais uma jornada no universo das lembranças.

Sula conta que “deu um jeito” para encontrar todo mundo só com números antigos de telefone em mãos. Assim, ela foi descobrindo quem ainda estava vivo e disposto a se rever. Dos 40, ela reuniu 32. Até uma amiga que estava morando em Porto Alegre viajou para o encontro.

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Sula fez da ocasião um grande evento. Reservou uma data no clube 1º de junho, na Praia Comprida, em São José, decorou mesas, ofereceu salgadinhos, bebidas e até um bolo em forma de álbum.

– Foi um momento único, mágico. A amizade e o carinho registrados no caderno foram meus estímulos para uma vida de muitas alegrias – conta.

Naquele ano, ficou acertado que o grupo se encontraria a cada dez anos e o segundo encontro veio em 2007, desta vez em um rodízio de sopas para cerca de 20 participantes.

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– O número menor não nos desanimou e pensamos em diminuir o tempo entre as comemorações para a cada cinco anos, afinal, a cada ano morre mais amigos, todos temos a mesma faixa etária, vem os problemas de saúde, essas coisas – relata.

E 2013 é o ano do terceiro encontro. Em junho, o álbum completa 66 anos e Sula acredita que a reunião precisa acontecer antes disso.

– Novamente vou dar um jeito de encontrar todo mundo – diz.

Procura-se

Você conhece os autores do álbum de dona Sula? A maioria morou na Praia Comprida, em São José, na década de 1940. Se reconhecer alguém ligue para (48) 3247-4195.

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