Limite. Palavra de significado diferente para o engenheiro de minas Djalma Moura. Enquanto o dicionário indica para formas de fronteiras, o senhor a tem como desafio. Comprovou isso no ano passado, ao cruzar 42 quilômetros sobre o gelo e a neve da Antártida. Ganhou no extremo sul o combustível para, no próximo mês, encarar a maratona mais gelada do planeta, no Polo Norte. Na plena forma dos 61 anos, será o brasileiro mais velho a correr estes dois desafios.

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A largada do pernambucano que mora em Florianópolis há 36 anos foi dada pela televisão. A Corrida da São Silvestre, ainda era disputada à noite quando fascinava Djalma. Sentimento transformado em desejo. Passou a correr para um dia estar pelas principais ruas do centro de São Paulo. Desejo concretizado em 31 de dezembro de 2004, quando foi com toda a família para o primeiro desafio – embora a estreia em provas tenha ocorrido antes, em Florianópolis, como preparação. Experimentou a “cachaça” da corrida, não parou de beber da fonte.

A vontade ganhou fôlego, traçou novos objetivos. Dos 15 quilômetros da mais tradicional corrida de rua do Brasil, mirou as maratonas. Três anos depois completava a primeira, em Florianópolis mesmo, quando iria usar a prova para treinamento. A meta era superar 30 quilômetros, fechou os 42 quilômetros. Depois vieram as mais significativas da vida.

A companhia de um amigo foi determinante, acredita, para o melhor tempo pessoal em maratona. Em Buenos Aires, no ano de 2013, completou o desafio 3 horas e 43 minutos. Em 2016, em Porto Alegre, conseguiu índice para a sua idade e teve o privilégio de correr a maratona mais rápida do mundo, em Berlin. Enquanto corria pelo mundo, tinha na cabeça outro desejo gerado pelo que viu na televisão. Em 2011, acompanhou pela telinha o repórter Clayton Conservani enfrentar a maratona no gelo da Antártica. Djalma pensava nela como pensava na São Silvestre desde a década anterior.

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— Era um sinal que não apagava. Falar sobre aquilo me causava maior entusiasmo. Já corri em provas do Brasil e fora do país, mas queria ir rumo ao desconhecido. E só através de bom planejamento, que contemple condição física, psicológica e toda a cultura do frio poderia fazer uma boa prova.

Os treinamentos foram alterados. Desde então, são dois treinos de corrida e outros dois de exercícios funcionais ao longo da semana, as atividades “normais”. Para simular a neve, corre uma vez da semana sobre areia fofa, em alguma praia ou na pista da Sociedade Hípica Catarinense. Outro treino é na câmara fria, em uma peixaria do bairro João Paulo, em Florianópolis.

— É mais um treino de aclimatação. Vale também para eu fazer testes, como roupa e hidratação. Procuro sentir meu corpo, concentrar a atenção em algum ponto — explica.

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Com esta preparação, conseguiu completar os 42km sobre o gelo e a neve na Antártica em cinco horas e um minuto, a maratona mais ao sul do mundo, em novembro do ano passado. Com esta mesma preparação, vai encarar outra no oposto do globo, no Polo Norte.

Sob temperatura na casa dos 40 graus negativos e rajadas de ventos que fazem a sensação térmica diminuir ainda mais, Djalma Moura vai encarar a prova mais fria do planeta. Como na anterior, vai levar carregar entre os apetrechos duas bandeiras: a brasileira e a da doação de órgãos.

— Para mim, a corrida é uma oportunidade ao crescimento e ao aprendizado. Ao compartilhar isso com as pessoas consigo de alguma forma estimular as pessoas para a prática do esporte. Acho que apenas por isso já valeu a pena — conta o senhor de gelo, com o coração quente.

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(Foto: Marco Favero / Diário Catarinense)

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