A sessão desta segunda-feira da comissão do impeachment foi marcada mais uma vez por confusões entre senadores, causadas principalmente pela interrupção da fala dos convidados. Em um desses momentos, governistas não perdoaram e aproveitaram para relembrar que um dos mais combativos senadores de oposição, o goiano Ronaldo Caiado (DEM), votou contra o impeachment do ex-presidente Collor.

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Na época, Caiado era deputado federal pelo extinto PFL e integrava a chamada “tropa de choque de Collor”. Ele seguiu até o fim ao lado do presidente, que foi afastado.

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A confusão começou quando a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) interrompeu o procurador do Tribunal de Contas da União (TCU), Júlio Macedo de Oliveira. O especialista participou da comissão à convite da oposição. Ele foi contestado durante seu tempo de fala e começou a discutir com Gleisi se o Plano Safra estaria ou não nos relatórios enviados pelo TCU ao Congresso.

— Vossa excelência vai dizer que não é, eu vou dizer que é, e vamos ficar assim — reclamou das contestações.

Enquanto isso, outros senadores interferiam na discussão e o som da campainha tentava abafar as divergências.

— Assim não é possível! — reclamou Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

— Ou é mantido o tempo, ou teremos que dar mais tempo ao convidado — disse Caiado entre tentativas da senadora Ana Amélia (PP-RS), que presidia a sessão, de conter a bagunça.

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— Veja bem, essa complacência é só porque é do PT? — reclamou Caiado, criticando as falhas nas tentativas de Ana Amélia de impedir as interrupções da senadora Gleisi.

— O senador Caiado quer ser o comentarista — zombou o petista Lindbergh Farias (RJ).

— Pelo amor de Deus! A toda hora você interfere! É falta de educação — rebateu Caiado.

— Falta de educação sua, que votou contra o impeachment de Collor — contra-atacou Lindbergh em referência a Caiado.

Para acabar com a discussão, Ana Amélia precisou cortar os microfones.

Discurso

Caiado é um dos 14 senadores em exercício atualmente que votaram no processo de impeachment de Collor em alguma fase da tramitação, mas foi o único a ser contra o afastamento. À época, apenas dois políticos desse grupo ocupavam a cadeira de senadores: Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e Raimundo Lira (PMDB-PB), que hoje, inclusive, preside a comissão especial de impeachment de Dilma. Os demais eram deputados.

Na sessão de 1992, na Câmara dos Deputados, Caiado defendeu que o impeachment de Collor era um “golpe”, mesmo argumento dos governistas que ele contesta hoje.

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— Cidadão simples lá do interior sabe muito bem que há uma montagem, uma farsa que não convence ninguém. Isso nada mais é do que um golpe pela tomada ao poder, que parte de quem não teve competência para ganhar na urna e não se curvou diante da decisão maior em 1989 — disse em discurso durante a sessão.

Outros argumentos que hoje são usados pelos governistas como “impedimento do direito de defesa do presidente” e “falta de competência para ganhar nas urnas” também podem ser encontrados nas notas taquigráficas do Congresso Nacional, mas proferidos por Caiado 24 anos antes.

Confira outros senadores, e seus partidos na época, que participaram da votação pelo impeachment de Collor e qual sua posição:

Aécio Neves (PSDB-MG): Sim

Eduardo Braga (PDC-AM): Sim

Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE): Sim

Garibaldi Alves Filho* (PMDB-RN): Sim

José Maranhão (PMDB-PB): Sim

José Serra (PSDB-SP): Sim

Lúcia Vânia (PMDB-GO): Sim

Paulo Bauer (PSDB-SC): Sim

Paulo Paim (PT-RS): Sim

Paulo Rocha (PT-PA): Sim

Raimundo Lira* (PFL-PB): Sim

Ronaldo Caiado (PFL-GO): Não

Rose de Freitas (PSDB-ES): Sim

Wellington Fagundes (PL-MT): Sim

*Já eram senadores na época do processo, o restante eram deputados.

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