Foi unânime na bancada catarinense: os três senadores do Estado votaram pela manutenção da prisão do colega Delcídio Amaral (PT-MS), ocorrida na manhã de quarta-feira por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Na opinião de Dário Berger (PMDB), Dalírio Beber (PSDB) e Paulo Bauer (PSDB), não havia como ir contra a decisão da mais alta Corte do país por conta das provas consistentes da tentativa de interferência do colega nas investigações da Operação Lava-Jato.
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Para Dário Berger, senador em início de mandato, votar contra um colega de trabalho sempre é algo que pode causar embaraço, porém, após ler o relatório do caso, a manutenção da prisão se tornou a única escolha.
— É constrangedor cortar na própria carne, mas foi um dia histórico para o Senado, que não se curvou ao corporativismo — disse.
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Dalírio Beber foi na mesma linha. Segundo o parlamentar, que assumiu o mandato neste ano após a morte do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, a quarta-feira teve uma noite triste para o Senado.
— Não se queria derrotar ninguém, tanto que, depois da votação, houve um profundo silêncio. Foi um momento de frustração, de dor e tristeza. Saímos cabisbaixos, mas sabendo que nos manifestamos da maneira adequada — diz.
Já para o senador Paulo Bauer, a decisão não teve relação político-partidária. Segundo ele, era preciso preservar a instituição do Senado Federal.
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— O Senado é considerado o guardião da democracia. Temos que dar exemplos de que o Senado não compactua com o ilícito — afirma.
Veja abaixo o que disseram ao DC os senadores catarinenses:
Paulo Bauer (PSDB):

“Primeiro, faço questão de dizer que sou a favor do voto aberto. Não há, na minha biografia, qualquer compromisso com o segredo. É um direito dos eleitores saber a posição dos parlamentares. No caso da manutenção da prisão, meu voto não teve nenhuma conotação pessoal nem político-partidária. Acredito que precisamos preservar a instituição. O Senado é considerado o guardião da democracia. Temos que dar exemplos, como na cassação do Demóstenes Torres, de que o Senado não compactua com o ilícito. O Delcídio, por ser do PT, se envolveu com esse assunto. Pode — e eu disse pode — ter se beneficiado. Tinha muita relação com esse pessoal (da Petrobras). Essa tentativa de evitar que o Cerveró falasse alguma coisa é uma atitude ilegal. A decisão de manter a prisão tem absoluta relação com a preservação do Senado como instituição. Nós devemos varrer a corrupção do país. Desde o governo Lula, a corrupção é muito presente. Eu não tenho compromisso com o ilegal nem com o desonesto. O meu pai me ensinou desde pequeno: se fez errado, tem que pagar, doa a quem doer”.
Dário Berger (PMDB):

“O tempo passa, os conceitos mudam e a democracia avança. A transparência está sendo cada vez mais exigida. Nós não somos os donos dos nossos próprios mandatos. Você precisa estar muito atento à evolução das coisas, e o Brasil passa por uma grande transformação, um período de transição muito forte. No entanto, eu tenho a esperança de que tudo que está acontecendo possa representar um avanço no futuro, um avanço de igualdade. A partir de agora, o conceito de que todos são iguais passar a valer de verdade. Na hora de votar, eu agi com a consciência de ser um representante de Santa Catarina, compactuando com o desejo maioria. Li o relatório. Foi uma sucessão de investidas (do senador Delcídio) que fogem a regra e a naturalidade das coisas. Pra mim, é difícil e extremamente constrangedor dar um voto como eu dei ontem, mas a minha responsabilidade fala mais alto do que um desejo que eu poderia ter. É sempre constrangedor cortar na própria carne. Com o tempo, você acaba tendo até certa admiração pela pessoa, pois tínhamos um relacionamento no Senado.Há líderes e líderes (referência à condição de Delcídio de ser líder do governo no Senado). Há aqueles que se utilizam da força e há aqueles que se utilizam do conhecimento. O Delcídio sempre foi habilidoso, afável e respeitoso. Votar contra um colega foi constrangedor para todos, nós, senadores. Mas o Senado viveu um dia histórico e não se curvou ao corporativismo. Acho que isso está associado a esse novo momento que estamos vivendo. As decisões da mais alta Corte de Justiça devem ser respeitadas.”
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Dalírio Beber (PSDB):

“Foi um dia muito difícil para o Senado. Não se julgava que isso seria necessário. Não pela pessoa do Delcídio, mas pelo fato de vivermos um ano de 2015 de muita dificuldade, com crise econômica e política. Essa decisão repercute na vida das pessoas. Tem muitos desempregados no país e o desemprego deve continuar aumentando. Lamentavelmente, o Senado teve que ser convocado pelo que determina a própria Constituição, pela decisão monocrática do STF, depois respaldada pela Câmara. A primeira decisão, de voto aberto, reforça a transparência. Um homem público não pode mentir, ele representa uma nação. Esse primeiro embate, então, foi no sentido de que a decisão fosse conhecida por todos. Felizmente, prevaleceu o bom senso e aquilo que a maioria da populaçao desejava. No segundo escrutínio (manutenção da prisão), tivemos 59 votos favoráveis, diante da gravidade dos fatos. Era impossível não se manifestar favorável. Espero que o Delcídio faça sua defesa lá na frente, mas, no momento, não havia como ser diferente. A decisão da grande maioria não foi no sentido de punir este ou aquele. Quanto ao fato de votar contra um colega, é normal que, em qualquer sociedade, você acabe criando afeto. Mas eu tive que separar o Dalírio Beber da instituição Senado. Nessa hora, fala mais alto a nossa obrigação. Quem estava votando ali era o representante de 6,6 milhões de catarinenses. Não foi levada em conta a questão político-partidária. Ontem à noite não se queria derrotar ninguém, tanto que depois da votação houve um profundo silêncio. Foi um momento de frustração, de dor e tristeza. Saímos cabisbaixos, mas sabendo que nos manifestamos da maneira adequada. Queremos que tudo seja elucidado, para que, em seguida, venha um novo momento de prosperidade para o Brasil”.