A defesa do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) apresentou pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para cancelar seu depoimento no curso das investigações de corrupção envolvendo a Petrobras. O interrogatório está marcado pela Polícia Federal para o próximo dia 5 de maio, mas a defesa alega que o órgão “inverteu a ordem” das diligências previamente definidas pela Procuradoria Geral da República, que tem o comando dos inquéritos junto ao STF. É um reflexo do desentendimennto entre policiais federais e procuradores quanto ao ritmo da Operação Lava-Jato.

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Fernando Bezerra Coelho responde à investigação por suposto envolvimento no esquema de desvio de dinheiro na estatal petrolífera, que culminou nas 11 fases da Operação Lava-Jato. A acusação partiu do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em sua delação premiada.

Em depoimento dado em agosto do ano passado, Costa relatou que, em 2010, Bezerra Coelho pediu R$ 20 milhões para a campanha à reeleição do então governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto em 2014 . Na época, Bezerra Coelho era secretário de Desenvolvimento da administração de Campos. Ele nega as suspeitas.

No pedido feito ao STF, feito pelo advogado gaúcho André Luís Callegari, o senador pernambucano aponta supostas contradições entre a versão de Paulo Roberto e a de Alberto Youssef sobre o esquema de pagamento de propinas em obras da Refinaria Abreu e Lima. É dali que teria saído o dinheiro dado a Bezerra Coelho.

A desavença entre policiais federais e procuradores da República na Operação Lava-Jato atrapalhou as investigações relativa às suspeitas de envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobras.

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Ministro do STF suspende depoimentos em inquéritos sobre políticos

Para delegados, governo interfere nas operações da Polícia Federal

Os desentendimentos entre policiais e procuradores surgiram desde a abertura dos inquéritos a partir de autorização do Supremo, em março.

A queda de braço se intensificou quando procuradores telefonaram para parlamentares informando que os investigados não precisariam, necessariamente, depor na sede da Polícia Federal em Brasília. Poderiam optar por realizar a oitiva, por exemplo, na sede da Procuradoria-Geral da República.

A iniciativa de procurar diretamente os investigados incomodou integrantes da PF, o que levou a uma troca de telefonemas entre o diretor-geral do órgão, Leandro Daiello, e o procurador-geral Rodrigo Janot. O primeiro contato partiu do procurador, que teria relatado ao chefe da PF que políticos investigados pediram à sua equipe para serem ouvidos na procuradoria da República e não na sede da PF. Ou seja, sem a presença de policiais.

Em resposta, Janot ouviu que a polícia estava cumprindo uma decisão do STF e que qualquer alteração deveria ocorrer mediante consulta do procurador à Corte. Ocorre que ao averiguar por que razão os investigados não queriam mais depor para os delegados, a PF descobriu que era a PGR quem estava orientando os alvos, o que aprofundou a crise. Coube ao ministro José Eduardo Cardozo, titular da Justiça, a quem a PF é subordinada, tentar buscar o consenso. Na quinta-feira, 16, à noite, Cardozo conversou com Janot e Daiello separadamente. Após esse telefonema, a PF desistiu de divulgar nota a respeito da crise.

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Num outro ponto de desentendimento, a polícia teria pedido ao STF novas diligências a partir dos documentos analisados sem consultar previamente a procuradoria. Para os policiais, o estresse quanto a isso foi causado porque a procuradoria quer limitar as investigações e não teria como justificar a negativa de um pedido para avançar no inquérito. Já para os procuradores, a PF tomou a dianteira de forma indevida uma vez que o próprio ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, definiu na abertura dos inquéritos que o autor “incontestável” das investigações é o MPF.

Diante do impasse, a PGR encaminhou na terça-feira ao STF pedido para suspender depoimentos programados entre 15 e 17 de abril, o que foi atendido por Zavascki.