Cinco dias para lembrar detalhes enterrados em arquivos de uma época que o Brasil pode querer esquecer, mas não deve. Começa hoje a Semana Paulo Stuart Wright, que marca os 40 anos do desaparecimento do deputado estadual. Cassado pela ditadura militar em maio de 1964, Wright foi sequestrado no dia 4 de setembro de 1973 e conduzido ao Doi-Codi em São Paulo. Depois disso desapareceu. Até hoje seu corpo não foi encontrado.
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A semana concentrará uma série de eventos para homenagear a memória do catarinense, seu trabalho junto a comunidades carentes e suas ações de luta contra o regime militar. A principal atividade será a audiência pública para coleta de informações sobre o desaparecimento de Wright.
Vêm ao Estado o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, José Carlos Dias – que advogou para presos políticos durante os anos 1960 e 1970 e defendeu Wright à época – e Manoel Moraes, membro da Comissão da Verdade de Pernambuco, de onde surgiram as últimas pistas do paradeiro do corpo do político perseguido pela ditadura.
Há informações de um possível elo entre o desaparecimento de Wright e as mortes de outros dois militantes políticos da organização Ação Popular (AP): José Carlos Mata Machado e Gildo Moura Lacerda, ambos mortos em Recife (PE) em outubro de 1973, um mês após o sequestro do deputado catarinense cassado. Uma testemunha declarou à comissão pernambucana que o corpo de Mata Machado foi enterrado ao lado de Gildo e de um terceiro militante, sepultado sob o nome de Antônio Studart Right, no cemitério da Várzea em Recife.
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– A gente tem que saber a verdade, as circunstâncias das mortes. Precisamos contar essa história para as novas gerações saberem o que aconteceu. Eles têm que saber que a democracia custou muito caro. Custou a vida de muita gente – disse a coordenadora do Coletivo Catarinense de Memória, Verdade e Justiça, Derlei Catarina de Luca, que organiza a Semana.
Derlei foi colega de Wright na AP, aos 20 anos. Militou contra a ditadura militar até que, com o auxílio do deputado cassado, fugiu do país. Foi ele que a ajudou a atravessar a fronteiro para o Paraguai e depois para a Argentina e o Chile. Desde que retornou ao país, após a anistia, em 1979, ela trabalha nessa busca por informações do que ocorreu com seus colegas de militância.
– É minha responsabilidade. A gente sobrou viva por alguma coisa. Porque podia ter morrido também. E, se eu estivesse morta, ia querer que as pessoas soubessem porque eu morri.
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:: A ditadura na memória catarinense
Criada para auxiliar os trabalhos da comissão nacional, a Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright é parceira do coletivo na realização da semana, ao lado da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, e vai realizar uma audiência especial para ouvir as mulheres que foram presas políticas em Santa Catarina durante a ditadura. Sete mulheres estão confirmadas para dar seus depoimentos no evento agendado para a quinta-feira.
– Realmente é um trabalho complicado porque o tempo que passou conspira contra a intenção de buscar essa verdade – disse o coordenador do órgão, Naldi Otávio Teixeira.
Desde o início dos trabalhos, a comissão estadual reuniu mais de 20 mil documentos sobre o período e a intenção do grupo é conseguir disponibilizar todo esse conteúdo e os depoimentos já gravados em vídeo em uma plataforma online, para que seja um banco de informações permanente para consultas sobre as violações dos direitos humanos ocorridas durante o regime militar em Santa Catarina.
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