A Seleção Brasileira não é mais aquela. Em 2002, quando Felipão treinou o Brasil na Copa asiática e conquistou o pentacampeonato mundial, a chegada dos jogadores brasileiros a qualquer lugar era um acontecimento só igualado em fúria e fulgor ao aparecimento de algum astro de Hollywood.

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Para se ter ideia do prestígio da Seleção de outrora, num dia daquela Copa os japoneses atrasaram o Shinkansen, o seu improrrogável trem-bala, para esperar a entrada da delegação. Foram três minutos de atraso. Um escândalo, mas também uma façanha.

Agora, não. Agora, tudo mudou. Nesta segunda, quando a delegação brasileira chegou ao aeroporto de Heathrow, em Londres, aguardava-a uma surpresa desagradável. Eram 13h30min do horário britânico. Felipão, Murtosa, Paixão e os jogadores se dirigiram para a alfândega. O coronel Castelo Branco, responsável pela segurança da Seleção, chamou-os para um canto do saguão:

– Venham todos por aqui. Vamos passar direto, vamos passar direto.

Realmente, não é incomum a Seleção Brasileira cruzar barreiras de fronteira do mundo todo sem esperar um minuto. Mas não ontem. Não em Londres. Os policiais ingleses ordenaram que Felipão e seus comandados esperassem ao longo de uma parede do fundo do aeroporto e lá eles ficaram. Ficaram. Ficaram. Os passageiros “comuns” apresentavam seus passaportes, eram liberados e os jogadores da Seleção Brasileira, não.

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Dez, 15 minutos se passaram, e nada. Ronaldinho estava muito sério debaixo da sua boina. Uma brasileira pediu parar tirar foto com ele. Ele posou ao lado dela, mas não esboçou o seu famoso sorriso de dentes proeminentes. Continuou impávido. Quem não ficou impávido foi um dos policiais ingleses, que gritou que fotos não eram permitidas naquele local. A torcedora pediu desculpas, mas ele só se acalmou quando ela deletou a foto. Outro torcedor tentou fotografar Luiz Felipe com seu celular, e também ele teve de apagar a imagem.

Felipão, ao contrário de Ronaldinho, estava muito calmo, muito sorridente. Era ele o mais assediado do grupo. Nenhum jogador, nem Neymar, foi tão cumprimentado pelos torcedores. A espera dos astros brasileiros continuou por mais cinco minutos, fazendo com que os brasileiros que esperavam na fila comentassem:

– O Brasil está sem moral…

Então, a delegação foi liberada. Passaram Fred, Ronaldinho (que enfim sorriu para a funcionária que carimbou seu passaporte), Arouca, Luis Fabiano, Neymar, Paulinho, Jean e os membros da comissão técnica. Menos um. O preparador de goleiros, Carlos Prassideli, ficou retido. Luiz Felipe disse que havia um foragido com os mesmos nome e data de nascimento do seu assessor, mas, depois, Prassideli explicou que houve problema com o seu visto, emitido nos tempos em que trabalhava no Chelsea. Ele acabou sendo liberado, mas ficou a imagem melancólica de Luiz Felipe, Murtosa e Paixão esperando do outro lado do balcão, todos entre surpresos e desamparados, sem que surgisse alguém da CBF para ajudá-los.

Para arrematar, o ônibus azul da delegação brasileira atravessou a capital inglesa e chegou ao Hilton Hotel de Wembley sem nenhum espalhafato e nenhuma recepção festiva. Os jogadores do Brasil foram para os seus quartos, e depois para o chamado “treino regenerativo”, sem que ninguém os incomodasse. Nem parecia a Seleção. E talvez só volte a se parecer com o que um dia foi depois do jogo desta quarta, contra o English Team. Ou talvez não.

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