O período de 2019 sem fiscalização de velocidade com radares móveis nas rodovias federais (BRs) fez o número de acidentes — e também de mortos e feridos — nas estradas brasileiras voltar a crescer. Em abril o governo federal suspendeu a instalação de novos radares fixos nas rodovias e, em 15 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro pediu a suspensão do uso de radares móveis por parte da Polícia Rodoviária Federal. Agora, uma decisão judicial mandou o governo retomar a fiscalização a partir da próxima segunda-feira (23).
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Dados da PRF compilados pela instituição SOS Estradas mostram que exatamente nos meses de baixa da fiscalização a violência nas rodovias aumentou. Nacionalmente, caiu drasticamente o volume de multas por excesso de velocidade, mas o número de acidentes, mortos e feridos aumentou. Somente em Santa Catarina, conforme o levantamento, o número de multas aplicadas no mês de setembro caiu 2800%. A variação é gigantesca: 19,4 mil multas aplicadas em setembro do ano passado contra 656 em setembro de 2019.
Com base nos dados nacionais a reportagem do NSC Total consultou o volume de acidentes nas rodovias federais em Santa Catarina no mesmo período. Comparando o dado mais recente, relativo ao mês de outubro de 2019, o número de acidentes em SC cresceu 20,4% em relação ao ano passado. No mesmo período o número de mortes nas BRs subiu 11%.
Os números deixam clara a diferença entre os meses com fiscalização e o período sem radares. Seguindo o ritmo do Brasil inteiro, no primeiro trimestre Santa Catarina estava com números positivos em 2019, com uma redução de acidentes nas BRs de aproximadamente 30%. Em abril, quando a política do governo federal começa a mudar, a estatística vira e o número de acidentes passa a aumentar. A partir de agosto, quando a fiscalização com radares móveis é suspensa (deixando apenas os radares fixos em funcionamento), o crescimento ganha proporções maiores e atinge o pico de 20% em outubro, com 773 acidentes em 2019 contra 615 em 2018.
Coordenador do Movimento Maio Amarelo de segurança no trânsito em Santa Catarina, Fabio Campos comemora a retomada da fiscalização a partir da decisão da Justiça. Para o educador de trânsito, a decisão do governo Bolsonaro foi equivocada desde o começo:
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— A fiscalização não deveria nem ter saído, deveria até ter mais. Com certeza o grande prejuízo desse período foram as mortes. Tem o dano material, mas o de ser humanos não tem preço. O nosso motorista hoje não está educado o suficiente para fazer o que a gente busca, que é o comportamento seguro no trânsito. Realmente tem que ter a fiscalização — avalia Campos.
A justificativa de Bolsonaro para a suspensão dos radares foi a suposta "indústria da multa". Para o presidente, a fiscalização estava perdendo o caráter pedagógico e tinha fim "meramente arrecadatório". O educador de trânsito Fabio Campos afirma que o caminho é o contrário:
— O número alto de fiscalizações indica que os nossos motoristas não estão atentos às placas. Todo radar tem uma regulamentação, com a placa de velocidade ali. Não tem indústria da multa, tanto que na maioria das infrações o motorista nem entra com recurso, e quando entra alega só que não viu o radar.