A médica Ana Goretti Kalume Maranhão é coordenadora-substituta do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. Para ela, os vacinadores são “verdadeiros heróis” e, sem eles o serviço de imunização no país não teria alcançado os índices de sucesso. Especialista em pediatria, ela acompanha os avanços desde que o Programa de Imunização Nacional (PIN) surgiu, em 1973.

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O PNI, referência internacional de política pública de saúde, deve muito aos mais de 80 mil vacinadores. Em contato com os moradores na selva, nos pequenos municípios ou mesmo na periferia das grandes cidades, são eles que recebem – ou vão atrás – de brasileiros vulneráveis. No momento em que o país se assusta com o retrocesso em termos de imunização, com o retorno de doenças já erradicadas por meio de vacinação, o trabalho dedicado destes profissionais ganha ainda maior relevância.

– Sem eles a coisa não anda: o sucesso da imunização em nosso país se deve ao trabalho dos vacinadores – diz a médica Maria Goretti.

Confira a entrevista:

Quantas salas de vacinas públicas existem e quantos vacinadores em território nacional?

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O país tem hoje 36.652 salas de vacinação e 82.300 vacinadores que atuam na rede pública. Em campanhas, como da Influenza, aumentamos o número de profissionais e os locais de vacinação chegaram a 95 mil postos.

Qual a avaliação do papel dos vacinadores?

A vacina é um bem necessário, mas quando criança a gente tem medo da picada da injeção. Até mesmo os adultos. Por isso, a gente entende que os vacinadores são muito importantes por estarem na comunidade básica de saúde, atendendo as pessoas, como os pais e os seus filhos, com gente que conhece. São esses profissionais que orientam as pessoas, que sabem onde elas moram, que conhecem quem está em falta com a caderneta, identificam aqueles que por algum motivo não podem vir. É um trabalho de muita dedicação e cuidado com as pessoas.

Essa dedicação ajuda a minimizar as dificuldades?

Sim. Há muita dificuldade de acesso das pessoas aos locais de vacinação, pois as unidades de saúde só abrem em horário comercial e muitas mulheres trabalham. Se as pessoas forem até os lugares e não encontrarem um profissional comprometido e que não saiba cativar, torna-se muito difícil. O sucesso da imunização em nosso país se deve ao trabalho dos vacinadores. Sem isso, a coisa não anda.

O Ministério da Saúde tem investido no aprimoramento profissional das equipes? De que forma?

Em função do grande número de profissionais, o ministério faz cursos específicos para treinar multiplicadores nas regiões. Por causa da descentralização, o treinamento é responsabilidade estadual e dos municípios. Mas toda a outra parte, inclusive o fornecimento das doses, é com o ministério, assim como a coordenação de várias iniciativas. Cabe a nós disponibilizarmos recursos humanos e bem preparados.

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Se tomarmos por base a linha da evolução da vacina se percebe o quanto o país avançou. O que fazer para evitar retrocessos como o retorno de doenças antes erradicadas?

Esse é um problema que tem vários motivos: dificuldade para acessar as unidades (especialmente em lugares mais isolados); médicos mais jovens que por não conviveram com doenças como a poliomielite, por exemplo, não incentivam as mães; alguns grupos contra a vacina que, apesar de numericamente poucos no país, fazem um estrago muito grande.

Como enfrentar isso?

Temos parcerias importantes com a comunidade científica em áreas como pediatria, obstetrícia, infectologia. Queremos que esses segmentos repassem informações corretas e atualizadas para seus associados sobre a importância da imunização. Imunizar é dar saúde à sociedade.

Nesta questão especificamente cresce a importância do trabalho dos vacinadores?

Eu acho que o vacinador é uma peça muito importante, mas ele sozinho não conseguirá. A gente tem uma série de questões que levam a esse quadro de baixa cobertura vacinal no país. Estamos discutindo com gestores municipais e estaduais no sentido de ampliar os horários de atendimento, abrir num sábado por mês, pois nem todas as mães conseguem ir até a unidade.

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Está faltando informação?

Tem a questão da qualificação dos profissionais que trabalham com imunização. Esses são fundamentais para passar as informações. Estamos vendo que muitos desses, inclusive médicos mais jovens que por não terem convivido com certas doenças como não ter visto sarampo na vida leva a uma despreocupação perigosa no sentido de não orientar as famílias para vacinar. Também as mães, acham que é muito vacina, até o primeiro ano de vida são quase dez. Mas são fundamentais, pois é o meio de proteger e isso precisa ser entendido.

Existem também notícias falsas sobre efeitos da vacina que assustam as pessoas.

Sim. Apesar de serem pequenos em termos de número no país, esses grupos que são contra a vacina fazem um estrago danado ao publicar notícias equivocadas, sem nenhum cunho científico. Isso assusta muito as pessoas.

Como cada um pode ajudar?

Vacinação não é só responsabilidade do setor saúde, mas de toda a sociedade: da escola, das empresas, das indústrias. Estamos pedindo a esses setores que ajudem também. Um empregador, ao contratar deve pedir a caderneta de vacinação para ver se está em dia. Afinal, empregado saudável rende mais, vai faltar menos, corre menos risco de adoecer.

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