Diogo Nogueira é um artista esperto. Aproveitou o convite para participar da Feira Internacional de Havana, no Teatro Karl Marx, em 1º de setembro de 2011, e fez um show. Tinha na memória algo inusitado, o de ter aprendido a dança salsa para um quadro da Dança dos Famosos, no Domingão do Faustão. Além, claro, de ter crescido ouvindo que seu pai, o bom e velho João Nogueira, era apaixonado pelos comunistas Fidel Castro e Che Guevara.

Continua depois da publicidade

Da apresentação sob desfraldadas bandeiras de Cuba e do Brasil no alto do palco, o carioca de 31 anos fez um CD e um DVD sem nada de autoral no repertório. Também sem novidades para o público que acompanha a carreira do cantor, que tomou um drible de uma lesão e teve que trocar os campos de futebol pelos palcos.

As faixas são conhecidas – Tanta Saudade (Djavan/ Chico Buarque), Que Maravilha (Toquinho/Jorge Ben Jor), Madalena (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro), O Que É, O Que É (Gonzaguinha), Coração em Desalinho (Monarco/Ratinho), Deixa a Vida me Levar (Eri do Cais/Serginho Meriti), Vou Festejar (Jorge Aragão/ Neoci Dias/ Dida), Acreditar (Dona Ivone Lara/Delcio Carvalho). As mais românticas são como Verdade Chinesa (Carlos Colla/Gilson), Ex-Amor (Martinho da Vila) e Deixa Eu te Amar (Mauro Silva/ Camilo, Agepê).

Diogo, que declarou não haver estratégica de marketing da gravadora nesse trabalho, convidou o grupo local Los Van Van para apresentar El Cuarto de Tula, gravada no CD do Buena Vista Social Clube. Algumas participações esquentam o clima no palco, como os bailarinos e a entrada de um casal de mestre-sala e porta-bandeira da azul e branco de Madureira, quando canta Portela na Avenida. Vale lembrar que Diogo Nogueira tem quatro vitórias consecutivas no concurso de sambas-enredos da Portela, desde 2007, quando lançou o primeiro disco.

Continua depois da publicidade

Desde então, vendeu 400 mil cópias – entre CDs e DVDs-, emplacou sete canções em novelas, um Grammy Latino de melhor álbum de samba e um programa como apresentador na TV Brasil, Samba na Gamboa. Tem ainda o Sambabook João Nogueira, projeto com Blu-Ray, DVD, dois CDs, livro e um fichário com 60 partituras.

Diogo Nogueira Ao Vivo em Cuba inclui um doc.show com imagens do cantor passeando por Havana e em contato com os artistas locais e público pelas ruas da cidade. Incluiu também coisas que aconteceram no palco, como a calorosa recepção dos brasileiros e cubanos. O cantor gostou tanto da experiência que pretende repeti-la em outros países, considerados também musicalmente fascinantes, como Cabo Verde e Moçambique.

Opinião DC:

Para ver o músico Diogo Nogueira, deveríamos ser cegos. Isso porque, ao enxergar aquele moreno de olhos azuis, pele tatuada e voz macia vestindo branco e chapéu de malandro sambando ou dançando salsa no palco, o achamos bonito, charmoso e gostosão. Eis a armadilha. Podemos achar que ele e o espetáculo são bons por tudo isso. Ou, então, deveríamos isolar a memória e, com isso, não se deixar surpreender por comparações do tipo “sou mais o pai dele, o João Nogueira”. Buscar isso pode ser tão emblemático como uma resposta a pergunta sobre se Fidel e Che Guevara fizeram bem ou mal para os cubanos. Pode-se avaliar. Desde que se considere as diferenças do tempo.

Continua depois da publicidade