O Paraguai escolhe seu novo presidente neste domingo sem dois componentes que marcaram a política no país: o luguismo e o oviedismo.
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O panorama, agora, envolve caras novas, altas doses de polêmica e uma disputa renhida.
O luguismo foi enterrado em junho com a destituição relâmpago do ex-bispo Fernando Lugo da presidência. Com ele, a esquerda se esfacelou. Lugo deve se eleger senador, mas o candidato que apoia tem menos de 2% das intenções de voto. O oviedismo, por sua vez, minguou com o acidente aéreo que matou em fevereiro o general Lino Oviedo, figura histórica da extrema direita e que vinha em terceiro no páreo.
Quem está com um pé no Palácio de López, no entanto, é um velho conhecido dos paraguaios: o Partido Colorado, que governou durante 61 anos. Seu desafio é vencer o ex-ministro de Obras e Comunicações Efraím Alegre, aliado de Federico Franco, o vice que assumiu a presidência.
Empresário novato na política é o favorito
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E é dos colorados o nome que sacode a eleição. Para afastar as teias de aranha do partido, eles lançaram Horacio Cartes, 56 anos, estreante na política e um dos homens mais ricos, poderosos e controversos do país. As pesquisas apontam de 2 a 14 pontos de vantagem sobre Alegre, em uma campanha pontuada por acusações de ligação com contrabando, narcotráfico e evasão fiscal. O carisma e popularidade de Cartes (ele preside o Libertad, atual campeão paraguaio de futebol) superaram dúvidas sobre seu currículo.
– É como já dizia Luis María Argaña (colorado assassinado em 1999): “não importa que seja o Pato Donald, mas é o candidato do Partido Colorado” – observa Edwin Brítez, um dos principais analistas políticos do país e jornalista do ABC Color, referindo-se à fama dos colorados em se manter unidos em torno de quem quer que seja.
Alegre, que militou contra a ditadura de Stroessner (1954-1989), apresenta-se como inimigo das máfias.
– Nos concentramos em confrontar o passado dos dois. Em mostrar que Cartes tem vínculos obscuros – disse à ZH o coordenador geral da campanha de Alegre, Rubén Ocampos.
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Mas o toque nada usual da eleição se dá por conta do casamento gay. Um posicionamento de Cartes ganhou as páginas do The New York Times:
– Daria um tiro nos próprios testículos se meu filho fosse gay.
Mercosul, brasiguaios e Itaipu na pauta
Apesar de ser marcado pela corrupção, pela pirataria e pela impunidade e conhecido como o segundo maior produtor mundial de maconha e entreposto da cocaína boliviana, o Paraguai vive um salto econômico, com previsão de crescer 13% este ano. E, diante dessa perspectiva, Horacio Cartes e Efraín Alegre adotam discursos semelhantes de aproveitar o momento para atrair empregos.
Mesmo em lados opostos, os dois candidatos não representam mudanças ideológicas ou econômicas significativas. E dependerão de composições e acordos entre os grupos no Congresso para governar. Como elemento adicional, a esquerda está fragmentada na disputa presidencial, mas a previsão é de que ganhe espaço no legislativo.
Ambos também mantêm a visão de que o país deve reingressar no Mercosul e na Unasul depois de ter sido suspenso em razão do impeachment de Fernando Lugo.
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No campo, onde estão concentrados os interesses dos brasiguaios – cerca de 300 mil brasileiros radicados no Paraguai -, ambos significariam a manutenção da política de Federico Franco, que adotou intolerância às invasões. O Paraguai é o quarto maior exportador de soja do mundo, o 10º de carne.
– Os dois candidatos já deram mostras de apoio aos brasiguaios. O Partido Colorado é tradicionalmente mais ligado ao Brasil e aos brasiguaios, que cresceram sob proteção do Partido Colorado – observa Wagner Enis Weber, do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar).
Em relação ao Brasil, a incógnita é Itaipu, da qual o Paraguai tem direito à metadade da energia gerada, mas só utiliza 5%. Assim como Franco, Alegre deve levar adiante a contestação dos valores pagos pelo excedente.
O governo do Paraguai contratou o renomado consultor Jeffrey Sachs, que teria assegurado que o Paraguai poderia reclamar ao Brasil a devolução de US$ 5,3 bilhões por Itaipu, segundo a imprensa local. No entanto, o governo diz que o estudo não foi apresentado na totalidade. Já Cartes poderia, segundo analistas, adotar um tom menos contestador, diante da legitimidade internacional que teria que conquistar pela condição opaca de seu passado.
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