No primeiro papo, Mario Spaniol, o energético fundador e presidente da grife Carmen Steffens, pode parecer um tanto megalomaníaco. Mas uma olhada para os números da grife-desejo que vende sapatos, bolsas e roupas para mulheres poderosas (definição dele) garante que o sonho grande tem razão de ser: em apenas 24 anos, a marca abriu mais de 500 lojas em 18 países. A previsão para 2030, portanto, segue superlativa:

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– Em 15 anos queremos ser uma das 50 marcas mais importante do mundo. Já estamos entre as 250. Em 2030 quero duas mil lojas em 50 países – garanteSpaniol.

Confira galeria de celebridades que já usaram Carmen Steffens.

Direto e profundo conhecedor do segmento em que atua, o empresário de 60 anos conta de um só fôlego sobre seu início: começou aos 15 trabalhando em fábrica de bolsas e malas em Novo Hamburgo para aos 20 abrir empresa de equipamentos e produtos para couro. Oito anos depois, em 1983, já em Franca, polo calçadista do interior paulista, montou o curtume, que viria a produzir matéria-prima para grandes marcas e de onde sai hoje 65% do couro usada nas bolsas e sapatos da grife. Mas mesmo com o sucesso do curtume, o empresário se sentia frustrado.

– Exportávamos para grandes marcas como Gucci América, Timberland e Hugo Boss, mas eu era um cara frustrado porque pensava: ¿eu exporto couro para as melhores marcas do mundo mas só eu e mais oito amigos sabemos disso. Eu preciso ter uma marca¿.

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Em 1990, uma temporada na Itália permitiu que o gaúcho conhecesse linhas de produção de gigantes como Prada e Gucci, visitando fábricas e se inspirando em filosofias de criação e processos de distribuição.

– Pensei o seguinte: ¿o Brasil tem seis mil fábricas de sapatos, vou fazer uma diferente, como as dos italianos, com alta flexibilidade de produção para fazer pequenos volumes e garantir exclusividade¿. Levei cinco anos para desenvolver o projeto, perdi US$ 5 milhões nessa brincadeira. Mas sempre pensava: ¿não posso ser derrotado em um negócio que tem o nome da minha mãe¿ – relembra.

No papo com a coluna por telefone, Spaniol fala sobre a fábrica em Criciúma, os planos de expansão em Santa Catarina e a crise.

Linha de produção

Quando abrimos, o pessoal no Brasil era preocupado em grandes produções massificadas. Trouxemos da Itália um sistema que foi criado originalmente na BMW, onde qualquer série de carro podia ser feita na mesma linha de montagem. Hoje produzimos de dois a três mil pares do mesmo sapato que vai para 18 países. É quase impossível uma mulher encontrar outra com o mesmo produto. Enquanto a Michael Kors produz um milhão de bolsas do mesmo modelo, nós produzimos 800 que vão para 18 países. Toda a nossa produção é em células, o que garante a exclusividade.

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Fábrica em Criciúma

A gente fez uma pesquisa e concluiu que Criciúma, com uma mão de obra especializada que vêm se qualificando há 30 anos, era o lugar certo para nós abrimos a fábrica de roupas, inaugurada em 2014 com investimento de cerca de R$ 2,5 milhão. Do total de quatro mil peças de roupas que produzimos por dia, 2,5 mil são feitas lá por 120 funcionários diretos e outros tantos indiretos.

Expansão no SC

A região Sul foi onde mais crescemos nos últimos três anos. Agora estamos focados em expandir em Santa Catarina. No Beiramar Shopping, em Florianópolis, queremos abrir a CS Club (loja especializada na linha de básicos), nós também compramos a loja ao lado da nossa e vamos crescer e fazer uma Concept e além disso vamos abrir uma Premium (bolsas e sapatos) também. Serão três lojas no Beiramar. No Iguatemi vamos ter uma Maison (roupas). No Itaguaçu, onde já temos uma Concept (bolsas, sapatos e roupas), vamos abrir uma Club. Em Floripa logo serão seis lojas. Em Balneário Camboriú vamos fechar a loja de rua e ir para o shopping, em Blumenau vamos abrir mais uma, a Club; em Joiville, onde já temos duas lojas, vamos abrir mais uma, assim como em Chapecó. Quando inaugurar o shopping de Criciúma (Nações Shopping) vamos abrir logo duas.

Crise

A crise é uma oportunidade para os ótimos e um fim para os ruins. O Grupo Arezzo e nós estamos concentrando o mercado, os demais estão perdendo. Abrimos 100 lojas esse ano e vamos abrir mais 100 no ano que vem. Nossa estrutura de fabricação ajuda: 65% da matéria-prima que eu uso nós fabricamos e 95% dos produtos vendidos nas loja nós fabricamos. Essa verticalização nos dá três vantagens: mais produtos pelo mesmo preço, entrega pontual e 11 coleções por ano com novidade todo mês em loja. Não sei o quanto vou crescer até o final do ano, mas até 30 de junho nós crescemos 23,75%. No mínimo 20% nós vamos crescer. E se nós crescemos tanto em um ano como esse é porque alguém perdeu mercado. É o que eu digo: se tem 10 pessoas correndo de um leão, quem o leão vai comer primeiro? Os piores.

Internacionalização

O projeto começou em 2000 e durante cinco anos nós fizemos um monte de besteira e pagamos muito caro por isso. Mas aprendemos, e a partir de 2006 nós montamos uma estratégia: em 2020 nós vamos estar nas 50 cidades mais importantes do mundo para fazer o que grandes marcas como Louis Vuitton e Dior fizeram: tornar a marca notória no mundo através dessas 50 cidades. Já estamos em Las Vegas, Los Angeles e Orlando. Estamos entrando em Miami, Houston, Dallas e Atlanta. Esse ano participamos do NY Fashion Week. Tudo para difundir a marca mundo afora.

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Sonhos

Em 15 anos queremos ser uma das 50 marcas mais importantes do mundo. É uma briga difícil, mas a gente tem que sonhar. Correndo atrás do sonho é que a gente chega muito perto ou até realiza. O segundo sonho é perpetuar a empresa: 10% das ações vão ser da Fundação Carmen Steffens, formada por funcionários. Os executivos também serão todos nomeados por um comitê de gestão que a empresa tem, onde a família participa por competência e não porque é sócia. Tenho quatro filhos, dois já não estão na empresa e outros dois estão sendo preparados. Vai ser presidente quem tiver competência para ser, seja executivo ou familiar. A empresa tem que ser mais importante do que a vaidade.