Rosalino Farias nasceu em 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Lapa, a padroeira da Freguesia do Ribeirão da Ilha. Foi suficiente para que a mãe tomasse uma decisão que, por gerações, segue animando as conversas: introduziu o “Lapagesse” no sobrenome do menino. Até hoje ninguém sabe como ela conseguiu o feito. Mas a vida de Lapa, já que Lapagesse era mais complicado para pronunciar, se faria como tarefeiro da Marinha do Brasil. Foi por 32 anos assim, entre um porto e outro, gafieiras, salões e passarelas.

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Depois de anos morando fora, Lapa retornou com a família para Florianópolis. Aqui, encontrou um precioso tempo para fazer o que mais gostava, dedicar-se ao Carnaval. Por alguma divergência não muito esclarecida, o coração copalordeano se entregou aos braços da Princesa. Foi na mais antiga das escolas de samba de Florianópolis, fundada em 1948, que Lapa transformou-se num dos mais marcantes sambistas da cidade. 

– Nada lembra tanto a figura do meu pai, o Lapa, como o chapéu que ele usava, especialmente nas apresentações do Grupo Musical. Fui para a Velha-Guarda por causa dele, e agora, com sua morte, herdei algumas roupas, e este chapéu – conta o filho mais velho, Willian Lapagesse Farias.

Lapa entendia do riscado. Dançava com maestria. Também cantava bem, e isso o colocou no Grupo Musical da Velha-Guarda. Participou na Consulado, enquanto bloco, e folião no Marisco da Maria. 

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– O pai foi o nosso Uber de ontem: quando a gente era mais jovem, ele nos levava e pegava nas festas e clubes. Muitas vezes, era ele que nos incentivava a sair para dançar – conta Willian.

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O jeito de se colocar à disposição para ajudar é uma das marcas deixadas, reconhece a amiga Eli de Souza Neves, a Lica, dirigente da Velha-Guarda. Ele esteve presente desde o começo, em 2000, e chegou a ser vice-presidente. Um fundador ativo, e que levava na costureira, fazia compras para eventos, ajudava na cozinha. 

– Lapa era muito intenso. A morte dele deixa a gente muito triste, pois como ele mesmo dizia, nossa família do samba muitas vezes é mais presente do que a de sangue. 

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Lapa esteve hospitalizado por Covid-19 e chegou a receber alta do hospital. Mas três dias depois passou mal. A ambulância chegou rápido, mas as massagens no peito foram insuficientes para reanimar o coração do velho sambista. Além da perda, familiares e amigos não puderam fazer um gurufim para Lapa, velório de sambista, onde se bebe, comenta-se sobre coisas e passagens do finado. Devido à pandemia, as cerimônias são restritas.

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Talvez Lica explique com uma frase curta o impacto da pandemia sobre as pessoas do samba, especialmente às da Velha-Guarda, que devido à idade são as mais vulneráveis ao coronavírus: 

– Está faltando uma coisa na gente.

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